sexta-feira, 28 de setembro de 2018

TEMPOS FELIZES (OU O SINCRONISMO DO MUNDO) - 1995


FABIANO SANTOS SOUSA




TEMPOS FELIZES


Ou

O SINCRONISMO DO MUNDO













“Atribui-se a cada coisa sua respectiva importância e começa-se a aprender a ser justo”

Fss





































à Danielle
(Deus sabe por quê.)








A ÚLTIMA POESIA


Versos cantados, versos errados
que passam por críticas e censura prévia
versos perdidos, ou ultrapassados
carregam a frustração de uma esperança férvida

Versos reais, versos ilusórios
imortalizados, ou nunca conhecidos
versos de humor, versos de toda uma vida
em muito menos que isso são esquecidos

Versos mentindo, buscando atenção
servindo uma vida, fazendo-se armas
versos revelando o seu próprio ser
vão superando quem está a escrever
e já têm um corpo, uma mente, uma alma

Versos que brincam com as emoções
sabem ser frios mesmo ao falarem de amor
fora da difícil arte do sentido,
feitos não para serem entendidos,
mas fazem sorrir, aliviam a dor

























PERGUNTASTE POR MIM


Perguntaste por mim;
enchendo minh’alma de sorriso e desejo
Perguntaste por mim;
consolando minha dor por quando não te vejo
O quanto quiseres sempre hei de estar contigo...
Ah! Como amigo...

Perguntaste por mim
longe e aquém, em minha memória
Perguntaste por mim
ser tua lembrança é meu sonho, minha glória
Além estar contigo na alegria e no perigo
Ah! Como amigo...

Perguntaste por mim
Eu, templo onde reina teu semblante no horizonte
Perguntaste por mim
do êxtase do meu ser, a mais prima fonte
Sou todo devoção, servidão sem castigo
Ah! Como amigo...

Perguntaste por mim
com carinho, com ternura, com fiel preocupação
Perguntaste por mim
Devo estar feliz por me teres no coração
e aceitar minha sina que o que vale é estar contigo
Ah! Como amigo...




















A TEORIA DA INDIVIDUALIDADE


Não são palavras que geram reviravoltas
Nem teorias
Não somos nós que outorgamos a nossa vida
Não há plurais
Inexistem pessoas
Toda condição emana de um ponto.

Toda vida é uma e única
Da mesma fonte oriunda
Onde vive toda a força
Por isso nada supera o afã
E só o limite limita.

Os acontecimentos são maleáveis
O presente sempre é amorfo
Não vivemos em função do que sentimos
Mas do que sentiremos em tempo futuro.

As necessidades reles se evidenciam
As vitalidades serão sempre sutis
O resto é ensejo latente
Enrustido, disfarçado de sapiência.

Fértil é o presente
Cada ato atual em emersão
é o impulso de asseguração da existência
A vida é a existência
E olhos cansados não vêem além.

















SEM MÁCULA


À Dani M

Foste minha amiga, ou o amor de minha vida?
Não, não quero saber de nada antes que anoiteça
Tocas-te-me apenas porque és mulher
Ou uma força eterna e sem concessão?

Porque não é o ser mulher, ou ser homem, mas ser gente
Ser assaz indulgente com a figura do mundo
O espelho que estampa toda a Natureza
Na boca em que como canto ressoa o meu nome

E não há de ficar em nossa história
A mácula que remata todas as histórias
































A VOZ DA POESIA


A voz da poesia
Não é o “bom dia”
Nem o som do Sol

Não ecoa sinfonia
Pela brisa fria
Ou o arrebol

A textura da poesia
É a liberdade
E a invenção

A surreal filosofia
A vital necessidade
Da inovação

Se livre, ou se rimaria
Se soneto, copla,
décima, ou estrombote

Se alegra ou arredia
Se afaga
Ou se dá o bote

A voz da poesia
A superfície, a tinta
E um ideal

De fonte jamais vazia
Emerge distinta
Ressoa natural















EU TE AMO


Eu te amo, eu te amo, eu te amo
Preciso dizer; e daí?
Não me importa se verão como uma arma
Não me importa se verão o que não vejo
Ou se verão além de mim
Eu te amo
E que não se ouse questionar a minha evasão

O fato é que o amor me integra
E amar me entrega
Talvez soasse melhor apenas “eu amo”
Se o “eu” não fosse solúvel no ar

Eu te amo
Já não posso cessar de dizer
É por isso que sofro
E que deveras creio na felicidade

Eu te amo, eu te amo, eu te amo
E esta certeza me basta





















CORDA-BAMBA: TRAVESSIA DE CEGOS


Bom dia, luzes; ares do mundo!
Boa noite, noite do subterfúgio
Bom dia, relvas, ares poéticos
Alô, poetas do baço mundo!

Bom dia, príncipes e genitores
Saudações lânguidas aos jovens lampeiros
Olá malucos ou apenas cômicos
Um bom dia triste para os taciturnos

Bom dia, sombras de fiel repouso
Flores efêmeras, bom dia, flores
Todos os símbolos pra se divagar

Congratulações, meu caro sapo
Como vai a ninhada, senhor gato?
Bom dia, insetos, vermes e vírus
Todos os demais organismos

Préstimos meus às damas virgens
Paz a todas as mulheres do mundo
Queridas crianças, bom dia
Também à insidiosa juventude

Plebeus, pobres, tenham um bom dia
Que só o dia seja o mesmo

Bom dia, sereias, bruxas e vampiros
“Hello” a todos os de ‘Halloween’
Apelos da cultura popular de massa
Gorbatchov, Pelé, Frank Sinatra
Tarados, infanticidas
Sociopatas fiéis
Igrejas Universais

Bom dia, talentos e vergonhas do Brasil
O que ainda esperam
Os que ainda esperam
Esqueçam
Simples congratulações a todos!






ALUSÃO DE SÍMBOLOS


Outrora foi tempo de dizer palavras frívolas
De apreciar mágoas, cicatrizar com dor
Já foi o tempo de desdenhar das amizades
De caminhar no escuro por antipatizar com a luz

Outrora foi todo o tempo dedicado aos lamentos
Dos gestos apáticos, dos julgamentos ressabiados
Da busca desmedida pela felicidade fácil
Sem reflexão ou sentido

Agora é tempo de amar e respeitar
De dar voz aos desejos e dar vez aos sonhos
Hoje é o Sol
Transcendendo as nuvens
































DEVORADOR DE FRONTEIRAS


Sou uma máquina
Apontam-me todos os meus instintos
Sou máquina
As estradas do mundo são relativas a isso
A raiva impulsiona o meu debandar
O medo me desacelera
Transito em mil direções
Rodo como roda o mundo

Sou máquina
Um complexo plexo dirigível
Transporto tragédias e paisagens
E caminho sempre para o mar

Indecifrável explicação
“Eu-máquina”
Em eterna carona pelo mundo





























O QUE É


Serve-me, mas não me basta
A Liberdade
É o ego
Concomitante com a minha sanidade

Se me ocupo das rimas, rimo
Teço ética da estrutura poética
Transmutando do mar para o rio, rio
E mais rio quando toda a paz do dia irradia

Vem a expectativa e me cativa
De toda a sorte imaginada resta quase o nada
Reclamações são as ações
E depressão é a pior pressão


Até celebrar mais uma festa; esta
O olhar vago à revelia tudo lia
Agradecendo sendo
Agradecer ser


























SÓ O QUE VALE É SABER


Saibas neste curto tempo
Que sou só mais um que te amaria se quisesses
Mas não importa
Só o que vale é saber










































LEITE EM PÓ INTEGRAL


O que sabemos do amor?
Não do sexo do amor
Que variavelmente fazemos
Arrebatados e apossados por sua persuasão

O amor é invariável
Independente sem dependência, expansivo sem possessão
Composição única de compreensão difícil

Só sabemos do amor que amar é bom...




































BELEZA


Uma beleza divinal desceu do espaço
parou nos teus olhos, iluminou-os
prosseguiu e desaguou em curvas
repousou sob os teus pés e te sustenta

Alegrou-me
Preencheu-me
Transitando em um só sentido cobriu todas as minhas vias
Alimentou para sempre minha mente e meu coração

Se há fome de beleza, és o que sacia



































SUCO DE FERRUGEM


Espírito pobre
Sem grandeza, só símbolo
Importância questionável
Olhando para haver
Seu olhar espelhado sobre o mundo

Um pássaro branco veloz no infinito
No céu retilíneo como um Demóstenes convicto
Prantos prontos, encantos em cantos
O dia, a vida, o tempo
Dimensões artificiais em um televisor

As estrelas e a galáxia, o são e o absurdo
Substâncias com ou sem essência

O mundo aprisionado em minha janela
E eu aprisionado na janela que não é minha
Esse “refrescola” há tempos não é o mesmo
Talvez O2 sobre o seu ferro
Talvez conservantes sobre a minha língua

Somente à janela empresto atenção
Passa o caminhão de lixo
Os lixeiros carregam o conteúdo das latas dos restaurantes
Sem pedir autorização a ninguém
É a Rotina
Aqui é quem mais passa
Essa velhinha reumática
Que mora atrás das janelas

















CRISE DE DEPRESSÃO (hoje virtual) EVENTUAL


Vejo
Claramente visualizo
Não é um vulto; é concreto
Não há nada me sombreando o olhar
Nem nublando a minha percepção
É um elo
Absurdo de tanta certeza

Faz tenebroso o ar
O ensejo cruel do instinto
O lúgubre faz-se soturno
E mais pesa

Agora, a dor que passa sorri
Cheia de bondade e ternura
“Oi, querido! Que bom ver você!
Só que foda-se se você me ama...”
O amor que trai
A amizade que atrai
A diferença é pouca
Mas é muito mais
Pobre de mim se não vejo
É muito mais
Apenas o elo
O ponto limite
A dor satírica, sorridente
É obvio que minha mágoa é mais do que te ver
Nos braços dele

Difícil é acreditar no que digo
A voz poética é encantada
E é triste se pra ela ninguém liga
(não posso me derrubar sozinho) 
Mas não sou tão radical ao fugir da essência
Misticismos, faltas, vaidades
Não há ser o tempo inteiro integral
Sei, todavia, que a penumbra passa como brisa
Que o ‘eu profundo’ se expande como Sol
Que os misticismos irrompem como a névoa
Que as faltas submetem-se como a sede
E à água sucumbem
Também sei que vaidades cansam
Brevemente se esvaem
A vontade da nau
Desafia pouco o capitão
E o ensejo do capitão
É o destino da
Nau


Alô. Olá! Oi. Hey! Falou! Yeah! All right. E aí? Como vai? Salve! Beleza? Tchau...
(Muitas, muitas vozes)
Tantas que fica pesado o subconsciente
E tendo ainda que arrastar o corpo
Máquinas, automóveis, gritaria
Pensamentos liquefeitos pelo barulho
Poucos me abraçam para sentirem meu corpo suar frio

Megabytes de imagens sobrepostas
Desfiguram-se em um monstro invisível
Veloz se transmuta, dissipa-se
Estende-se até o fim da dispersão
Não se decompõe o homem
Não se decompõe o ser
Diferem-se corpo e espírito
Mas caminham somente juntos
Necessário é ver todos os lados de si mesmo
E estender um braço de cada vez...


A busca
O ponto de emersão, os fatores previsíveis
A sinfonia distorcida dos acontecimentos
Natureza indômita
Crises violentas às portas da cura
O confronto com o inexplicável
A metamorfose complexa
Negacionismo
Alimento para os vícios
Amuo contínuo
A busca pela solidão
E o afã pela morte que se contempla ao longe
O desdém dos valores

Porque pobre de mim se o que me atrai é a camisa de meu time
Pobre de mim se o que me toca é a paixão partilhada por uma banda
E pela arte, pelos planos, pelos sonhos, pela vida
Coitado de mim se me satisfaz sobrecarregar outras vidas
Com fragmentos meus
Tudo o que restar serão perfídias
Quase como amar com exatidão
Melhor ser a vida um poço de alusões
E de ilusões...

As lágrimas que minh’alma verte são de sangue
As lágrimas que minh’alma verte são de sangue transcendental
Sinto as farpas inofensivas da Física
E as mortais da Psicologia

Ficam rijas as ondas e não quebram
Apodrecem as flores e asfixiam
Envelhece a tenra e lírica beleza

Pode ser música só para os meus ouvidos
Verdade ao alcance
Posso superar tudo
Com toda superação permitida
Só não sobrepujar limites intrínsecos
Ou desligar sentidos
Saudades de outréns e outroras
E do futuro
Porém o futuro é uma incondição
Onde há símbolo, há fuga
Onde há símbolo existe poesia

Tudo isso e mais eu
Mudaria sem mim?

A penumbra soturna da mente
Disfunção momentânea gerada pelo medo
Medo da dor, morte e violência
Medo de tudo o que há de mais esconso

O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...
O clima se perde...



Toque
Ressurjo, pois, sujeito ao toque
Teu
Indelével

A natureza se expande?
É da natureza se expandir?
Índole, só índole
Ímpeto, apenas ímpeto
A junção das idéias e do instinto

Os olhos traem a visão que trai todos os outros sentidos
Distraída da percepção
E faz-se um ciclo
Virtual voraz invenção, fugaz da doutrina mais crível
Forma conjuração
E faz-se um ciclo


E TUDO SE REMATA COM O CANSAÇO...













































BRILHO OPACO


Eu me sinto arrastado para a tua tristeza
Quando inexoravelmente sofres
Quiçá seja só medo, mas sofres
E é horrível, pois não depende de mim

A tristeza ímpia que me deixa inerte
E com a qual todas as minhas fraquezas compactuam
Vem da tua dor vasta e sem sentido
Malefício espesso e extemporâneo

Não chores ou sofras querida minha
Só quando deveras quiseres de verdade
Não sucumbas às faltas
Preserves tua essência

E quando não der, sigas. Repartamos a angústia
Não anseies por soltar a minha mão
Confronte o teu medo com a barreira de mim
Plantando sempre o teu melhor

Não questiones merecimentos
Questione conselhos
Desconfie
Desafie
Saiba o que és
És especial
És linda
E só necessitas sorrir
Em nome de qualquer coisa que não te machuque
Mesmo eu
Porque o meu sonho é defender-te
Mas nunca de ti













“IVEL”
O HOMEM INVISÍVEL


Projeto matreiro
Passivo-sensível
Emparelham atrozes
O HOMEM INVISÍVEL
Divaga inerte
Incrível

Projeto voraz
Plausível
Cutucam na rede
O HOMEM INVISÍVEL
Refuta
Remível

Projeto mordaz
Cabível
Desdenham
DO HOMEM INVISÍVEL
Ímpio
Horrível

Projeto prolixo
Acessível
Invocam
O HOMEM INVISÍVEL
Lascivo
Temível

















ÁGUAS VIVAS


Os meus ares são águas
A minha voz é um chiar
Meu coração é o reflexo da lua
Do sol, o meu sorriso
Meu fluxo sanguíneo é de mar

A minha beleza são pérolas
Minha paciência, aves
Meus pensamentos, cardumes
Meus sentimentos, uma nau
Minha evasão é a chuva

Meu céu é o céu de todos os dias
Meu medo é o medo de todos os homens
Meu corpo é a minha massa líquida
Minha mente é a chance de me aprofundar






























REPARTI A MINHA VIDA


Reparti a minha vida;
Cantar e escrever
Além de, sobretudo, viver
Fazem acoroçoar-me a ser quem eu sou

Popularmente falando,
Cantar seria minha porção sensível,
Meu coração
Agora escrever seria os olhos do meu comportamento
Destarte, minha inteligência

Pífias, todavia, são todas as definições
Certamente ambíguas
Sei apenas que cantar sou eu
E escrever idem...
Escrever sou eu
E cantar idem...






























“VAIVEMVAI” – TERCETOS DAS LINHAS MESTRAS


Odnum ocitéc ed edadirepsorp
azeleb a rasnac a açnava
odnacidarre odot mob odiulf

Aiseop é aiépoposorp
sosrev sod oirtíbra ervil od ecaf a
amu aidórap ad adiv

Asep amuêlf, asep apluc
satsitarapes sopurg oãs soudívidni
e adot arvalap acifitsuj so soiem

A ahnim edadrev, me edadrev, oãn adum
res oãn odnum od rop odnum on aov oãn
edadrev ajes atid; sadot as sedadrev marof sadipmorroc

ahnimac a adiv san sahnil
salertse sad ratnilit o omoc odut odnedecorp
on omi zuler a avisserpxe edadivitejbus
























UM ENCONTRO COM O “EU” NAS RUAS DO ITAPEMA


Fatores psicológicos
O equilíbrio, a fadiga, o estresse
Os cinco sentidos
A dor de barriga, a chuva
Atchim! Agora resfriado
(pausa para a primeira topada)
hi hi hi hi hi
“Que é que foi, espertinho? Nunca viu?”
E chispa a bicicleta no amigo poste
Conversa um pouco que não tem ninguém olhando
“A rua tá deserta como sempre que não foi proposital”
“Isso é relativo”
“É crime, é crime. Fecha o bico e faz regime” – canta a sola
“Ai!” – foi a segunda topada
Medita a ação que futuca
Anda, anda e não vai longe
Grita: “sai de ti, saci; sai no ato, carrapato”
E acaba levando contigo o pentelho que tu mesmo és
“num pentelha” – resmunga a orelha
“Calma rapaz, tem paciência que o chão é duro”
“Que ingnorante falanu arto nu meiu da rua...”
Ir pra lá, pra onde?
Muito além dali e dacolá
“Vamu, vamu que tem festa e de sobremesa a paz de espírito”
“Calma que pressa é inimigada...”
“Ah, pró-verbio não”, diz a pedra
“Ui!” (e tome topada. Foi a terceira)
Ter a pia na cozinha ou no banheiro
Ou no quarto, ou na casinha do cachorro
Pra não ser intransigente na decoração
Só não falaalto queaqui é o pico dos malandros
“E aí, cumpadi? Pela ordi?”
Fooooooom – buzina o carro e atropela friamente o sinal vermelho
Psiu. Que gracinha!”
“Sou telepata, seu estúpido”
Espera que tem mais para rir com a (ai) quarta topada
“Fala sério um pouquinho que eu entreto a vergonha”
“Falo em casa que tem teto e luz”
“Teta o escurão e luze a lua”
Que andança sem destino que destina!
Que passeio solitário que quer mais é ver os conhecidos!
Que tramas mirabolantes latentes nessas ruas dissimuladas
Sedutoras corruptoras dos transeuntes
Aliciando suas deliciosas curvas
Puxando assunto, especulando a nossa vida
Indecente! Com as suas vergonhas de fora
Tendo tantos filhos, deveriam ao menos se dar ao respeito
Ou no mínimo conter seus filhos trombadinhas
Os “topadas” (tome-la quinta)
Bom, então me despeço da rua
O bip d’Orfeu me convida para casa
A casa
Home; “in the barrack”
O fazer coisa nenhuma no lugar nenhum aonde eu não ia
Pelo nada pra fazer lá
Não se ofenda amiga placa de retorno
Só quero que os espiões me chamem perdido
Porque já me viram
No mais, são só quarenta quilômetros
Eu dando a volta no quarteirão
O pior de tudo são essas topadas
Que já vão lá pela conta das quatorze...
Ui... opa... ai...

Fim da linha no sentido figurado
fim da linha





















TEMPOS FELIZES

À Danielle de Mello

1ª Parte (O Entardecer)


Fechados os olhos, sonhamos
Os nossos ares se enfeitam
As nossas almas flutuam
E tudo nossa visão interna verte em beleza

Feliz o homem que guarda seus sonhos
Felizes os sonos que sonham eternos
Porque o que regozija primeiro
Profundo e certo se esvai

O que nos fica do que só às mãos transpassa?
O que brota do que em sonhos se transfigura?
A razão é a estaca da vida
A beleza é a sua tenda...

Para ela o meu brilho
E a reverência de minha feição poética
Ela que me emociona
E que irrompe as barreiras da maravilha
Ela que parte
Com a enésima parte do meu coração
A se perder no espaço-tempo
A personificar o corpo e a alma da saudade
Ela que me guiou
E que me viu sem me conhecer
Que é importante demais pra deixar a tristeza
Que na memória se oculta
Atrás dos sorrisos que já me brandiu
Ela que parte sabendo
Ter no mundo, no mínimo um
Incondicional amigo
Para muito além da presença
Que os nossos destinos despedem.







2ª Parte (A Aurora)


Abrimos os olhos para partirmos
Pondo à parte as ilusões e os sonhos
O estado puro e simples de se viver é a Realidade
E seu acolhimento de limites

Por que se deixar abater?
Por que permitir que fluam lágrimas
De um rio de desespero?
Nada vale que te deixes triste
Nada importa que te descontente

Tomar, assim, sem medo as rédeas do destino
E buscar as belas imagens eternizadas na memória
Para sempre nos fortalecer.
Lembranças mágicas
Que em felicidade concreta a vida irradia
Cintila e resplandece
Pulsa e anuncia

A dor nunca te alcance
A luta nunca te canse
De alegria sejam teus dias

























MORTALMENTE


Bati às portas do meu destino
Entrada principal, porta dos fundos
Não importa
Se todas as palavras são alusões

Os sentidos mutados em sinais
São mensagens e nunca perfeitas
“Destino” é palavra suspeita
De sobrepujar o presente

A luz d’agora ainda é a luz d’algures
Apenas o ar que nos cerca pesa ou não mais
Virtude fez-se o que era praxe
E praxe fez-se coisas horrendas

Luzes; ares; pobres símbolos
Condicionados a serem representativos
Submetidos vivos como seres vivos
Mas não, nunca manipulados

Na terra discute-se tudo o que é clareza
E nega-se a desinformação
Exige-se paciência
Só a desconfiança cansa

Tomba-se a porta, forja-se o futuro
Respeita-se a soberba dos símbolos
A tua mente se liberta e liberta te pode matar
E matar...















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