FABIANO
SANTOS SOUSA
“PULCHRA PUELLA”
(Poemas
sentenciosamente líricos)
“TODOS
JOGAM,
TODOS
PERDEM”.
Carlos Simões
1 – CHEGA A HORA
à Íris
Chega a hora de reviver o que era fácil
O que era fácil também era praxe e só a praxe facilitava
Inovar é virar a página e não ser mais eu
Ser, por exemplo, outra
A que contempla a borboleta e o morcego
Ter um nome para permanecer esconso
E novos conceitos para permutar.
2 – UM POUCO DEPOIS DAS LUZES
Um pouco depois das luzes
à luz da madrugada
A aurora chega e a paz irrompe
A brisa ‘calma emoção queimada
Até o sol brilha, mas não brilha nunca
como o olhar-essência de minha amada
Os olhos que interrogam;
divinas jóias aquém lapidadas
graciosidade e alegria
valentia determinada
E daí? São belos, mas não brilham nunca
como o olhar-essência de minha amada
A infância que ruge de festa e medo
que dorme em tenda maternal delgada
A vida pueril como o nascer do dia
Os sonhos mais perfeitos por drenarem nada
Olhinhos que brilham, mas não ainda
como o olhar-essência de minha amada
E daí o ar, o espaço, a vida
O canal divino às maravilhas dadas
Inteligência, sabedoria
sem serventia a vidas apagadas
mas mesmo a vida, tal não brilharia
sem o olhar-essência de minha amada
E os olhos dela, por que me inspiram?
Por que me piram em ânsia apaixonada?
Como corrompem todo o meu ser
amansam-me também, tal voz adocicada
destarte vão o poema seria
sem o olhar-essência de minha amada
Esperando nada e já esperando pouco
minh’alma tácita olha a alvorada
as lágrimas sentenciam que era previsível
sorrir por entre a desilusão calada
sorrir por entre a desilusão calada
Difundo-me como explosão de uma estrela imensa
no infinito-olhar-essência de minha amada
(mas jamais como os olhos dela poderei brilhar).
3- PRISÃO DE FLORES
Estou imobilizado
De corpo e alma imobilizados estou
Amanhã me oporei a ser cativo
Mas agora só quero pensar em flores
Crisântemos e dálias sob a chuva
Cortinas de pétalas de rosas e margaridas
Rios de violetas silvestres e acácias
Templos de angélicas e begônias
Petúnias de todas as cores
Papoulas de outras cores
Creia que amar é motivo para se pensar em flores
26-01-95
4 – CLÁSSICO DE TODOS OS TEMPOS
Eu amo
Pesa-me dizer isso
Mas digo
Eu te amo
Nos teus olhos se esconde a minha felicidade
Minhas idéias também se escondem
Mais do que os meus atos
Não sei o que posso ou o que mereço
Mas sei que te amo e daí anseio
Tenho medo de mim
Medo somente de mim
Eu sou tudo o que tenho
Vem andar comigo nestas ruas calmas
Caminharemos de mãos dadas pelo paraíso
Sentirás de mim o amor profundo
E ouvirás meu coração pulsar o teu nome
Vem envolver o meu ser como sendo o mar
Ambos abraçados, ele aos nossos pés
Que o que é tão claro em minha mente
Não comece nunca a ficar distante
Não me diga que queres; dize que faz
Pretendo viver eternamente de sonho
E deixar de sonhar sozinho
26-01-95
5- LÁPIDE
(à Luciene Cavazine)
Há coisas que não pago para ouvir nem dizer
arriscando-me a pendê-las ao esquecimento e à decepção
meu coração é plácido e suave
quando está nu
Ao ser acuado, logo se encrespa
arrebatando todo meu corpo consigo
Hemos de morrer unidos
Deixar que o amor manipule sua vida é fácil
estando a par de que, do amor, ela não será sua
ou ele será seu
ou você será dele
daí o delírio, o medo
a castidade feita imprudência
Perguntar sempre se te amo
sem subjugar evasões de descrença
satisfaz-te e eu de respeito rejubilo
dispõem a ti um relato romântico
em seguida pouco é maior do que o momento
A toda resposta cabe a negação
Há situações que não podem ser cobradas de mim
Isto seria desprezar-me a natureza livre
A minha hora certa não é certa, mas é minha
Se eu divago, isso escapa de meus olhos
Estonteado, sacudam-me
Sarcástico, agridam-me
Liberto astarte, condicionem-me
Agora, se estou feliz não me desviem
O que restaria no meu olhar seria desdém
Gosta um pouco de mim, confia um pouco em mim
E não te prometerei nada
Até segunda ordem, o que vale é o que encerrou o nosso dia
embora seja sobre tuas mãos a terapia de minha metamorfose
Tu que não és lúcida nem metafísica
mas gostas de mim, confias em mim
Dir-me-ás o teu tempo justo
E com o presente de minha vida dou-te minha esperança
Não fosse assim, não era...
23-02-95
6 – A “PSEUDO-RESPOSTA” DE LU CAVAZINE
Também há coisas que eu não compreendo
só que o meu eu não pára na barreira das comparações
tem sido-te fácil apenas tanger a humanidade
falta esbarrares em mim
nunca me procuraste como experimento
pouco ou nada sem fronteiras me viste
por isso me obstruo tão fácil
nossos instintos pouco se distinguem
ambos não temos escrúpulos
eu faço disfarçar-me...
Banalizamos um instinto, algumas vezes
até, pela primeira vez num diálogo direto
deixares escapar dos teus olhos um senso
Não me culpo se ali estavas enfraquecido
Com a sinceridade lúcida, gostei
embora então não precisasse daquilo
Perdoa-me as palavras vis
Sei que o teu intuito era empunhar minhas tendências
românticas
mas, definitivamente não és o amor de minha vida
este jaz algures
e tu ficaste aquém comigo.
25-02-95
7 – “SISTEGMATISMO”
Poemas
Sentenciosamente líricos
Uniformes e inflexíveis
Sistematicamente redondos
Como o mundo de Colombo
Insensivelmente já pré-estabelecidos
Taxados e lapidados
Autênticos opositores da livre
criação
Retos e lineares
Altivos, enfáticos e tristes
Cruzam as barreiras científicas
Recuam nas curvas emotivas da sensibilidade
Alinham-se para não serem metafísicos
Como não ser sonhador sendo romântico?
Inferiorizar-se, delimitar o amor...
Atroz é o sistema que torna vítima
Nobre e puro espírito
Manchando com sangue de martírio as paredes e o chão de cárcere
altivo
Pulchra puella
Outros épicos e nomes seriam sugestivos
Essencialmente há de ser lírico
Seguramente há de ser livre
Insipiente e insensato
Acima de tudo, rei em seu espaço.
22-03-95
8 – PARADIGMA
Se Ana, se n, se
nenhuma
se outra, se a mesma, se ninguém
não ama alguém, qualquer, também nenhuma
não Ana, não outra, mas n
Se Ana, não n com
certeza
com a clareza de que também se n não cab’Ana
Se sucumbe Ana à quimera reluzente démodé
e n perdura
eternamente
D’Ana guardo o sorriso
n transmuta o meu
ano
sendo quem amo
22-03-95
9 – “IMPURICIDADE”
Aspiro tatear a gramática
Alcançar a magnitude das palavras sem infringi-la
Daí dançar com a arte
Ter na palma o espírito pedante de uma sociedade culta
Alguns se abarrotam
Estão repletos de valores resultantes de uma vida
imoralmente abastada
Outros estão lassos
Têm apreçados seus valores e sentido de existência
O que esperar sendo pobre insipiente?
Ora, o sincronismo do mundo...
22-03-95
10 – EVOLUÇÃO
Retrato da minha infância
guardada plena estima
o ego amoral, pueril
sob o pé da laranja que não é lima
incipiente visão da vida
tão expansiva quanto a rima
(Teólogo da Evolução assina)
Espectador das belezas tenras
como o vaivém do mar e dos sorrisos
as farras e estripulias
os berros de alerta e aviso
trilha da insensatez
dogmatismo constantemente impreciso
(Teólogo da Evolução assina)
E nessa própria canção de exílio
onde abarrota a história a superfície das folhas
a inconstância aciona a decorrência
viver não se condiciona às escolhas
a vida são as fases da lua
a memória é um mapa em uma garrafa de rolha
(Teólogo da Evolução assina)...
... (uma involução).
23 e24-03-95
11- “FATIDICIDADE”
Vejam todos essa revelação:
viver é uma vasta e extensa armadilha
A felicidade é uma capa para o sofrimento
que, por sua vez, é um outro nome para a insanidade
Ajuda-me, poesia
Eu estou louco
Estou completamente looouco de amor
Nunca me senti tão dependente
Meus pensamentos nunca tão pendentes
Amar é tão bom como aventura
até se ter que amar dentro da própria vida
e ser tomado por inteiro
Socorra-me inspiração!
Podes me condicionar mais leve?
Podes sombrear a ilógica da vida?
Estou condenado a morrer de amor
e gostar disso
Eu que previ ser maior do que a ficção dos romances
Ser maior do que qualquer previsão
Só não previ o que pudesse abranger a realidade
Às vezes sou tomado pelo terrível medo da perda e do seu pós-vazio
Amar não oferece garantia qualquer de suas impressões de
segurança,
preservação, integridade
por isso apavora e esconde o terrível monstro dos sonhos:
a loucura
e seus cavaleiros errantes
o ciúme, a intensificação da saudade, a possessividade
Mas pior do que tudo é o abismo que a ausência gera
A ridicularização da independência individual do estado de
ser
E nisso tem de tudo
Vai da rara beleza até uma porção grande d’egoísmo
E tudo para quando “redescubro”
que ela me ama
Ela me ama
Ela me ama
Ela me ama
Ela me ama
Ela me ama
Ela me ama
Ela me ama
Ela me ama
me ama...
E se me ama basta para matar o meu desejo
Calar o ato de coesão do medo
e corromper o meu ego
Eu a amo
Fica-me fácil de dizer o tempo todo
menos na minha mais pura expressão
Os meus olhos transversais sempre revelam dessa face incauta
a antítese
Acontece que tudo o que é fácil, difícil ou médio
é fato
E nós nos amamos.
27-03-95
12 – “METAMIM”
O que queres de mim agora errante Eu?
O que hás de querer?
Que indo ao cemitério, diante do túmulo de meu pai
eu diga: “Sinto muito,
papai. Não queria que tivesse sido,
estivesse sendo assim”
Sim. Eu não queria
Sim, eu mais do que lamento,
mas não vou
Não me peça
Não se canse
Eu não vou
Não vou
Não lá
Eu não quero nem desejo
Que não espere Eu então isso de mim
conhecendo minha própria empatia pelo mar da morte
●
Poemas líricos, não é?
Bah! Pois que doravante seja lírica essa podridão que trago
em mim
Seja melodramática e romântica toda a minha dor
Que se invalide o meu tormento
em nome das maravilhas da humanidade
Meu físico ostentoso contenta
Minh’alma morre de inanição.
28 e 30-03-95
13 – USE TERMOS CIENTÍFICOS
Vamos todos usar de sinonímias
Palavras que ocultam nossas verdadeiras palavras
Períodos emaranhados e antiobjetivos
Nesta vida, imprescindível é ser eloqüente
O amor, se existe, deve permanecer no âmago
Apaixonado
Não é certamente o que se quer dizer
Envolvido, sim; interligado, sim
A fraqueza transmuta-se em restrição
Parâmetros são coisas da vida social
Toda sociedade é sinonímica
Sem deixar que nada tome as formas do mistério absoluto
Dá-las-emos as formas mais camufladas
Tornemos passivas as normas e emoções
Pois hão de serem elas a gloriosa ruína mundial
Sim, rasgue os planos da vida
Repinte as cores dos sonhos
A vida agora é o mesmo símbolo
Superdotada de um conceito novo de semelhança
Use termos científicos
Use-os para ferir e elogiar as pessoas
Use-os deveras para expressar os sentimentos
Assim talvez seja resgatado do coloquial
O que é lírico
31-03-95
14 – À LUCIENE CAVAZINE
Ó imagem impecável de divina criatura
Grandiosa face pura como o nascer vago da manhã
Plana no pensamento como o rasante de celeste pássaro azul
Pronta para matar de sede como a água mata d’amor
Ó reminiscência idealizada da Mitologia
Ninfa lírica em
austero alazão dourado
Planando nas nuvens sobre o dorso de Ísis
Até ascender Afrodite
Ó fragilíssima alva e delicada rosa
A se banhar no orvalho do centro da noite
Até despojar as pétalas por seu amor ao chão
Ó afago de Deus na cabeça do planeta
Que deslumbra olhos e transborda corações
Mulher fulgurando o amor e a inspiração
31-03-95
15 – RATOS ESTÚPIDOS
Ratos estúpidos, grilos estúpidos
e a timidez sussurra o meu nome
Sim, são restritos os belos imaturos
dissecação de invertebrados, experimentação de homens
Ratos estúpidos, grilos estúpidos
Ah, nós herdamos a inteligência e as emoções!
Ah, pobres bichos estúpidos
pedimos e perdemos mais do que vocês
Ratos, grilos, sapos estúpidos
Não prestam nem mesmo para rimarem o soneto
e nem incomodam como as mariposas
Ratos assaz mais estúpidos
grilos loquazes e estúpidos
como o estúpido pavor pelos sapos
31-03-95
16 – PRIMEIRO DE ABRIL
Mentironas, mentirinhas, mentiras médias
insídias, armadilhas, “xavecadas”
a piada do ano, as melhores “estórias”
acordos de paz pelo mundo inteiro
Passos largos do país, meu time campeão
O perdão de muitas dívidas, a resposta a muitas dúvidas
É hora de sonhar o impossível
e de realizar o irrealizável
A GRANDE poesia, o livro ‘best-seller’
A harmonia gramatical, a sistemática científica
A mulher idealizada de uma vida perfeita
A verdadeira verdade em seu todo absoluto
por ela não refuto e a ninguém confundia
abre parênteses em 1º de abril
1-04-95
17 – INFIDELIDADE
Não, não, na frente dos olhos isto é horrível
Ponha os olhos na frente do coração
Faça da consciência um espelho
E passe a rever cada gesto de flerte
Pouco convívio, poucas palavras
Não pesam para ser-se anti-social
Os egoísmos são nossos filhos
Mil facetas e artimanhas para macular o amor
O coração não se vê
A consciência nada reflete
O tropeço da vida é na insurreição
Manusear e moldar a fisiologia humana
Depois ama e sorrir dormindo
Sob o “pós-repúdio” de
ver tudo normal
4-04-95
18 – CORTÊS
“Soneto petrarquiano,
soneto camoniano, soneto fabiano”
Não disfarço nem critico a derivação
Agora quero ser pai, mesmo sendo insano
Dar uma ênfase poética a minha criação
A mesma eu embalo enquanto tenho chance
Daqui a pouco chega o trem da liberdade
Que vai de uma paz conjunta até a infidelidade
E o trem da harmonia talvez não alcance
Os beijos e os afagos não estão guardados
Por não dizerem o básico a ser revelado
Nem para tudo a simbologia dos versos aceita relação
A infância poética não é de imposição
Seu poderio que não pode ser negado
Faz-se de funesto à adulação.
4-04-95
19 – MEU NOME, MEU SER
I
Meu nome, meu ser
Meu nome
Meu nome
Minha nomenclatura do ser comum
Minhas aptidões e minhas carências
Meus defeitos e meus desejos
Meus pensamentos especiais
Que ao menos a mim me parecem
Meu tudo, meu simples
Meu eu.
Fabiano Santos Pereira de Sousa
(um bis de toda a estrofe para compor o meu ser).
II
Cale a boca, Alberto
Caieiro
Não creias que conheces tão bem os símbolos
E nem conheces tão bem a ti mesmo
Tão lúcido, tão intacto!
Passaste pensando em não pensar nada
E pensando em não pensar nada pensava coisas demais
Porque para não se pensar numa coisa é preciso antes pensar
na coisa que não deve ser
Pensada
Uma atitude impensada de pensar que consome o próprio
pensamento
E a vida se torna de todas a mais comum.
III
Calem-se também poetas, críticos e leitores que concordam
comigo
Não tenho a verdade de todo em absoluto
O meu ângulo visual nem é mesmo transversal
O que tinha de Caieiro
Talvez não tenha mais
Nada é o mesmo
Todo certo instante é único
Cada estado e sentido são exclusivos
Não quero saber o que difere esta pedra da pedra de um
minuto atrás
Estou certo, pois, que esta pedra não é a pedra de um minuto
atrás
Posto que só pode ser a pedra d’agora
O resto é ilusão.
(26-01-95)
IV
Preciso estar de fato apaixonado para realmente sentir
Com toda a minha naturalidade, com toda minha angústia
Feliz totalmente a gente nunca é
Errado ou não, quer-se sempre algo mais
Correto ou não, mas sempre contente com o que se tem
Viver não é ir a um mero parque de diversões
Feito essencialmente excitante certamente por ser efêmero
Também não é ir a tendas de cartomantes ciganas
Com bolas de cristal dejetando filosofias
Viver é bem mais simples do que isso
Embora de compreensão muito além dos nossos meros limites.
V
Nosso eterno mundo é de comparações
Por que ser e não ser assim...
Por que está ou não está errado...
O mundo onde cada um é tão individual
Poderia ser o mundo de uma só pessoa
E as outras pessoas também teriam o seu próprio mundo
A humanidade não existiria
A não ser para quem tivesse nas mãos o Universo
E de um só ângulo olhasse todos os mundos
O indivíduo do mundo adormeceria
De sua costela, mulher nenhuma se criaria
Amaldiçoaria o ato de sua criação
Sucumbiria a orgias de sua carne
Guerrearia contra si mesmo
E tudo destruiria para se convencer de sua grandeza
Crucificar-se-ia
E odiaria o seu individualismo
Só então perceberia que poderia amar
Apenas amar a si mesmo
Como a mais ninguém.
VI
Não pretendi ensinar quão a falta de amor mancha a criação
Apenas disse palavras de amor porque estou amando
Como sempre precisei estar em cada momento de minha vida
Como preciso do perdão porquanto eu falhei
Meu amor d’agora é vago e gentil
Qual não se troca jamais por nenhum outro
A água límpida da fonte cristalina dando um banho na alma
Até o sorriso é diferente
VII
Não vou me importar de falar dela
Por senti-la em mim comecei o poema
Ela em mim por ser única
Sua capacidade de inspirar
Deslumbrar, seduzir
Irrompendo a rústica armadura de meu ser.
VIII
Algumas pessoas dizem “oi”
Outras dizem “Oi. Tudo
bem?”
Há mesmo aquelas que não dizem nada
Aquelas que dizem “oi”
na hora errada
Quando deveriam apenas sorrir
Ou que apenas sorriem
Quando deveriam dizer “eu
te amo”.
IX
A dor não é para sempre
Iludem-se os que pensam que ela é
Se algo de nós fosse para sempre
Mais fácil seria ser o amor
Sendo fácil o amor não seria o mesmo
E aí sim, talvez a dor quisesse ser eterna
Mas não seria
A vida é magnífica
Porque a dor não é para sempre.
X
O que é bom é inquestionável
Seja o que pode o corpo, a mente ou o espírito
Por isso, ser impassível é ser pedante
Pode-se ter a pele mais dura
A mente desconfiada e parcialmente fechada
E o espírito adormecido
Ou sucumbir aos dois ou a um
Mas isso nunca destruirá a tua natureza
Na essência do teu âmago ela reina
E ela sabe; o que é bom é inquestionável.
XI
ÀS VEZES EU PRECISO DE INSPIRAÇÃO
E às vezes preciso apenas de alguém para abraçar
Alguém que me ame
E se possível me compreenda
Ou no mínimo alguém que também precise abraçar
E ser abraçada
Sem análises e frases longas
Isso não é estar apaixonado
Por isso também preciso me apaixonar
Sonhar com esposa, filhos e a natureza
Sonhar tudo isso com você nos meus braços
É mais do que uma simples insinuação
Não quero saber qual seria minha maior alegria
A alegria necessária é suficiente
Que começa a nascer quando se aprende a amar
O que invalida é como a inspiração
Pra prosperar é preciso sinceridade
BOBAGEM!
TALVEZ NÃO SE POSSA MESMO ESCOLHER.
XII
JESUS; filho do DEUS vivo
Esmagador dos deuses falsos da terra
Desprezastes a ignorância dos homens
Exercendo sobre eles a piedade e o exemplo
Guardai-nos com os vossos anjos
Desse mal que não descansa
Livrai-nos de sua fúria
E tende piedade de nós.
XIII
Não me cabe olhar a civilização
Mais do que civilizar
Não cabe a eu almejar o bem
Mais do que beneficiar
Como poderia exaltar o amor
Senão amando?
Fazer não basta
Tem de perdurar.
(27/01/95)
XIV
Se vier a morte amanhã
Não há de mudar muito o meu “agora”
O meu “hoje” será,
da mesma forma, tranqüilo
O que eu sei é que se a morte vier ou não vier
O amanhã virá
E não espero de amanhã mais do que faço hoje
Assim viver seria um equívoco
A espera da vinda de um outro dia
Que sempre sendo o atual terminaria.
XV
Tudo o que eu digo são palpites
Assim como a minha morte oscila entre acidente de trânsito e
ataque cardíaco
Flagro-me convicto demais, desconfio
A não ser que não veja mais nada
Quando se ama não se fala de morte
Besteira! Só por que ser amor, amor não muda
Mudar é se destruir
Em nome de perspectivas
Diz-se disso “apostar”
Não aposto na vida
Tudo o que digo são palpites.
XVI
A paixão tortura
O amor é mais calmo e simples
Às vezes é necessário dizer “eu te amo” sem esperar resposta
Mas quase sempre isso é frustrante para nossa sensibilidade
Queria afogar-me
Afogar-me num mar de naturalidade
Ser ator convicto cobre as fraquezas
Mas não encobre a voz que me diz que é uma peça
Exumaria minha mente
Racharia meu crânio e examinaria meu cérebro
Tripudiaria sobre ele, esmagá-lo-ia
E fitaria as mortalhas de suas partículas
Já com meu coração nada disso faria
Ainda que reconhecesse a mesma voz da intromissão
Apenas o fitaria com
desdém
O coração é a paixão
O cérebro, o amor.
XVII
Meu canto não é como o meu sentir
(às vezes é)
Daí, logicamente, meus versos não são como a minha música
Cantando eu sinto mais depressa
Depressa como o dia não passa
Na poesia sou mais detalhista
E mais informal
Fundamentei minha obra numa espécie de liberdade
Que bela ou vã está satisfeita
Luciene Cavazine.
Por que está aqui esse nome?
Por que achas que está aqui?
Porque é para estar.
É para irromper as fronteiras de minha obra
Como brilha doce e intensa em minha vida
Dane-se saber o que se sente
Sente-se
Sinto
Sento.
A mágoa me entoja
Mas mágoa, descaso, arrependimento, depressão são primos
Não se cela nada
Nem se cela o amor
Como se carimba uma carta de correio
O que se veda com certeza é só as tampas dos caixões
E o ensejo da hipocrisia.
LUCIENE CAVAZINE
Não fecho minha boca para falar de amor
Se flui com graça em minha prosa e canto
Se jeito e olhos, e boca me inspiram
E nem em mim mesmo quero ser sozinho
Podendo estar mais contente
Não pares quando peço um tempo
Fujo, sou rápido!
Sabendo que logo te esperarei
Abraçado ao motivo para ficarmos juntos.
XVIII
Quem disse que o amor é lindo?
Nada de lindo tem
Nada é bonito demais para ser lindo
Lindo é uma palavra fútil
A minha compreensão é fútil
Fútil é uma
palavra fútil
E lindo é uma
palavra linda!
Deixamos as cousas evadirem-se por elas mesmas
Afinal, somos os pais das palavras fúteis
E os propagadores de uma vida linda...
(28/01/95)
XIX
Às vezes queria agir sem pensar
Às vezes queria “impensar”
Que meu cérebro apenas me conduzisse
E soubesse amar sem pensar
Pensar é um desafio
De lutas intrínsecas por compensações
Instintivamente se vê a linha do horizonte
A milhares de quilômetros do mar
Pensar é ser mar
Transcrever o vaivém de suas ondas
Quando o meu peito fica pesado
Só queria pensar em sentir
Sentir não é pensar
Sentir é pensar além.
Um poema é um poema
Uma música é uma música
Coisas que não pensam e não sentem
Transcrevem-nos apenas
Como transcrevemos o mar
Que “retranscreve” os
nossos pensamentos
O país dos pensamentos é um tanto inóspito
Ao Amor
É sombrio e hostil
Mas, ele sobrevive
Em toda parte de meu ser
Personificar e comparar a nós mesmos
É importante demais
É exaltar a maravilha da criação
Como não poderia deixar de ser
Personificar é estar pensando
As pessoas mais livres pensam menos do que eu.
(29/01/95)
XX
MUDAR.
Palavras não podem mudar as pessoas.
As mentes só têm as respostas.
Mudar?
Palavras não podem mudar as pessoas?
As mentes? Só têm as respostas?
Algumas pessoas esquecem-se de se conter
Falta saber qual o peso das palavras
E quando realmente tocamos a realidade
Oh! Garotas e algemas...
(30/01/95)
XXI
Entregar-se aos sentimentos não traduz libertação
A liberdade inexiste
A realização é uma sombra
Uma sombra do tamanho
dos sonhos
Ofuscando o
concretismo
Gostaria de viver deveras o sentido da
Li-ber-ta-ção
Indo além da simples utopia
Só o que me sobra é metáfora apregoando semelhança
A minha semelhança é de todo original
Um todo chamado Humanidade
(31/01/95)
XXII
Sou um escravo do amor em fuga
Meu capataz é o meu próprio ser
Não sei onde começa e termina a minha integridade
Não vejo o meu espírito
Mas sei que ele me alimenta
Cobra-me
Deposita todo o seu peso sobre mim
E não raras vezes excede os limites da integridade
Que desconheço.
XXIII
Se me amas, pouco sabes de mim
Ou me vês num mar de ilusão
Agora, se me olhas tendo receios, e medos, e tristezas
Olhas cinco minutos ininterruptos para minha pele, meu
externo
Esquecendo-se, no entanto, de olhar minha essência
E se de fato nem imaginasses qual sentimento preponderante
tendo a despertar
Serias sábia
Se existir fosse uma ciência exata.
Mas, se olhas para a Natureza e lembra-te de mim
És sábia, pois não estás louca por me conhecer.
XXIV
À parte isso, odiar-me é poder odiar a qualquer um...
XXV
Meus olhos secam as coisas
Meu rústico olhar às vezes quer ser independente
Quer bajular a parte escura do meu cérebro
Sou um homem fraco
De mente fraca
E um espírito tênue
Vigiados pelo instinto
Fracos ao que vem de fora
Forças drenadas por intensos conflitos
Violentas explosões
Minha dor intrínseca se propaga como radiação
Eu sou um símbolo
Minha linguagem simbólica responde
Sem se preocupar se excede
Vê-se mais louvável do que um ilusionista
Estes versos poderiam levar-me mais longe
Poderiam até me libertar
Mas os tenho feito para serem escravos
E para ilustrarem uma parte de meu todo
Parte que seria meu nome
Parte teria de meu ser.
XXVI
Com muita facilidade estou cansado
Fico cansado como fico pensando
Dormindo e “impensando”
relaxo
Mas sempre pronto para pensar e me cansar
Poderiam me dizer que estes versos não têm importância
E que tudo o que eu fiz é inútil e sem graça
Isso não me cansaria
Nem me faria ficar pensando
Mas já que não dizem, penso
E daí é um passo para estar cansado.
XXVII
É fácil falar por antíteses
Cantar o bem prevalecendo o mal
Esquecer de dizer que na verdade
Ama-se a vida, os amigos e o cotidiano
Ama-se a pátria, os pais, o Universo
Apenas os olhos mantêm-se em constante movimento
Esperando ver para colher mais
Mas ama-se como eu amo.
XXVIII
A vida tem sentido por si só
Pode-se viver sem qualquer coisa abstrata
Para se respirar em nada faz falta a felicidade
À parte isso, saibas que és muito importante para mim.
XXIX
Espero que meu professor de Filosofia não queira tocar na
minha mente
Que pretensão a dele, querer tocar nas mentes!
“Filosofar é pensar”,
ele disse
Lecionando pensamentos?
Ou perdendo-se numa ciência que não é ciência
Falando de um pensar que não é pensar
E uma introspecção que não é individual?
Não, vã filosofia
Não queira abraçar a minha mente.
XXX
Uma verdade nova é estar apaixonado
Saber que por um tempo futuro pertencer-se-á
E tudo é lindo e maravilhoso
Menos quando tudo é medo e solidão
Que jaz no fitar do semblante
No beijo apaixonado, nas palavras de carinho
Estar sempre parado, a esperar
Esperando para abrir mão de si mesmo.
Tudo isso é lindo!
Tudo isso me comove como nunca antes
Achar que pertenço e estou apaixonado
Libertar-me a ponto de fitar o absurdo
Transcender o primitivo, simples, próprio, concreto...
Pela Lua eu estou apaixonado
A lua eu sempre amei
Com o meu Amor de poeta
E o meu amor de “eumano”
Guardei para Luciene
Cavazine
Para este ano, foi-me guardado sentimentalismo
Os anos seguem mesmo que tocada minh’alma
Teu seguro é a liberdade
Teu seguro és tu.
A Terra gira e já há novas mulheres em minha vida
Todas precisam de mim
Uma delas é minha irmã...
(7/02/95)
XXXI
APAIXONA-SE APENAS PELO MÉTODO DE INDUÇÃO.
XXXII
A quem possa interessar
Minha história é livre
Minha obra é apenas mais uma obra
Meu tempo é apenas mais um tempo que passa a ser escrito
Não tenho que desconfiar
Não tenho de ser inseguro
Não tenho de morrer em preocupações
Só preciso ser simples
E aproveitar o meu amor sendo eu mesmo
Amando como ama Fabiano
Santos Sousa
E até pensando como ele
Quando faz por merecer.
Achei que poderia me dividir
Achei sinceramente que ser um era ser o mesmo, um mesmo
Não é.
É mais fácil tudo na vida ser ficção.
XXXIII
Em que me encaixarão, por obséquio?
Num “extra-modernismo”?
Num “ultra-realismo”?
Num mesmo simbolismo?
Criem a História das obras, criem sua arquitetura
Até se esquecerem de proliferar.
XXXIV
Poema é o que se escreve sobre linhas fechadas
Para além de meros versos vai a divagação...
XXXV
Começo a escrever com a pretensão de fazer emergir a melhor
de todas as poesias
E agora já não posso fugir do assunto
Cada verso dá sempre o seu recado
Mesmo que nada tenha dito e nada mais tenha a dizer.
XXXVI
Sou um homem de bem
Todavia condutas não são irrepreensíveis
Se a todo instante meus pensamentos mudam, eu poderia ser
muitos
As linhas de meus horizontes querem sempre se deslocar
Fosse muitos, sobraria.
Em nome de toda minha obra até aqui atende esta poesia
Ela é minha biografia rústica e o espelho de minha essência
Uma auto-definição não me permitiria ser prolixo
Por isso ela vive de minhas palavras de praxe.
Espero casar para entrar numa nova vida
Espero casar para tudo mudar.
Daí uma espécie de biografia inteira pode apresentar nenhum
sentido
Não é necessário aparentar sentido
Vital é ser sentido
Consequentemente, sentir.
As coisas anormais de que não falo são coisas normais para
mim
Embora, do que não entenda, olho muito e falo pouco
Meu medo de errar inexiste
Pelos tantos a quem represento não passarem de mim mesmo
Não se acredita no que se diz
Conhece-se o que se pensa.
Assim mesmo, com sujeitos inexistentes
É, talvez eu ame a minha língua
“or maybe not”
XXXVII
Pudesse por mais convicção nas palavras
Não lhas poria
Bem saberia que ainda assim estaria insatisfeito
Se pudesse estar satisfeito
Mais nada teria a dizer
XXXVIII
Minha barreira não é a revelação
É a compreensão
XXXIX
Às vezes me sinto louco
Meu ser transborda neurose
Possivelmente, até um psicótico
Aí passa e resta um receio
Uma autocrítica bravia
Alguns escrúpulos piegas
De um projeto de homo-sapien
equivocado
Meu olhar parado inspira demência
E ativo é indiagnosticável
23h49min
Aqui jaz a poesia de hoje
(10/02/95)
XL
Tua lembrança vem a lume a cada instante de minha vida
Aquém pressupõe eu estar apaixonado
Levo uma vida de pressuposições
A minha inconstância é reles
Se for para duvidar do meu afã por ti
Preciso gostar de ser romântico
Minha Lua, minha luta, minha luz
Pequena cidade paradisíaca
XLI
FAÇO versos
oscilantes
Que altercam momentos como alterco emoções
Emoções animais, emoções
Alunos não são pacientes
É mais fácil ser experimento
Perdendo a meada do que se tem a dizer
A poesia te afinha, tem uma existência rebelde
E não há de se submeter.
XLI
Se teus versos dizem “pare”,
pare
Se te iludes sofrerás danos irreversíveis
Deixa teus versos serem pagãos
E porem fim à própria existência
Aja como se subsistisse sendo representado
Assim eles te fitarão com respeito
Ao autografares estabelecerás a última palavra.
XLII
Meu nome é a qualificação do que escrevo
Meu ser é seu total temperamento
Um ser e um nome comportam as existências
Meu nome, meu ser e ela são os sentidos de minha existência.
(11/02/95)
FIM
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