FABIANO SANTOS SOUSA
TEMPOS
FELIZES
Ou
O
SINCRONISMO DO MUNDO
“Atribui-se a cada coisa sua respectiva
importância e começa-se a aprender a ser justo”
Fss
à
Danielle
(Deus
sabe por quê.)
A ÚLTIMA POESIA
Versos cantados, versos errados
que passam por críticas e censura prévia
versos perdidos, ou ultrapassados
carregam a frustração de uma esperança férvida
Versos reais, versos ilusórios
imortalizados, ou nunca conhecidos
versos de humor, versos de toda uma vida
em muito menos que isso são esquecidos
Versos mentindo, buscando atenção
servindo uma vida, fazendo-se armas
versos revelando o seu próprio ser
vão superando quem está a escrever
e já têm um corpo, uma mente, uma alma
Versos que brincam com as emoções
sabem ser frios mesmo ao falarem de amor
fora da difícil arte do sentido,
feitos não para serem entendidos,
mas fazem sorrir, aliviam a dor
PERGUNTASTE POR MIM
Perguntaste por mim;
enchendo minh’alma de sorriso e desejo
Perguntaste por mim;
consolando minha dor por quando não te vejo
O quanto quiseres sempre hei de estar contigo...
Ah! Como amigo...
Perguntaste por mim
longe e aquém, em minha memória
Perguntaste por mim
ser tua lembrança é meu sonho, minha glória
Além estar contigo na alegria e no perigo
Ah! Como amigo...
Perguntaste por mim
Eu, templo onde reina teu semblante no horizonte
Perguntaste por mim
do êxtase do meu ser, a mais prima fonte
Sou todo devoção, servidão sem castigo
Ah! Como amigo...
Perguntaste por mim
com carinho, com ternura, com fiel preocupação
Perguntaste por mim
Devo estar feliz por me teres no coração
e aceitar minha sina que o que vale é estar contigo
Ah! Como amigo...
A TEORIA DA INDIVIDUALIDADE
Não são palavras que geram reviravoltas
Nem teorias
Não somos nós que outorgamos a nossa vida
Não há plurais
Inexistem pessoas
Toda condição emana de um ponto.
Toda vida é uma e única
Da mesma fonte oriunda
Onde vive toda a força
Por isso nada supera o afã
E só o limite limita.
Os acontecimentos são maleáveis
O presente sempre é amorfo
Não vivemos em função do que sentimos
Mas do que sentiremos em tempo futuro.
As necessidades reles se evidenciam
As vitalidades serão sempre sutis
O resto é ensejo latente
Enrustido, disfarçado de sapiência.
Fértil é o presente
Cada ato atual em emersão
é o impulso de asseguração da existência
A vida é a existência
E olhos cansados não vêem além.
SEM MÁCULA
À Dani M
Foste minha amiga, ou o amor de minha vida?
Não, não quero saber de nada antes que anoiteça
Tocas-te-me apenas porque és mulher
Ou uma força eterna e sem concessão?
Porque não é o ser mulher, ou ser homem, mas ser gente
Ser assaz indulgente com a figura do mundo
O espelho que estampa toda a Natureza
Na boca em que como canto ressoa o meu nome
E não há de ficar em nossa história
A mácula que remata todas as histórias
A VOZ DA POESIA
A voz da poesia
Não é o “bom dia”
Nem o som do Sol
Não ecoa sinfonia
Pela brisa fria
Ou o arrebol
A textura da poesia
É a liberdade
E a invenção
A surreal filosofia
A vital necessidade
Da inovação
Se livre, ou se rimaria
Se soneto, copla,
décima, ou estrombote
Se alegra ou arredia
Se afaga
Ou se dá o bote
A voz da poesia
A superfície, a tinta
E um ideal
De fonte jamais vazia
Emerge distinta
Ressoa natural
EU TE AMO
Eu te amo, eu te amo, eu te amo
Preciso dizer; e daí?
Não me importa se verão como uma arma
Não me importa se verão o que não vejo
Ou se verão além de mim
Eu te amo
E que não se ouse questionar a minha evasão
O fato é que o amor me integra
E amar me entrega
Talvez soasse melhor apenas “eu amo”
Se o “eu” não
fosse solúvel no ar
Eu te amo
Já não posso cessar de dizer
É por isso que sofro
E que deveras creio na felicidade
Eu te amo, eu te amo, eu te amo
E esta certeza me basta
CORDA-BAMBA: TRAVESSIA DE CEGOS
Bom dia, luzes; ares do mundo!
Boa noite, noite do subterfúgio
Bom dia, relvas, ares poéticos
Alô, poetas do baço mundo!
Bom dia, príncipes e genitores
Saudações lânguidas aos jovens lampeiros
Olá malucos ou apenas cômicos
Um bom dia triste para os taciturnos
Bom dia, sombras de fiel repouso
Flores efêmeras, bom dia, flores
Todos os símbolos pra se divagar
Congratulações, meu caro sapo
Como vai a ninhada, senhor gato?
Bom dia, insetos, vermes e vírus
Todos os demais organismos
Préstimos meus às damas virgens
Paz a todas as mulheres do mundo
Queridas crianças, bom dia
Também à insidiosa juventude
Plebeus, pobres, tenham um bom dia
Que só o dia seja o mesmo
Bom dia, sereias, bruxas e vampiros
“Hello” a todos os
de ‘Halloween’
Apelos da cultura popular de massa
Gorbatchov, Pelé, Frank Sinatra
Tarados, infanticidas
Sociopatas fiéis
Igrejas Universais
Bom dia, talentos e vergonhas do Brasil
O que ainda esperam
Os que ainda esperam
Esqueçam
Simples congratulações a todos!
ALUSÃO DE SÍMBOLOS
Outrora foi tempo de dizer palavras frívolas
De apreciar mágoas, cicatrizar com dor
Já foi o tempo de desdenhar das amizades
De caminhar no escuro por antipatizar com a luz
Outrora foi todo o tempo dedicado aos lamentos
Dos gestos apáticos, dos julgamentos ressabiados
Da busca desmedida pela felicidade fácil
Sem reflexão ou sentido
Agora é tempo de amar e respeitar
De dar voz aos desejos e dar vez aos sonhos
Hoje é o Sol
Transcendendo as nuvens
DEVORADOR DE FRONTEIRAS
Sou uma máquina
Apontam-me todos os meus instintos
Sou máquina
As estradas do mundo são relativas a isso
A raiva impulsiona o meu debandar
O medo me desacelera
Transito em mil direções
Rodo como roda o mundo
Sou máquina
Um complexo plexo dirigível
Transporto tragédias e paisagens
E caminho sempre para o mar
Indecifrável explicação
“Eu-máquina”
Em eterna carona pelo mundo
O QUE É
Serve-me, mas não me basta
A Liberdade
É o ego
Concomitante com a minha sanidade
Se me ocupo das rimas, rimo
Teço ética da estrutura poética
Transmutando do mar para o rio, rio
E mais rio quando toda a paz do dia irradia
Vem a expectativa e me cativa
De toda a sorte imaginada resta quase o nada
Reclamações são as ações
E depressão é a pior pressão
Até celebrar mais uma festa; esta
O olhar vago à revelia tudo lia
Agradecendo sendo
Agradecer ser
SÓ O QUE VALE É SABER
Saibas neste curto tempo
Que sou só mais um que te amaria se quisesses
Mas não importa
Só o que vale é saber
LEITE EM PÓ INTEGRAL
O que sabemos do amor?
Não do sexo do amor
Que variavelmente fazemos
Arrebatados e apossados por sua persuasão
O amor é invariável
Independente sem dependência, expansivo sem possessão
Composição única de compreensão difícil
Só sabemos do amor que amar é bom...
BELEZA
Uma beleza divinal desceu do espaço
parou nos teus olhos, iluminou-os
prosseguiu e desaguou em curvas
repousou sob os teus pés e te sustenta
Alegrou-me
Preencheu-me
Transitando em um só sentido cobriu todas as minhas vias
Alimentou para sempre minha mente e meu coração
Se há fome de beleza, és o que sacia
SUCO DE FERRUGEM
Espírito pobre
Sem grandeza, só símbolo
Importância questionável
Olhando para haver
Seu olhar espelhado sobre o mundo
Um pássaro branco veloz no infinito
No céu retilíneo como um Demóstenes convicto
Prantos prontos, encantos em cantos
O dia, a vida, o tempo
Dimensões artificiais em um televisor
As estrelas e a galáxia, o são e o absurdo
Substâncias com ou sem essência
O mundo aprisionado em minha janela
E eu aprisionado na janela que não é minha
Esse “refrescola” há
tempos não é o mesmo
Talvez O2 sobre o
seu ferro
Talvez conservantes sobre a minha língua
Somente à janela empresto atenção
Passa o caminhão de lixo
Os lixeiros carregam o conteúdo das latas dos restaurantes
Sem pedir autorização a ninguém
É a Rotina
Aqui é quem mais passa
Essa velhinha reumática
Que mora atrás das janelas
CRISE DE DEPRESSÃO (hoje virtual)
EVENTUAL
Vejo
Claramente visualizo
Não é um vulto; é concreto
Não há nada me sombreando o olhar
Nem nublando a minha percepção
É um elo
Absurdo de tanta certeza
Faz tenebroso o ar
O ensejo cruel do instinto
O lúgubre faz-se soturno
E mais pesa
Agora, a dor que passa sorri
Cheia de bondade e ternura
“Oi, querido! Que bom ver você!
Só que foda-se se você me ama...”
O amor que trai
A amizade que atrai
A diferença é pouca
Mas é muito mais
Pobre de mim se não vejo
É muito mais
Apenas o elo
O ponto limite
A dor satírica, sorridente
É obvio que minha mágoa é mais do
que te ver
Nos braços dele
Difícil é acreditar no que digo
A voz poética é encantada
E é triste se pra ela ninguém
liga
(não posso me derrubar
sozinho)
Mas não sou tão radical ao fugir
da essência
Misticismos, faltas, vaidades
Não há ser o tempo inteiro
integral
Sei, todavia, que a penumbra
passa como brisa
Que o ‘eu profundo’ se expande como Sol
Que os misticismos irrompem como
a névoa
Que as faltas submetem-se como a
sede
E à água sucumbem
Também sei que vaidades cansam
Brevemente se esvaem
A vontade da nau
Desafia pouco o capitão
E o ensejo do capitão
É o destino da
Nau
Alô. Olá! Oi. Hey! Falou! Yeah!
All right. E aí? Como vai? Salve! Beleza? Tchau...
(Muitas, muitas vozes)
Tantas que fica pesado o
subconsciente
E tendo ainda que arrastar o
corpo
Máquinas, automóveis, gritaria
Pensamentos liquefeitos pelo
barulho
Poucos me abraçam para sentirem
meu corpo suar frio
Megabytes de imagens sobrepostas
Desfiguram-se em um monstro
invisível
Veloz se transmuta, dissipa-se
Estende-se até o fim da dispersão
Não se decompõe o homem
Não se decompõe o ser
Diferem-se corpo e espírito
Mas caminham somente juntos
Necessário é ver todos os lados
de si mesmo
E estender um braço de cada
vez...
A busca
O ponto de emersão, os fatores
previsíveis
A sinfonia distorcida dos
acontecimentos
Natureza indômita
Crises violentas às portas da
cura
O confronto com o inexplicável
A metamorfose complexa
Negacionismo
Alimento para os vícios
Amuo contínuo
A busca pela solidão
E o afã pela morte que se
contempla ao longe
O desdém dos valores
Porque pobre de mim se o que me
atrai é a camisa de meu time
Pobre de mim se o que me toca é a
paixão partilhada por uma banda
E pela arte, pelos planos, pelos
sonhos, pela vida
Coitado de mim se me satisfaz
sobrecarregar outras vidas
Com fragmentos meus
Tudo o que restar serão perfídias
Quase como amar com exatidão
Melhor ser a vida um poço de
alusões
E de ilusões...
As lágrimas que minh’alma verte
são de sangue
As lágrimas que minh’alma verte
são de sangue transcendental
Sinto as farpas inofensivas da
Física
E as mortais da Psicologia
Ficam rijas as ondas e não
quebram
Apodrecem as flores e asfixiam
Envelhece a tenra e lírica beleza
Pode ser música só para os meus
ouvidos
Verdade ao alcance
Posso superar tudo
Com toda superação permitida
Só não sobrepujar limites intrínsecos
Ou desligar sentidos
Saudades de outréns e outroras
E do futuro
Porém o futuro é uma incondição
Onde há símbolo, há fuga
Onde há símbolo existe poesia
Tudo isso e mais eu
Mudaria sem mim?
A penumbra soturna da mente
Disfunção momentânea gerada pelo
medo
Medo da dor, morte e violência
Medo de tudo o que há de mais
esconso
O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...
Toque
Ressurjo, pois, sujeito ao toque
Teu
Indelével
A natureza se expande?
É da natureza se expandir?
Índole, só índole
Ímpeto, apenas ímpeto
A junção das idéias e do instinto
Os olhos traem a visão que trai
todos os outros sentidos
Distraída da percepção
E faz-se um ciclo
Virtual voraz invenção, fugaz da doutrina
mais crível
Forma conjuração
E faz-se um ciclo
E TUDO SE REMATA COM O CANSAÇO...
BRILHO OPACO
Eu me sinto arrastado para a tua tristeza
Quando inexoravelmente sofres
Quiçá seja só medo, mas sofres
E é horrível, pois não depende de mim
A tristeza ímpia que me deixa inerte
E com a qual todas as minhas fraquezas compactuam
Vem da tua dor vasta e sem sentido
Malefício espesso e extemporâneo
Não chores ou sofras querida minha
Só quando deveras quiseres de verdade
Não sucumbas às faltas
Preserves tua essência
E quando não der, sigas. Repartamos a angústia
Não anseies por soltar a minha mão
Confronte o teu medo com a barreira de mim
Plantando sempre o teu melhor
Não questiones merecimentos
Questione conselhos
Desconfie
Desafie
Saiba o que és
És especial
És linda
E só necessitas sorrir
Em nome de qualquer coisa que não te machuque
Mesmo eu
Porque o meu sonho é defender-te
Mas nunca de ti
“IVEL”
O HOMEM INVISÍVEL
Projeto matreiro
Passivo-sensível
Emparelham atrozes
O HOMEM INVISÍVEL
Divaga inerte
Incrível
Projeto voraz
Plausível
Cutucam na rede
O HOMEM INVISÍVEL
Refuta
Remível
Projeto mordaz
Cabível
Desdenham
DO HOMEM INVISÍVEL
Ímpio
Horrível
Projeto prolixo
Acessível
Invocam
O HOMEM INVISÍVEL
Lascivo
Temível
ÁGUAS VIVAS
Os meus ares são águas
A minha voz é um chiar
Meu coração é o reflexo da lua
Do sol, o meu sorriso
Meu fluxo sanguíneo é de mar
A minha beleza são pérolas
Minha paciência, aves
Meus pensamentos, cardumes
Meus sentimentos, uma nau
Minha evasão é a chuva
Meu céu é o céu de todos os dias
Meu medo é o medo de todos os homens
Meu corpo é a minha massa líquida
Minha mente é a chance de me aprofundar
REPARTI A MINHA VIDA
Reparti a minha vida;
Cantar e escrever
Além de, sobretudo, viver
Fazem acoroçoar-me a ser quem eu sou
Popularmente falando,
Cantar seria minha porção sensível,
Meu coração
Agora escrever seria os olhos do meu comportamento
Destarte, minha inteligência
Pífias, todavia, são todas as definições
Certamente ambíguas
Sei apenas que cantar sou eu
E escrever idem...
Escrever sou eu
E cantar idem...
“VAIVEMVAI”
– TERCETOS DAS LINHAS MESTRAS
Odnum ocitéc ed
edadirepsorp
azeleb a rasnac a
açnava
odnacidarre odot mob
odiulf
Aiseop é aiépoposorp
sosrev sod oirtíbra
ervil od ecaf a
amu aidórap ad adiv
Asep amuêlf, asep
apluc
satsitarapes sopurg
oãs soudívidni
e adot arvalap acifitsuj so soiem
A ahnim edadrev, me edadrev,
oãn adum
res oãn odnum od rop odnum on aov oãn
edadrev ajes atid;
sadot as sedadrev marof sadipmorroc
ahnimac a adiv san sahnil
salertse sad ratnilit o omoc odut odnedecorp
on omi zuler a avisserpxe
edadivitejbus
UM ENCONTRO COM O “EU” NAS RUAS DO ITAPEMA
Fatores psicológicos
O equilíbrio, a fadiga, o estresse
Os cinco sentidos
A dor de barriga, a chuva
Atchim! Agora
resfriado
(pausa para a primeira topada)
hi hi hi hi hi
“Que é que foi,
espertinho? Nunca viu?”
E chispa a bicicleta no amigo poste
Conversa um pouco que não tem ninguém olhando
“A rua tá deserta como
sempre que não foi proposital”
“Isso é relativo”
“É crime, é crime.
Fecha o bico e faz regime” – canta a sola
“Ai!” – foi a
segunda topada
Medita a ação que futuca
Anda, anda e não vai longe
Grita: “sai de ti,
saci; sai no ato, carrapato”
E acaba levando contigo o pentelho que tu mesmo és
“num pentelha” – resmunga
a orelha
“Calma rapaz, tem
paciência que o chão é duro”
“Que ingnorante falanu
arto nu meiu da rua...”
Ir pra lá, pra onde?
Muito além dali e dacolá
“Vamu, vamu que tem
festa e de sobremesa a paz de espírito”
“Calma que pressa é
inimigada...”
“Ah, pró-verbio não”, diz
a pedra
“Ui!” (e tome
topada. Foi a terceira)
Ter a pia na cozinha ou no banheiro
Ou no quarto, ou na casinha do cachorro
Pra não ser intransigente na decoração
Só não falaalto queaqui é o pico dos malandros
“E aí, cumpadi? Pela
ordi?”
Fooooooom – buzina o carro e atropela friamente o sinal
vermelho
“Psiu. Que gracinha!”
“Sou telepata, seu
estúpido”
Espera que tem mais para rir com a (ai) quarta topada
“Fala sério um
pouquinho que eu entreto a vergonha”
“Falo em casa que tem
teto e luz”
“Teta o escurão e luze
a lua”
Que andança sem destino que destina!
Que passeio solitário que quer mais é ver os conhecidos!
Que tramas mirabolantes latentes nessas ruas dissimuladas
Sedutoras corruptoras dos transeuntes
Aliciando suas deliciosas curvas
Puxando assunto, especulando a nossa vida
Indecente! Com as suas vergonhas de fora
Tendo tantos filhos, deveriam ao menos se dar ao respeito
Ou no mínimo conter seus filhos trombadinhas
Os “topadas” (tome-la quinta)
Bom, então me despeço da rua
O bip d’Orfeu me convida para casa
A casa
Home; “in the barrack”
O fazer coisa nenhuma no lugar nenhum aonde eu não ia
Pelo nada pra fazer lá
Não se ofenda amiga placa de retorno
Só quero que os espiões me chamem perdido
Porque já me viram
No mais, são só quarenta quilômetros
Eu dando a volta no quarteirão
O pior de tudo são essas topadas
Que já vão lá pela conta das quatorze...
Ui... opa... ai...
Fim da linha no sentido figurado
fim da linha
TEMPOS FELIZES
À Danielle de Mello
1ª Parte (O Entardecer)
Fechados os olhos, sonhamos
Os nossos ares se enfeitam
As nossas almas flutuam
E tudo nossa visão interna verte em beleza
Feliz o homem que guarda seus sonhos
Felizes os sonos que sonham eternos
Porque o que regozija primeiro
Profundo e certo se esvai
O que nos fica do que só às mãos transpassa?
O que brota do que em sonhos se transfigura?
A razão é a estaca da vida
A beleza é a sua tenda...
Para ela o meu brilho
E a reverência de minha feição poética
Ela que me emociona
E que irrompe as barreiras da maravilha
Ela que parte
Com a enésima parte do meu coração
A se perder no espaço-tempo
A personificar o corpo e a alma da saudade
Ela que me guiou
E que me viu sem me conhecer
Que é importante demais pra deixar a tristeza
Que na memória se oculta
Atrás dos sorrisos que já me brandiu
Ela que parte sabendo
Ter no mundo, no mínimo um
Incondicional amigo
Para muito além da presença
Que os nossos destinos despedem.
2ª Parte (A Aurora)
Abrimos os olhos para partirmos
Pondo à parte as ilusões e os sonhos
O estado puro e simples de se viver é a Realidade
E seu acolhimento de limites
Por que se deixar abater?
Por que permitir que fluam lágrimas
De um rio de desespero?
Nada vale que te deixes triste
Nada importa que te descontente
Tomar, assim, sem medo as rédeas do destino
E buscar as belas imagens eternizadas na memória
Para sempre nos fortalecer.
Lembranças mágicas
Que em felicidade concreta a vida irradia
Cintila e resplandece
Pulsa e anuncia
A dor nunca te alcance
A luta nunca te canse
De alegria sejam teus dias
MORTALMENTE
Bati às portas do meu destino
Entrada principal, porta dos fundos
Não importa
Se todas as palavras são alusões
Os sentidos mutados em sinais
São mensagens e nunca perfeitas
“Destino” é
palavra suspeita
De sobrepujar o presente
A luz d’agora ainda é a luz d’algures
Apenas o ar que nos cerca pesa ou não mais
Virtude fez-se o que era praxe
E praxe fez-se coisas horrendas
Luzes; ares; pobres símbolos
Condicionados a serem representativos
Submetidos vivos como seres vivos
Mas não, nunca manipulados
Na terra discute-se tudo o que é clareza
E nega-se a desinformação
Exige-se paciência
Só a desconfiança cansa
Tomba-se a porta, forja-se o futuro
Respeita-se a soberba dos símbolos
A tua mente se liberta e liberta te pode matar
E matar...