A HÉLICE DA ESPERANÇA
À Danielle
A hélice da Esperança
Que sou eu
Contigo, não só
A hélice da Esperança
Que és tu
Beleza
Inocência do ser
Em nós
A hélice da Esperança
Que é a displicência das palavras
A beleza da sinceridade
A ternura, o bem-querer
Até mesmo a saudade
Pairando em ares tristes
A hélice da Esperança
Que é a própria tristeza
Para me consolares
E eu te consolar
Plantar-mo-nos novos sorrisos
Cativados e enternecidos
Nos pequenos e imprescindíveis gestos
A hélice da Esperança
Que nada é
Além da própria amizade
A INVASÃO DOS MARES II
Nadem
Nadem que é o correr sobre o mar
Nadem para as montanhas
Nadem para as alturas
Onde estão os barcos?
Nada mais flutua
É inevitável perecer?
Resta debandar. Mas adiantará?
Também está à frente
Tudo virou ilha
Liberto e afundo
Acolhe as crianças, ó Netuno
Contra a correnteza, nadem
Contra a morte, contra a fé
Os mares encobriram o Éden
O medo devorou a serpente
Nadem vivazes
Até quando as câimbras lhes mortificarem
Mesmo que todas as montanhas os oceanos cubram
Nadem
Cruzem com seus corpos todos os mares
Ainda que comecem a congelar na Antártida
Ou alimentem suas partes os predadores
Nas lágrimas da mãe-terra nadem
Sob um amor profundo nadem
Ou vaguem para sempre
No mais reles de seus braços
A QUEM INTERESSAR
É a importante presença que completa
Força retirada do bem explícito
Sub-reptício não é
Melancolicamente nova
Extraordinariamente mesma
Tão bela pode vir a ser
A quem interessar
A busca da razão é
Sempre a maior razão
Depois da própria razão
Que é Deus
Pra vida, um sentido
É sempre o maior objetivo
Depois do grande sentido...
Beirar todos os riscos
A prova
E como tal sutileza
Tem seu espaço
Não é só uma alusão
Do orador que me representa
Representará também
A quem interessar
BOM DIA, POETA
Bom dia, poeta
Que espera deste dia?
Alguma curva em linha reta?
A Rotina desafia?
Com o que pesa suas metas
E impulsiona as fantasias
Hábil as arquiteta
Ou apenas lhas irradia?
“– Pra hoje espero, tão somente,
Da mesma forma, simplesmente
O que almejei todos os dias...
O degrau que não subi
Não entendi e não cresci
Adiante tornaria”
CADASTRO
DE PESSOAS FÍSICAS
Vêm e vão, no espaço
Pessoas físicas
Transeuntes
Abarrotam a mente
Onde tudo passa mais devagar
E se esvaem
Se não souberem
Se quiserem
DIÁLOGO INTRAPOÉTICO
O poeta recobrando o seu romance...
Uma frase simples de dificílima compreensão
Sério nos dons e brando nos sentidos
Aluno inocente de sua transfiguração
“alvas são as nuvens” –
diz – “meigos são os pássaros
Belas são as rosas da
natureza plácida
Opíparo eu vou,
festivo eu estou
Passeia sobre mim o
pincel do amor
Cativo desejos e a
satisfação pessoal
Mas não me limito
Sou inter
O que me floresce é a
sensibilidade
Sei que quero mais
Aos poucos.”
O poeta para...
...pensa...
...canta ‘Andrea
Doria’...
E pronto. Está triste.
(Vê-se cercado pelos ares da tristeza)
E reconhece quem mais o corteja
Conclui-se que ele é um poço de conflitos
E de lembranças
Conclusão que o arrelia
E em uma dispersão se desfaz
E satírico se refaz
E mais e mais energia acumula
Sem pólos.
A noite lhe é terapêutica
Mentaliza
Dispensa-lhe sua ansiedade
E morre para aquele dia
Desvanece
Devaneia
Até renascer outro dia
Numa expectativa constante
EU CONCOMITANTE
Costumava dizer em meus dias
Eu
Só, com outrem ou comigo
A valer, eu
Em tudo e qualquer incluído
Meu Complexo de primeira pessoa
Costumava dizer que mudara
Em mim
Por forças de dentro do Eu
Sim
O Eu que outrora pareceu
Ter força demasiadamente aparente
Costumava crer-me o governante
De mim mesmo
Um Eu pasmado e delirante
Sujeitando-se a esmo
A própria autoridade inocente
A restringir-lhe para sempre
O passado parece ser gente
Um personagem soturno
Tendência interessante
Ser aluno
Do Eu concomitante
A todo passado vigente, um presente
EU
CONTRA O AMOR
Eu contra o amor
Luto até a morte. E morro
Eu contra a atração
Quero o controle de mim
Caio contra o flerte
Levanto-me depois...
Eu contra a Beleza
Agonizo; retraído
Contra mim mesmo
Deveras eu
Todos contra mim
A ternura me desarma
O intelecto me fascina
O perfume desnorteia-me
Quiçá, guarde-me
‘inda que fraquejando
Até o retorno do Amor
Triunfante
Sempre triunfante
FARPAS MINHAS
Meu coração me trai
Posto que tem vontade própria
Meu coração jaz
Nas proximidades da morte
Não cantarei sob sombras de oliveiras
Não descreverei arco-íris
E nem brincarei de coisas irreais
Falarei das demências
Sob névoa e com formigas subindo pelos meus pés
Falarei da dor
Que floresce dos homens
E paira
Onde está a mensagem positiva
Homens (?)
Eis a mensagem
Homens
A vida improdutiva que não cansa
A razão cancerígena que não corre
Retornam
Em círculos
Em símbolos
Nas drogas e nas bobagens
No poço em que não há fundo
Afundo
Não existem saídas dessa terra
Homens (?)
Enxuguem suas lágrimas
Deponham as máscaras em seus rostos
E ouçam
Ainda há tempo para se ouvir
Homens (?)
Não digam o que quis que dissessem
Digam o que quero que ouçam
Que sabem
Homens (?)
FÚRIA
O que me consome
projetarei
A humanidade vã
ter-me-á, vão
Existo do universo imenso dentro de mim
do meu grande poço de caos emerjo
completamente seco
Saturado de limites estou
Atos e gestos fúteis me são típicos
Besteiróis meus plenamente se perpetuam
Vejo o mundo piegas,
as mentes pobres que lhe pululam,
ouço as histórias confusas sobre o amor
e os anseios vãos pelo saber da justiça
É na sabedoria da futilidade que tudo flutua?
Quero ver agora no espaço físico
tudo o que enxerguei por dentro, há muito
O reles cotidiano surpreendentemente maquinal
gastando e descartando peças...
Basta!!!!
Quem penso ser, a libertar-me agora?
Blindado por dentro e volúvel por fora
Remando desajeitado, ridículo
à beira do mar do ridículo
Não sou importante
ou menos importante do que a inviolabilidade dos atos e dos
costumes
Ralho porque reclamo, reclamo porque ralho
Para fazer valer a reclamação, voz dos limites
Dou vida aos caprichos do egocentrismo
A glória humana será sempre satírica
A imaginação defende o lirismo
Tanto quanto depende da ironia
A poesia é a satisfação pessoal,
mas não é tudo
Nada é tudo;
só Deus.
Retorno à minha carapaça de jabuti rufião
Desenvolto, minha índole festeja
sabendo que estou sendo eu,
sentindo-me eu a mim mesmo
Um eu que me satisfaz por inteiro
Que emerge do meu plantel de bobagem
se bobagem maior não for
INOCÊNCIA
Toda menina aos quinze anos
possui uma fonte de beleza
a qual embora não acredite
desconhece.
Que flui,
ou muitas vezes se perde do mundo
para nunca mais retornar
Como depende a vida do sol nascente,
a maravilha do mundo, beleza inocente
perdendo o controle, fluindo sem rumo...
MEDOS
Tenho andado com medo de ficar sozinho
Medo do escuro
Medo das janelas [fechadas]
Medo
Do que está as minhas costas
Ou o que meus olhos momentaneamente não alcançam
Tenho medo dos meus medos
Que se aglutinam satíricos
Chamem de “carência
afetiva”
Ou “complexo-de-não-sei-o-quê”
Não me importo com isso
Pois, isso não temo
Às vezes chego a acreditar que o que me aterra é um monstro
Chamado Solidão
Vejo uma nuvem confusa sobre os meus sentidos
E fico exclusivamente à mercê de meu coração
Tenho medos que jamais tive
Medos que nunca parei para ouvir
Tapando os ouvidos para mim
Gozo pouco da solidariedade
Que impulsiona e estimula libertação
Mas, e daí? Compreendo a complexidade do processo
E não receio os desafios
Estou pronto para me acalmar
Nos braços dos meus amigos
Nos lábios de meu amor...
MUTANTES
Mutantes
Pelicanos eretos
Perdem o senso
Do certo e do incerto
Já vão marginalizados
Feridos onde dói mais
Mutantes
Pelicanos eretos
Sentem a falta
Do amor e do afeto
Todos generalizados
Geralmente demais
Mutantes
Só mutantes
NATALINA
Feliz natal, amigos, feliz natal
Não há o que falar, além nada.
Já disse, feliz natal
Feliz natal, Marcelo
À Danielle proporcionado seja
O mais feliz dos natais
Feliz natal, Dani –
A marca primordial de meu ano
E todos...
Feliz natal, amores de todo o tempo; de todo o mundo
De todos os natais-além-dos-anos
E todos os dias-além-dos-sonhos
Feliz natal, amor
Onde quer que você esteja
Quando quer que você seja
Prosperidade a todos e a tudo
Obrigado, Deus, pela minha vida
Obrigado, Jesus, porque o Senhor é bom
O CLÃ DOS SENTIDOS
Aberto o diálogo
Sou promissor e não falo
Falo bastante de símbolos
Se símbolos são todos os físicos
E seu egocentrismo
Aberto a teses prováveis
Sou indagador e não vejo
Quase nunca
Quase nada
Aberto o Clã dos Sentidos
Sou o presidente e não sinto
O que difere de um sentido sem-par
O CORETO
Certo! Que seja o meu coração um coreto
onde crianças de alegria pulam
acercadas por estranhos
que choram em silêncio o não serem mais crianças
o não estarem ali
É-me primordial a verdade
a simplicidade dos acontecimentos
o que me faz medir
e analisar as palavras
Perdôo-me se vivenciei por mais de um minuto
o fictício de minha
imaginação
Oh, Deus
Dai-me uma síntese de mim!
O DESERTO
Sombra;
Transparência
Miragem
Vejo o sol
Jamais poente
Inquestionavelmente só
Como um homem num museu de dinossauros
Antíteses
O complexo da vida que se completa
Tudo o que compacta sem sintetizar
A fome e a sede do corpo e o espírito
A voz que se cala
A audição interrompendo os demais sentidos
O tempo letal do destino
Persistindo
Além da visão
Moléstia calma
Espaço flamejante
A sombra que se satisfaz
Sem satisfazer mais ninguém
O ORADOR
Errando, beirar a sensibilidade
A fisionomia, tranqüila
A revolução, interina
O sentimento, qualquer
Nas mãos, quase tudo
Pouco júbilo
E eu, o pequeno orador que me representa,
A mim e aos meus sentimentos
Inepto a lidar com sentidos de outrem
Despeço amizades e inimizades
Transbordo sentidos
Disse o ‘fingidor’: “domina ou cala”
Digo: ame ou perca-se
Faz-se às vezes necessário saltar
Imergir ao fim
Sob tudo
Eu te amo, mãe
Eu te amo, irmã
Eu te amo, mulher
Amigos
Amor
Amo-vos, estranhos,
Professores
Eu te amo, Cássia
Eu te amo, Angélica
Eu te amo, Lucy
Eu te amo, Paula
Eu te amo, Ângela
Eu amo
Amo-te, Catarina
Amada mãe
Amo-te, Adriana
Irmã
Eu te amo, Cláudio
Eu te amo, Reginaldo
Sim, eu vos amo
Eu te amo, Gustavo, Fernando, Claudemir
Eu te amo, Romero
Amo-te, Genivaldo
Amigo, fiel amigo
Eu te amo, Cris...
Eu te amo, Vera
Eu te amo, Isabel
Eu te amo, Darcy
Mestras
Amo-te, Danielle
Amiga de minha vida
Sônia, Simone
Eu vos amo
EU TE AMO, VIDA
E mais do que a tudo e todos
Jesus Cristo, o Senhor
Amo tanto para amar um pouco
Amo a todos para amar a mim mesmo
Penso em vocês e lhes guardo para manter a minha própria
estrutura
Porque co’amor eu me construo
Sereno
No momento em que o tenho
E nada me dispersa
Amo-vos, amigos
Contem comigo
Far-me-ão bem
E nem me respondam se assim o quiserem
Amar não é compromisso
Indistinto do zelo
São-me, pois, todos especiais
Individualmente especiais
O
VIAJANTE
Batem na porta
Espiam pelas arestas da fechadura
E partem
Deixam a casa do viajante
Andante
Que corre estradas por mundos distantes
Visitando reinos, nações
Testemunha passiva de todas as palavras
Mas que dessa vez em casa
Estava
E tudo desandou.
Será que ele, o viajante
Não estaria sempre
Desencontrado sempre por milésimos de segundos?
Há motivos para a porta não se abrir?
“Não há nada” – diz o viajante
“Não se abre apenas à impaciência
E não me mostrarão a expressão de meus defeitos
Do lado de fora”
(Pobre andante! Deixa a porta aberta...)
ODE DE PESSOA LATENTE
Defina-se
Viva, mas
Pedante serás sem mim
Não sou que te empresto humanidade?
Harmonioso como música
Complexo como o instrumento
Objeto das coisas tangentes
Pasmado de um sol poente
Mais pedante comigo
Até as nossas saídas
Basta
Deixa-me
Deixa
Vivencia
Sério
Transcendental
Conhece-te
Ao menos o ser que apresentas como tu
E respeita
Teu ser que desconheces
Fortifica-te
Todo sentimento tem um pingo de egoísmo
Impavidamente sufocado
Pela hipersensibilidade
Não te bastará ser eloqüente
Sê algum próprio instinto
Domina-te
Alegra-te
Fortaleça-te num sorriso
Com ou sem lágrimas
Serve-te das difusões
Que a vida nos oferece
Difunda-te também
No espaço em que vigoram teus sentidos
Intransponível
Livra-te dos males que te impuseste
Desvenda tua própria loucura
Sanada
Pelo instante em que tiras proveito
Devaneia
Exposto, todavia imune
Intelectualiza-te
Por um respeito à mente
E um não temer perante suas sombras
Saiba que cada complexo é um resultado
Sê bom, mas sê potente
Indulgente, mas não tolo
Sê uma peça de princípios
E voa nos ares da vida
Voando nos ares da vida
Voando nos ares da vida
Que passa despercebida
Voando nos ares da vida
Vivida plena, nunca esquecida
Voando nos ares da vida
Linda, merecida
Voando nos ares da vida
Deixando a dor da partida
Voando nos ares da vida
Pra aventura maior, acolhida
Voando nos ares da vida
Não dissertes sobre o amor com veemência
Trai-te
Quiçá nem diga “amor”
E mais convencido d’amor estarás
Quem fala do amor com exatidão
É também pedante
Assim como quem não olha pra si
Orgulhando-se de si sem se ver
Não profetize os teus sonhos
Se não os diferencia, deixa-os
Se os alimenta, aguarda
Não reconheças a beleza
À primeira vista
Sê exigente e olha profundo
Bela é a beleza que transpassa a carne dos olhos
E atinge a alma
De resto, só a perversão
De um símbolo que derrete como a neve
Sendo só uma pausa pro espírito
Que voa nos ares da vida
Voando nos ares da vida
Voando nos ares da vida
Que passa despercebida
Voando nos ares da vida
Bela, porém corrompida
Voando nos ares da vida
De trilhas oferecidas
Voando nos ares da vida
Pista a pousar, vida
Pouso denotando paz...
Não te perpetue
Plorifera-te
Luta por teus objetivos
Sempre satisfeito
Respeita-te
E serás digno de ti mesmo
Respeita a todos e deveras digno serás
Sê pouco, mas sê inteiro
Deixa que teus medos pereçam
Deixa que teus males se cansem
Só pare na primavera
Para contemplar as flores
Correrás nos anos e anos de tua vida
Nos dias, nas horas e nos minutos
Tendo toda pressa por partir
E nenhuma em chegar
Acalma-te
Não consuma tua mente em desfilada
Tenha a alvura da tua posição
Sem altercação
Pois passando despercebida
Inteira e jamais esquecida
Linda desmerecida
Portando a dor da partida
De trilhas oferecidas
Bela, aquém corrompida
A vida
Em que liberto voas
Ao menos livre em ti mesmo
Viver é um jogo
De oportunidades propícias
Pequenas lamentações
E um mar que tudo acalma
Uma fome
Um zelo
Uma dor
Amplia-te
Extrai o máximo de ti
Equilibra-te
Semeando tuas sementes e teus frutos
Ri
Diante do horizonte
Dourado pelo arrebol
Arrebata-te
Do teu eu que te corrompe
E salta
Nos braços do infinito
Sê grande, mas sê servil
Elucida-te
E sê ocluso
Pouco
Por fim, escuta-te
Mais do que a mim
Mais do que a qualquer outro
Se muito mais tens a aprender contigo
Permaneça liberto
Fala-te e ouve-te
Simultaneamente
Mas não te abandones a ti mesmo
Não te deixes carregar-te em teus próprios braços
Sê o que evolui contigo
Tudo o mais despeça
Sintetiza-te
Representa-te sem par
Sê mais força do que questionamento
Mais brio do que censura
Entrega-te
A Deus
Ao amor
E a vida
Sê um projeto pensado
E pensante
De alguma-qualquer-coisa
Alguém-qualquer-pessoa
Sê
Em pejo, em festa
A todo custo
Sê
Ciente de tudo
Goza da tua liberdade
Tu, a liberdade
Tu
OS ESPELHOS
1ª parte
Por ti poderia eu me reapaixonar
hoje
posto que continuas apaixonante
sempre
descobrir-te de novo
mas não te esqueceria
Momentaneamente só estou podendo sonhar
e pasmar como quando
vejo o mar
imenso, cediço e simples
Lindo!
Como tu.
Todavia, penso em você como penso nas outras duas
que perfeitamente poderiam ser três,
quinze, milhares,
uma a cada segmento de meu espírito.
Tenho várias realidades
Minhas vidas têm vários mesmos sentidos
Minha equação sou eu
Dividido em incógnitos fragmentos de mim
Saibas, pois, que por ti eu poderia dopar-me
com depravações ao meu físico
e que nada faço por ti,
nada faço por mim
Faço por fazer-me sentido
Faço por que creio
Faço com prazer
O resto deixo
Aos meus instintos interinos
Abrandando-se balsâmicos
ou sensíveis
2ª parte
Basta, sou um!
Abarrotado de defeitos, limites
Um
Magro, perecível
Um
Convencionado a propagar de mim mesmo
Apenas um
É só o que me diz os espelhos
Delimitado por fatores externos
inquestionavelmente emergidos de mim
que são o empecilho de minha dispersão
mas não me mutilam
contemplo-me, enfim, o único
Convencido estou de que sou um
a discutir com si mesmo
a se idealizar a cada minuto
girando como uma roleta
Sim! Sou uma roleta inconstante
Incoerente, procuro meu êmulo
em mim
Já sei que sou um
que nunca é o mesmo
OS OCEANOS
“Atlântico
Dizei-me, sois rei?
Perdestes a mansidão
Num infinito cercado,
previsível
Fostes mais rei há
muitos séculos
Posto que ainda de
vosso monstro fugiam
Com seio impuro
resististes
Lavai a alma da Terra
Em lugar nenhum
conquistais o descanso
Sois mais como
autoridade de outro reino
De reconhecida e
limitada nobreza
Sois o brasão das
águas
Símbolo
Fonte da vida na Terra
Piegas no céu dos
mares
Aliando-vos aos vilões
da América
Vicinal do berço do
mundo...
∞
Índico;
Príncipe d’África
Aos pés da Ásia
Espremido por dois
reis
Jaz
No limite da Austrália
Jaz
Para o Novo Mundo
E reina sob limites
Despercebido
≈
Ártico;
O absoluto
No gênero
Coroando Novo e Velho
mundo
E sorrindo
Das mãos que o afastam
Pífio
Em meio aos seus
irmãos
אּ
Pacífico
Fazes jus ao teu nome?
Sois rei
Não serves aos homens
que te servem
Aterra-os ainda com
teus monstros
Cativas ainda tuas
ilhas paradisíacas
Paraíso
Não sois a parte de um
corpo
Que não tem um corpo
em si
Sois belo como imensos
olhos azuis
Que se abrem co’a luz
da manhã
E com sorrisos
O mundo das águas
Puro ainda
Deleite pouco
Reinais sobre o
absoluto
E sobre todas as águas
Abundante
Auto-suficiente
Liquefazendo-se
Multipartindo-se
Acolhendo em vosso seio
Pequenas ilhas
tranqüilas
Longe da imaginação”
OS OLHOS DA COR DO MAR
À vossa majestade
Princesa encantada
Encantadora de algum eu em mim
Um eu não definido
Definitivamente curvado
À vossa beleza indescritível
Os lábios, o corpo, o ser
E os olhos
Que se misturam à terça parte do mar
O mar, sinônimo de tudo o que é belo
E indomável
E se entregue, deságua
Em oceanos maiores
As curvas das águas
Moléculas divinas
Sereia: revelai-vos
De que terras evaporastes?
PERDIDO EM MIM
Perdido em mim sou muito
Confuso agora, a pouco, simples
A cada vitória busco novas batalhas
Sem nunca esperar um resultado
Venço e perco indefinidamente
A cada derrota ergo o meu olhar
E busco uma nova visão
PRINCESA
Saberás ser atraente
E despertarás saudade
Ferirás os fracos
Perderás os volúveis
Que tudo isso serás mais.
Reconhecerás a tua beleza
Livre do deslumbre
Haverás de sonhar
E amarás inesgotavelmente
Sem se cansar
Serás sabiamente humilde
E acima de todas as coisas porás
A sinceridade
Honrarás, sobretudo, a poesia
Louvarás vigorosamente com música
Artes te banharão a alma
Sensibilidades te iluminarão a vida
E com seu sorriso lindo
Abraçarás o mundo
SABERÁS
POR QUE FALO
Usar a arte como muletas
Não reduz as lágrimas
Usar a flor como beleza
Usar armas como desejo
Usar os medos como senhores
Querer as dores como refúgio
Usar idolatrias como sentido
E tomar o dom por coragem
Usar o berço como inimigo
Comprar ideais para satisfação de outrem
Fazer da inteligência um escudo
E manter um escudo de pessimismo
Tomar da intolerância a bandeira
Ou se arrastar incólume pela fantasia
Tudo isso é lícito
Nada disso é lúcido
Desmereceria...
SE OUVES DE MIM PALAVRAS TRISTES
Se ouves de mim palavras tristes
Então me vês
Mas se a tristeza enxergas em meus olhos
Então me amas...
Se ao toque de tua pele estremeço
Desejo-te
Se contigo compartilho meu próprio entendimento
Eu amo você...
Eu amo você é comum de ser dito
E deveras mais simples de desdizer
Já disse, tenho fé no sentimento
Pois dele desconfio merecer
Não me manipula o amor
Só a sombra que projeta em seu sentido
O amor quando me vem não vem em mim
O amor quando me vem sou eu
Vestido de uma energia
Assimilada, inexplicável
Faz de mim aquém ser outro
Tenro, doce, sutil
Basta de falar de martírios, (sim, o fiz)
Despedidas sempre me dispersam
Tal qual finais felizes me deprimem
Meu relógio é simplesmente o ato de saber
A hora de chegar a hora
Os únicos comunicadores são os olhos
As únicas palavras são o flerte
Viril, inconsciente
Inconseqüente
SÍMBOLOS
Ares e cenários se confundem
Ostentando diversas imagens invisíveis
Não poucas vezes surpreendo-me questionando
Se o que vem de dentro pode haver além de mim
Algo como: “A natureza
dos olhos da alma”.
A Terra:
Estreita e delimitada
Livre em seu anonimato
Normal, no mais
As pedras:
Reveladoras
Carne de esplêndidos
templos
Ruínas
Breves e eternas
Tão imponentes quanto
abstratas.
O bronze:
Imóvel déspota
Garboso sujo
Assimilado pela
matéria artificial inexistente
Onde somente brios e
honras
Compõem uma natureza
ênea.
As flores:
Mais simples
Menos expressivas
Imperecíveis
Imunes ao toque
E de bálsamo latente.
Os astros:
Inexistem.
O Universo é a Terra.
A água:
Soube que a alma é
limpa
Conheci, atônito,
dissoluta é a pele
E a água nos brande
uma calma
E serve à sede de uma
ânsia qualquer.
Os mares:
São os mesmos...
A terra(os
campos, as cidades, as ilhas, o chão):
Abarrotada como os
ares
Inóspitos livres.
Os morros:
Eis os templos
Sob o verde da vida.
O fogo:
Emergindo certo de nós
mesmos
Alusivos às
necessidades
Dos corações
impetuosos.
A vida:
Peculiar e única
A que atua fora dos
espelhos.
As nuvens:
Personifico como as
águas
Não poderiam ser mais
espontâneas
Nem se chovem o sei
Apenas sei que estão
lá
E tranqüilizam.
(Meus ares e
cenários se revertem a mim)
TACITURNO
Taciturno.
Eu. Definido.
Arredio, dispersivo, sonhador.
Consenso quase único de ninguém.
Uma presença nimiamente ausente.
Antes isso do que ser lampeiro
zelando por um nexo insidioso
debelar minhas inércias
digladiar-me só contra meu íntimo.
Basta-me saber a importância das lágrimas
e sujeitar a impaciência.
Taciturno.
Prossigam.
TARDE DO POETA (COM O POETA
UNIVERSAL)
Eis mais um momento
Na vida do poeta
A tardinha
As sombras que caem relaxantes
Uma certa paz de espírito
Pequena, mas intensa
Os primeiros bocejos
As primeiras fugas de seu próprio ser
Uma lírica tarde
Do poeta enamorado
A se despedir do sol
O poeta dos astros
Universal
Em sua linguagem de sinal
Ultravioleta
TRANSE
Concentração e pronto; nasce um fundamento
Que cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce,
cresce.
E se constitui em alguma coisa.
Desligamento profundo; abre-se um mundo paralelo
de possibilidades que pairam,
pairam,
pairam,
pairam,
pairam,
pairam,
pairam,
pairam,
pairam,
pairam,
pairam
e pairam
Viajantes do mundo “além-físico”
Filosofias complicadas
que iludem
e iludem,
iludem,
iludem,
iludem,
iludem,
sem um convencer definitivo
Vale deixar a mente livre
e sorrir até o fim
UMA BOA NOITE
Os pensamentos passam
Parecem tão pesados
Deixam-te cansado
Nunca aliviam
Segundos mais
De sua juventude
Volta a quietude
Brasas esfriam
Sem um último canto
Sem nenhum pranto
A despeito dos sonhos
Paz restituída
Como se o céu anunciasse
Segurança certa
Decorrem os dias
O ciclo da vida
O corpo enfim, estaciona
Um espírito onírico fica
E todo livre-arbítrio
Será lírico
O deslumbre da vida
Sua incerteza
Então boa noite, poeta,
Meu ser empírico
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