O
P DER
A
S
A
R
V
A
L
A
P
Introdução
Poesias são idéiassão sentimentos
sentimentos modulados em idéias
conceitos da alma e da aura
uma notável grandeza, de vital importância
uma visão emocional autêntica
exclusivamente humana
o coração da razão.
Mas o dom, onde está?
Cuja ausência tudo impossibilitaria.
O que é da poesia
sem o poder das palavras?
ANTICORPOS
Palavras doces, palavras sutisNo lugar de palavras hostis
No lugar da mais singela expressão de mágoa
Síntese de transmutação de sentimento
Dar a mão e dar de ombros
Ao invés de seus próprios escombros
O sentimento assolado
Camuflado
Iludir-se com a própria paz
Que da ilusão é deveras mais
AMOR
M
I
Z
AUTRUÍSMO
D
E
No lugar do mordaz egoísmo
E tudo mais e nada mais
Da imunidade além da genética
A sobriedade eterna do espírito.
Palavras que há tanto se diz
Não se diferem hostis ou sutis
Se não pelos insólitos confins da poesia
Que não são palavras ou expressão de arte
Mas apenas os órgãos da natureza
Resta que ações não são palavras;
Se palavras amórficas são
Difícil é entender estruturas destrutíveis
AOS POUCOS
Vais-me aos poucos conhecendoE muito de mim sabendo
Quase tudo que também o sei
Só não desvendarás, por lei
O que de mim até ofereço,
Mas também desconheço
APENAS
És orgulhosoindividualista
convencido
pretensioso
e brilhante?
És pouquíssimo de algo
que é mais do que a bondade sem brilho,
do que tudo sem nada,
do que a vida sem Deus.
Cala-te.
Sê apenas tu.
ARREDIO
A flor me dá bom diaSeus olhos me dão amor
A noite me dá o dia
Somente assim eu poderia
Ouvir o “bom dia” da flor
Meus amigos vão-se embora
Não os seguro, meus amigos
A alguns é meu jeito
Asseguram, defeito
E vêm trazendo nas costas
Verdadeiros inimigos
Durmo chorando
Porque você não me entende
Não sabe como, ou não tem por quê
Só há, evidência que não vê,
Seu próprio olhar que me rende
Quero acordar e começar o meu sonho
Sorrir encobrindo a tristeza
Mergulhar num oceano de amor
Ver do mundo sempre a beleza
Um mundo imenso e exclusivo
Nosso Pai e Mãe Natureza
BAILARINA
A meninaQue baila no chão como em nuvens
E que rodopia no êxtase dos corações
Corações que são seus pedestais
Como és dos palcos a mais bela das luzes
Emocionando com leveza e graça
O olhar fixo
Sob tantos outros desesperados por um sorriso
Alucinados pela coragem e a postura
Saibas, bailarina
A maior utopia é cumprir os teus passos
Os teus saltos, a físico-espiritual elevação
Transpassa os olhos, a mente e chegam até o espírito
Resta aplaudir-te por vários mundos
Tua brisa é como o imo da vida
Teu espírito é um pássaro
A tua linguagem é a do Universo
A arte, sangue do universo, flui-te nas veias
BEM-VINDO
Bem-vindo a um novo diaUma nova aurora de uma mesma vida, (menos um dia)
Menos todos os aniversários que tu insistes em comemorar
Não importa onde estás,
O que fazes, pensas ou sentes
Só que seja tudo novo
DEFINIÇÕES DE SER
EXISTIR?CRER EXISTIR?
CRER?
SABER?
APEGAR-SE AOS SENTIDOS?
TEORIZAR?
SER PORQUE TUDO É?
TUDO É? É O QUÊ?
TUDO É UMA EXISTÊNCIA,
OU TUDO EXISTE SEM SER?
INEXISTIR É O NÃO SER?
SER É NÃO SABER O QUE SER?
SER É SE FAZER O QUE SER?
SER É TER VIDA? SER É TER?
SER É VIVER.
VIVER?
DEFINIÇÕES DE VIVER...
ENSEADA
Qual repousa nos solos sob insondáveis aresRecitando sua força contra a resistência das rochas
E contra os homens sua grandeza linear?
O Mar
Quem passa como a não passar e vive como a não viver
Secundado como vida e como ser
Expoente máximo sob o luar?
O Mar
Quê sem física livre condição
A inconstância do romance, a melancolia do prazer expira
Mas só a paz reproduz e aceita proliferar?
O Mar
ESSÊNCIA DE LUZ
Se é parte do meu caminhoE meu olhar desnorteia
Ou de outro só anseia
O sangue de ilusão cheio
Que ilude mesmo o receio,
Mas se veio até aqui primeiro
Já não pode voltar sozinho
Sendo rosa no jardim
Que a aurora, enfim, clareia
Sofrimento que o amor custeia
Mas nem sempre com atreio
Faz o bom escravo feio
Um tiro frio e certeiro
Traz a lógica pelo fim
Se a rosa faz-se espinho
Envenenando nas suas veias
O sangue que lhe traz a ceia
Com ele a morte também veio
Fere a dor, fere o receio
E tal o tiro não verdadeiro
Verdadeiramente daninho
HOMÔNIMO
Vale o que pede, cala o que temCrente o que crê sem ver
Bom o mal que a alguém faz bem
Feliz o que chora, ido o que vem
Breve o que dura
Prazerosa a dor
De quem abraça a dor de alguém
Bela imensa vida
Horrenda morte, desdém
Ganha o que ganha, perde o que perde
Ama o que quer e quer amor também
INEPTO ÀS EMOÇÕES
Inepto às emoções...Foi dito.
Inepto às emoções?
Inepto às emoções.
Inepto às emoções!
Sim.
As emoções.
Está dito.
As emoções!
As emoções...
Emoções?
INSTINTOS
Cruéis são os instintosCruéis são os instintos
Se sinto e depois lamento
Cruéis são os instintos
Se minto
Cruéis são os instintos
Cruéis são os instintos
Se por amor põem-me faminto
Cruéis são os instintos
Frios e distintos
Não é a índole, é como um ímpeto
Inconstante e insensível
Não é o ser nem o não ser
Infindável, invisível
Cruéis são os instintos
Cruéis são os instintos
Se sinto e depois lamento
Cruéis são os instintos
Se minto
Não são os ares, é a energia
É como a vida sob a vida
Não deve a dor ou a alegria
Libertação instituída
Cruéis são os instintos
Cruéis são os instintos
Se sinto e depois lamento
Cruéis são os instintos
Se minto
L’AMOUR
Preceito normal feito de papelãoNotado e prostrado na matéria vil
Vasto tênue e amorfo, (não de morfina)
Devasta e jaz bravo servil
Compreendes o que de nós é feito, anjo
Trocarás a minha mão pela da tua natureza?
Opor-se à própria gênese,
Expor-se à luz acesa...
Não deve ser assim, não pode ser isso!
Médio mas simples, mero delito
Como ausência despontamos
Na omissão nos inserimos
L’amour, anjo, não se constrói
Com belezas que ferem, olhares que fascinam
Mas duela contra o tempo num flerte infinito
Na simplicidade mística embala os sonhos perdidos
Nos profundos esconsos do âmago
No âmago dos homens e do mundo
Mundo abstrato de sonho
O sonho perfeito: l’amour
LIBERDADE VIGIADA
Tragam-me os olhos que me traemEm longe vida longa e mesma
Ouçam as palavras que me ferem
Espreitem doces os quais acuso
Deslizem palmas que não me tocam
Têm o vazio por defesa
Instintos tenros que não são meus
A promotoria da beleza
Jurados briosos tão saturados
Tão saturados de ausência
Laços aquém de amizade
Não por vida social
Cores que não vislumbro
Passos que se afastam
Severo meritíssimo
Quem por mim não bate
LIRA
Sinal de devaneioLira que a memória guarda
Sombra viva da poesia
Reluzente austera farda
Beleza rara, esplendorosa
Deponha as armas e então fascine
Jaqueline
Íntimo silencioso, profundo ímpio
Afogado na mais doce ternura
Certamente não transborda
Displicente se censura
A magia que tudo redime
Jaqueline
Um mundo maior do que o sonho
O sonho maior do mundo
Luz emanando vida
Vida em eterno segundo
Menina e grata delícia
Templo e reino sublime
Jaqueline
As águas do Paraíso
Deusa de todo o azul
Ceda a flor da pele
O esplendor do norte ao sul
Se a imagem não alimenta
Que a matéria determine
Jaqueline
Recompensas vêm e vão
Pequenas e grandes, mesmos lugares
Jamais se revelam
Incitam ainda como olhares
Queres saber o que sinto?
Sintas, não imagine
Jaqueline
MENSAGENS QUE SE SEGUEM
Venho pôr censura em atos concretosSe impávidos serviram, não com endereço
Libertinos, vis donos da verdade
Que em verdade viveram nada
Teoremas prescrevem o que se crê
Escudos ocultados com imposturas
Idéias são idéias, homens são homens
De cada homem, no mínimo uma idéia.
NÃO VIESTE
Nas noites e nos dias de todos os meus diasEsperei-te assim, confiante
Calmo e nada exultante
Transcendendo da razão à fantasia
Fantasia que se não esvai sozinha
Não também o receio mestre
Que não houve, como não vieste
Que ainda agora m’afinha
Objetiva é a tranqüilidade pungente
Que com gente ou sem gente me põe sempre tranqüilo
De libido branda e inocente
Tácito impenetrante
Pena persuadi-lo
Só não vieste, simplesmente
O ESTRANHO
Divago por sorte e belezaAlmejo tenra fantasia
Anseio por palavras sutis
Sublimes por serem tardias
Veementes imperiais
Romances à revelia
Luz que traz deveras
Ânsia que não sacia
Simples estarrecedor
Encanto sem simpatia
Fruto da inverdade
Serpente da poesia
Busca enaltecida
Fútil mitologia
Dias que vão embora,
Vinda de outros dias
Asa remanescente
Que de altos sonhos pendia
Brio em estado de ser
Ser que não seduzia
Fé que nos toma a frente
Frente que recuaria
Lua que brilha sempre
Sempre que cessaria
O MAR E A LUA
Ouça;deverás nascer cauto
esperam maldizer-te
vibrem teus intempestivos sonhos
Terás que partir
Não deixarás nenhuma lágrima
Mesmo elas estão contadas
Sabes a qual desmerecer?
Diga;
palavras, a quem ferirão
de pedantes anfitriões?
Tão tolo seria abster-te da tua força
para calar um libertino
Perdoa-me, em verdade
se te arrelio com íntimas convicções
Já me foge tua existência
Conquistaste teu semblante
Deixaste de ser algo que comigo jaz
Confunde-te, novo, aos sinos
que te vão deflorar a perfeita harmonia
És dama tão bonita
Teu corpo são brados
Tua alma é tonal
ANJOS FIGURADOS
Todas as coisas na forma de sonhoTodos os sonhos têm cheiro de anjo
Em todo anjo há um pingo de dúvida
Tende toda dúvida a aliciar
Lábios ardentes que flamam
De anjos sagazes humanos
Longe aqui do celeste
Nos divinos laços do amor
Todas as asas são livres
Todas as jaulas são crime
Deixam-nos os sonhos as flores
Terrenas armas dos anjos
Auras viram mulheres
Auroras inspiram bravura
Desfaz-se templo em ruínas
As asas que sobram são paz
O QUE SE ACABA
O que se acaba é o que não se valorizaEsvaído o sentido da existência
O que perdura é o que se retém na memória
O que se acaba é o que oferece a certeza plena da conquista
E não se renova
O que se mantém é só com o trabalho
O que se acaba é o que se desperdiça
Sem ideal e sem causa
Perpétua é a sabedoria
O que se acaba é a superfície
Tudo o que não é essência
O que reluz eterno é o âmago
O que se acaba é o que se economiza
E tudo o que há mais de mesquinho
Só nos frutos que distribuímos com amor vencemos
Porque amor é o que mais fica.
ONTEM
Fitei a minha vida ontemQue partiu para ser antes nas barreiras de ontem
Prestes a ser anteontem
E ante... ante...
Ontem.
Ah, este tempo impassível!
Na condição de ser fator soberano
Arrebata, apossa-se de nossos “ontens” e “anteontens”
Nossas “outroras”, nossas “outr’eras”, nossa essência
Faz-se cárcere eterno de cada fragmento de lembrança
Mas não, não quero a chave para ontem ou amanhã
A resposta para ambos traço agora, hoje
Pois sendo hoje, farei o amanhã
E d’amanhã serei
ontem...
PARA 3 NOVAS VISÕES
Os olhos se abrem pela primeira vezE tudo o que era praxe passa a ser novo
O mundo faz-se um sonho permanente
Três vivas para a liberdade de impressão: (viva X viva X viva)
Tudo o que satura compõe-se em novidade
Ares carregados se esvaem
Confábulos, sorrisos em pequeno espaço
Três hurras para a criatividade: (hip-hip hurra X hip-hip hurra X hip-hip)
O ânimo, a prova ascendente
Primeiros passos demorados para não cair
Caminhos tortuosos feitos de passarela
Palmas para a nova coleção: (palmas X palmas X palmas)
Até chegar à mordaz fronteira
Rematando a álacre ficção
Soprar a chama à prova tua brasa
Apupos para tal condição: (Uh! X Uh! X Uh!)
PARÂMETRO A2
TransamosCom a veracidade do sentido do amor
Um ato sexual pleno e voraz
Nublado de beleza poética
Além de prazer e magia
Rompimento dos laços
Asas dadas aos instintos
Corpos que fulguram e latejam
Na árdua peleja do desejo
Fluem então as energias
Amálgama dos loucos, até a explosão do êxtase
Em altas nuvens de relax pousamos como um único ser
Até as forças se recomporem em equilíbrio
Enlaçamos as mãos
Elas nuas, nós já vestidos
Nosso desejo é imenso
Nosso amor é real
Abraçamo-nos
Trocamos olhares por sonhos
Com carinho, toco você
E todos os sentimentos percebo
“te amo”, eu digo e nasce-lhe um sorriso
E para não o perder, seus lábios tateio
E eles me levam a viajar
Agora são os instintos humanos despidos
E são só sensibilidade
Todo anseio já cabe no coração
A ternura e a inocência dos planos
Como de uma virgem, o receio natural da dor...
Falamos em casamento
E com ênfase, conjecturamos sobre nossos filhos
PEGUEM-ME A MÃO
Peguem-me a mão e me puxemtodavia sem me arrancarem o braço
Não sacudam os órgãos de minha música
Não desmantelem os ossos de minh’alma
Pois não terão o que querem de mim
senão comigo
Não terão o que querem de mim
sem mim
Olhem com ternura em meus olhos
mas sem me agredirem o coração
Deslizem suas palmas sobre o meu corpo
mas sem me violarem com as suas impurezas
Pois não terão o que querem de mim
senão comigo
Não terão o que querem de mim
sem mim
Abram-me os olhos a sua clareza
sem me convencerem, (que eu me convença por mim só)
Previnam-me sobre os males que trago comigo
mas sem me conduzirem à abjeção da dependência
Pois não terão o que querem de mim
senão comigo
Não terão o que querem de mim
sem mim
Brindemos a sua cultura
sem deixarmos de saudar as minhas próprias crenças
Só não me definam seu amor
porque do meu não me despeço
E não terão o que querem de mim
senão comigo
Não terão o que querem de mim
sem mim
PLORIFERAÇÃO
Dos meus males purifico tudo o que fizPois muito de mim sinto imortalizar
Grande ou vão
Primordial ou piegas
Novo ou notório
Porque sou eu:
Grande ou vão
Primordial ou piegas
Novo ou notório
Os males que comigo trago
Só de meu físico se alimentam
Consomem-me somente o ser
Que passa
E o meu espírito
Multipartido
É o que se mantém...
POETISA
Pego pelo ponto fracoExpresso o amor com mais cuidado
Muito mais vulnerável
também, a bela e a poesia
Piedade para os fracos e sensíveis
na beleza
da bela e da poesia
e em poesia bela
que seja bela a poesia
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NA TERRA DA POESIA
Queres nascerés imperiosa, tens um brilho puro e celestial
da temível inocência viva oriunda do bem e do mal
Queres nascer;
e antes de o fazeres já não podem impedir-te
Com graça e compostura aprendeste a reluzir-te
Impossível, pelo desvio, seduzir-te
Queres nascer;
não me oponho, como não se opõe o pai subjugado
o sofrer que deveras traz é no amor recompensado
ainda que me contorne, cego aprisionado
Queres nascer;
sempre a cercar seu mundo como um horizonte
mais do que independência, sonhas também ser fonte
Ter imparcial posição
Sinto, no imo do coração
que queres nascer-te...
ROSAS ROSAS E ROSAS AZUIS
O poeta não é loucoPorque ama
Louco sim é o que ama
Sem ser poeta
Ou o que se diz poeta
E não ama
Não se sabe se amar é lícito
Pois não é lógico
Doravante nada lógico
Será ser poeta
Sendo amante
É deveras mais lógico o que ama, entretanto,
Longe da poesia
E toda loucura do poema
Lógico de amor
ROSA-VENENO
Eu, poeta? Ah, quem dera!Se por um instante ousei, não sei
Ao longe foi tudo o que pensei
e mesmo o qu’inda penso me não espera
Rimas, canções, universo
tudo pronto, em nome do amor
os não feitos para o vazio
transformam-se em ódio e dor
O ódio corrói a alma
A acidez da dor digere a vida
Sonhos lindos, livres, teus
somente te poderão purificar
Vida real, inconsciente
Não manipula, apenas ensina
Energiza ilimitadamente com poder
e destrói apenas com a verdade
SONETO AO AMOR
Onde estais amor de minha vidaQue não ainda provastes com glória
Não serdes um surto de memória
Após serdes meu infanticida?
Por que viveis ainda ocluso
Se a pátria em meu peito chora?
De dentro é o que vai fora
Ou fora está dentro em desuso?
Sois inspiração que o artista aguarda
Ou um tesouro de época sem mais valia
Fosses antes o tempo que não falha, não tarda
Astro reluzente da noite e do dia
Que distância não há que vos menos arda
Até vos mostrar, plena poesia
TESES
Acredito no sentimentoE dele desconfio
Acredito em mim
E me decepciono, ou não
O amor é real
Embora se lute contra isso por conveniência
Os homens choram
As mulheres não
Eu não conheço a sua dor
Ela existe mais arbitrária
À frágil presa
E se nada disso vivi
Tudo são teses, tudo é fé
Eu só vejo a beleza
Quando nela me perco
E se me perco
Aí desconfio
E crio.
Os homens erram
Para serem homens
E serem menos
Do que quem os fez
E se redimem
Os de verdade
TRISTE
Não, não me peça para não ficar tristeNão me faça reluzir onde só estou opaco
Não me cobre ser chama se só sou fumaça
Eu não vivo? Você não vive?
Criações que somos da linha viva
Assim, subexiste a ímpia tristeza
Eu sei, não queremos permanecer tristes,
passivos escravos da melancolia
Voltaremos a querer a alegria
Deveremos recuperar os sorrisos
e a ânsia pela busca da felicidade
mas não agora, não hoje.
Não, não me peça para não ficar triste
Não cobres de mim a dissipação superespontânea
Acaso pareço de tristeza instantânea?
Outros dias ela vai e vem
e para nos dias que tenho comigo
Não de mim queira coisas impossíveis
nem coisas possíveis além de minha vontade
Não percebe que preciso estar triste?
Canalizar tanta mágoa, tanta dor
A tristeza não é uma fuga
embora tantas fugas ofereça
É como sonhar
Como comer, andar e dormir
É uma lícita invasão
das fontes espúrias de evasão.
Exceto o não ficar triste, peça-me o que quiser
ou feche os olhos e durma ao embalo das nuvens
Meu sentido é ambíguo como o mar, a tristeza
divergindo o ficar, o estar e o ser
(triste)
VALORES SOCIAIS
Saberás ver a mentira em meus olhosEste mundo não me pertence
A poesia se renova
O crescer atropela a vida
A mente cansada quase não se refaz
As missões previsíveis quase sempre procedem
À parte tudo isso
Restam as verdades da vida
A beleza feminina é precisa
Não é dúbia, nem traz sentido figurado
Aqui não caberia sua afabilidade e inteligência
Só a física e a metafísica da forma
Os valores sociais ferem o livre-arbítrio
Vivaz, assaz, cediço o tropeço das ideologias vigentes
As grandes visões se deturparam e seguem o mesmo rumo
A um passo da Filosofia
Tamanha pretensão humana!
Abraçar o mundo...
Ser você mesmo
Altera o tamanho da sua dignidade.
VALORES
Dormirás para me terE despertarás tempo além
E outra vez dormirás
Por me ter
Olharás com vontade para teus valores plantados
E te desvendarei em nosso leito
Descobrirás teus princípios, teus propósitos
Não faremos amor
De amor seremos feitos
Lúcido, maior do que nós
Não quero teus valores menores do que os meus
Qual no grande deserto
Belos castelos inanimados
Quero te fazer parte de mim
Meu amor, entenda
Não desista, me procure
Estou sempre perto
E se fosse fácil seria bobo
Tão bobo!
Até amanhã, querida
A BUSCA DOS SENTIDOS INEFÁVEIS
Mostra-me teu corpoE abre-se um sorriso em minh’alma
A poesia não é uma linguagem
De mera desenvolta assepsia
A poesia, para mim, é teu corpo
As décimas em teu ser, tua forma de soneto
Teus olhos românticos, tua boca harmônica
Teus mistérios perfeitamente indescritíveis
Tem o sexo em tudo, a poesia
A excitação das rimas
O orgasmo do verso derradeiro...
Mas nem as palavras nem a exaustão
Tenderão tranqüilas a ser poesia
Se não são tua boca, teus olhos, teu corpo
A INVASÃO DOS MARES
Os loquazes estão cansadosDe tanta filosofia
Os poetas, desmotivados
A tecerem poesia
Os atores desapontados
Por fingirem a cada dia
O pintor está lavando
As telas que coloria
O cantor está morrendo
Na sempre mesma melodia
Que segue o compositor horrendo
A extrair com maestria
As artes seguirão sempre
Com ou sem a alegria
As mentes se propagam cheias
As almas choram vazias
A vida ainda é bela
A beleza é que é mais fria
X(versus)
O sonho é delaA dor sou eu
Doces pecados
Fria inocência
O azul do mar
Tão melancólico
Que em contraste
Reflete o sol
A vida mansa
Que não tem brisa
Pois a brisa os mansos
Não acalenta
Falar verdade
É ter certeza
Na ingênua nossa
Vã natureza
Ter a certeza
É se arriscar
Sábia Ciência
A que explica
Com veemência
E hipocrisia
A decadência
Da sedução
Gerando a super
população
Nomeia morte
Chamada tempo.
A vida é dela
Real sou eu
Belo deserto
Não gera flores
A minha sorte é uma armadilha
Nos seus braços
Não morrerei
Nenhum comentário:
Postar um comentário