FABIANO
SANTOS SOUSA
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a quem interessar
Capítulo um
Abertura
Falar de si mesmo a
outras pessoas nunca será uma experiência fácil. A literatura, por sua vez, nos
oferece o esplêndido recurso de se falar de si para si; de nós a nós mesmos.
Então, prevenido
leitor e disposto ouvinte, este livro será isso: falarei de mim, não para quem
estiver lendo, mas para mim mesmo. Qualquer outro será, (se não plenamente
alheio), completamente um intruso, ainda que de forma alguma mal visto, já que
o autoconhecimento é, na verdade, apenas o primeiro passo rumo à pluralização
harmônica que é o maior desejo a preencher todos os indivíduos. Assim,
repartir-me e questionar emocionalmente cada fragmento meu é a tarefa que
abraço e que acredito, guardadas as distintas proporções, poder-se-á servir de
espelho a quem traz na vida aspirações semelhantes as minhas. Eis aí uma função
secundária que a leitura levaria. Percebamos ainda uma terciária, que toda
leitura distrai-nos e nos lança num mar de idéias, embora, não poucas vezes,
fúteis. E eis então o objeto proposto: não uma biografia ou descrição, que
revelariam pouco ou nada do que realmente é a minha existência, o meu eu no
mundo: mas uma auto-análise imparcial onde espero não deixar escapar de mim o
menor detalhe.
Ah! Em tempo; meu
nome:
Fabiano Santos Pereira de Sousa
∞
CAPITULO DOIS
Emoções
Fluem quase tão
concretamente na minha vida quanto o sangue que me corre nas veias. Certamente
há de ser assim com todo mundo, mas todo o mundo que me importa agora é apenas
o meu, grande e complexo o bastante para eu, (o analisador), ficar ainda
procurando abstratas explicações para as emoções da humanidade. Os meus atos
são essencialmente emotivos, embora, atentamente observados pelos olhos do que
me acostumei a chamar de “meu monstro”,
quase que outro habitante da minha mente e de quem falarei com muito mais
detalhes oportunamente.
A primeira dificuldade
em que comumente esbarro é a de demonstrar simpatia e desta forma atrair a
recíproca de outrem. Percebo claramente meu apreço abrangente a todos, mas que
se torna extremamente confuso quando passam a habitar o mundo ao alcance de meu
toque. Muitas vezes me surpreendo tratando as pessoas como trataria a mim mesmo
e assim exigindo delas que aceitem a espécie de tratamento que, tranquilamente,
eu mesmo aceitaria. Embora pareça teoricamente um método carregado de senso de
justiça, é bastante ingênuo, (para não se dizer estúpido), olhar tal conceito
sob o mesmo prisma de, por exemplo, o segundo dos dois grandes mandamentos do cristianismo:
“ama
o teu próximo como a ti mesmo”
Ora, se falamos de
amor, (especialmente o Amor extremo
que Jesus pregou), aí abandonamos todas as análises intelectuais e científicas.
A inteligência e logicamente a Ciência são meros pedantes, talvez até
dispensáveis numa Existência composta por um sentimento tão puro e maravilhoso.
Já quanto ao: “faça aos outros somente o que
deseja que lhe façam” é
um instrumento muito perigoso num mundo em que o já referido sentimento de amor
ao próximo e até a si mesmo está tão deturpado e obscuro.
É fácil, portanto,
concluir que não sei lidar com as pessoas. Não sei, porque não aprendi. Não
aprendi porque não pude aprender. Não pude aprender porque provavelmente
escolhi a trilha errada no momento em que a vida tinha para mim o caminho desse
conhecimento. Mas, para isso estou aqui olhando para trás, quase que como numa
regressão espiritual. Para encontrar o que perdi, mesmo que jamais possa
reacoplá-lo, saber substituí-lo.
À parte minha
sinceridade que geralmente repele, é claro que também me valho da arte de
interpretar. Cativar ou acintar, agradar ou repelir, muitas vezes pode ser
extremamente necessário e aí é inevitável que eu molde a minha própria
natureza.
“Ora, mas no capítulo onde mais deveria ser
emotivo, (haja vista o título), revela-te um ser maquinal?!”
Maquinal todos somos.
Não sou máquina.
Sou carne e espírito;
sou um complexo de carne e espírito guiado pela síncope de minha mente: o monstro; mutante; como um vírus
nocivo; como um camaleão protegido pela sua mutação; como um ser que se enfeita
para o seu amor.
Uma defesa necessária,
por conseguinte, em prol de um bem maior
(pelo menos é o que acredito)
Para analisar-me mais
detalhadamente, apresentar-me-ei as minhas emoções quando estou:
1. – disperso;
Uma espécie de abstração pessoal parecida com a solidão, só que menos
negativista. Ainda assim, uma trilha paralela ao mundo convencional, de um
outro mundo menor e que só esconde;
2. – pretensioso;
Uma energia pedante que aparenta preencher-me com poder e sabedoria,
mas que invariavelmente cai por terra, tornando a crua verdade muito mais dura
e me deixando muito mais vulnerável;
3. – arredio
Como neste livro, procurando sempre por mim. Mais do que isso;
procurando me ajudar e me compreender em todas as circunstâncias. Obviamente,
isto muitas vezes contribui para me afastar ainda mais das pessoas, mas é um
preço que tenho que pagar para conhecer-me um pouco mais a cada dia. Assim,
colocando-me diante de mim mesmo, vou deixando de me sentir sufocado e distribuo melhor minhas
emoções internas e externas. Sou uma peça defeituosa que não se encaixa, mas
por isso mesmo, tive fabricação única e não tendo a desvalorizar;
4. – satírico;
Uma vertente de meu senso de humor. Tomado por emoção por deixar claro
o seu sentido prático. Mesmo geralmente pouco acessível, quase sempre
impressiona ou desagrada. Capaz de em uma sala lotada contar uma piada já com a
plena certeza de que rirá sozinho. Capaz dos acintes mais vis independentemente
de ser boa ou má a intenção. Uma ironia viva, rebelde e inteligente;
5. – cansado;
‘Enfim, preciso dormir... ’
“Hei, não me disperse! Afinal, de nós eu é que escrevo.”
‘São duas horas da manhã, meu caro. Eu quero
e vou dormir’
“Bem sabes que a noite me traz a maior inspiração...”
‘Isso, ou ela é só quem melhor te esconde?’
“Por que conclui assim que estou sempre
fugindo?”
‘Porque só em momentos de solidão venho à
tona. ’
“Pode não ser fuga, mas peculiar coincidência.”
‘Tais coincidências geralmente são defeitos e
raramente são virtudes. ’
“Sim, mas conclusões como esta só advirão de conversas como esta.”
‘Pois bem, mas que não sejam sempre às duas
da manhã. ’
“Pela primeira vez conversamos como amigos e eu pude sentir, (como
sempre acreditei), que só queres meu bem. A partir de hoje prestarei mais
atenção as tuas criticas e conselhos.”
‘Ótimo! Mas, que tal a partir de amanhã?
Teremos ainda muito tempo para ponderar sobre o assunto. Agora deveras cansados
estamos. ’
“Está certo. Então, boa noite...”
5. – sonhador;
Pequenas poesias sobre sonhos:
I –
Os
sonhos são forças
São
dons
Presentes
em tudo
Uma
fonte de energia que se consome
E
se renova
II –
Nesta
vida que vai sem pressa
algumas
pessoas sonham
pessoas
que sofrem
pessoas
que sobem
e
descem as ladeiras da alma
(A
pessoa que não sonha tem a alma concreta)
Nesta
vida que passa ligeira
onde
morrem e vivem sonhos
cada
pessoa sonha
cada
sonho em pessoa
ai
que natureza boa
dá-nos
harmonia das mãos, na palma
(A
pessoa que sonha já é poeta)
6. – confuso;
Eu, que geralmente me atrapalho. Sem rédeas e sem sorte. Ignoro
deliberadamente meus próprios limites. Às vezes, algo flui e destrói meus
planos normais, simples e bonitos. Isso costuma, ainda que involuntariamente
ferir pessoas e principalmente me causar decepção de mim mesmo. Assim, é horrível! As palavras precisamente
pensadas escapam e aí são precisas, mas voltadas para a destruição. Minha
confusão é inexorável;
7. – lastimoso;
O que sobra; os escombros. A lástima deriva da falta de alguma coisa.
Às vezes, da falta até mesmo da procura, ou da coerência. Quase sempre a
lástima se sobrepõe a uma força minha que não tenho. Ela também impulsiona a busca;
8. – determinado;
Talvez não seja um estado emotivo, já que habita apenas minha
consciência e se associa com meu “eu-físico”. Da determinação provêm os meus
valores, dos quais falarei depois;
9. – sensível;
O reconhecimento do sentimento de amor e bondade e a capacidade de
compreendê-lo como ideal. O respeito profundo pelo Amor (amor-amizade-autruísmo) e sua aspiração. Da vida, a minha
obra e ao meu primário eu. O eu que resiste aos maus fluidos; que da
convivência necessita e de carinho se sustenta; que divaga com as
inter-relações e que se sobrepõe para mostrar o quanto o viver vale a pena. O
Eu personificado que idealiza A busca...
Antes que se finde o
capítulo das emoções, convém falar um pouco da minha impassibilidade. Não será
relacionada como item devido ao incompreensível antagonismo que acarretaria
junto ao item anterior. E, afinal, o estado impassível não é uma emoção, mas a
ausência delas. Uma ausência de existência imensa que duela constantemente com
meus valores religiosos, sociais e intelectuais.
A impassibilidade é,
sem dúvida, um dos mais poderosos servidores de meu monstro.
∞
CAPITULO TRÊS
“Dialorgânico”
“Chove.”
“Ótimo! A paz é majoritária.”
“E
imprescindível.”
“Quem és tu?”
“Não te
atrevas me questionar se a ti mesmo desconheces.”
“Sabes que só perguntando a mim
mesmo quem responde é outro. O que farei?”
“Não perguntes.
Respostas surgem aos que estão prontos para apreendê-las. Exercita-te-me.
Estejamos preparados.”
“Saiamos de ‘nós’. Como proceder
com os outros e principalmente com os que individualmente amamos?”
“Tolo!
Sabes bem que, por nós, compartilho também eu da mesma dúvida.”
“E qual então a finalidade de
nosso diálogo passivo?”
“Findá-lo
menos passivo, é claro.”
“Exercício?”
“Trazer-te-me
pequenas conclusões.”
“É o que sempre chamei de
mensagem.”
∞
CAPÍTULO QUATRO
A
Busca
. de um reinício;
. da evolução;
. da aprendizagem;
. do conhecimento;
. do autodomínio;
. da humildade;
. da esperança;
. do crescimento;
. da sorte;
. da coragem;
. da paz;
. do passado;
. dos valores;
. da amizade;
. da sensibilidade;
. da beleza;
. do sonho;
. da felicidade;
. da fé;
. do amor...
CAPÍTULO CINCO
“AUTOPSICOLOGIA”
Vou entrar em transe e
me valer de um método ocasionalmente chamado de ‘autopsicologia’ para dar
sequência ao objeto proposto neste livro. Chamá-lo-ão talvez até de a autopsicologia de F.SANTOS SOUSA, se,
claro, lerem-me. Não importa. Fiz nascer o termo. O aceito.
A uma partida de
futebol se assemelha a minha vida. Resume-se basicamente em atacar e defender,
revigorando-se e compreendendo-se em breves intervalos em meio aos quais eu,
tímido, acolhedor da natureza, busco a libertação.
A postura de meu
regente coração é absolutamente pueril, de dificuldades tolamente claras. Atua
como um gentleman numa era de bárbaros. Diante do que enfatiza o mais profundo
sentimento, (um desejo, um sonho, um objeto), sou bisonho, babélico e quase
sempre pedante; um pobre inepto. Depois sofro; sem sentido, instintiva e
intensamente sofro, cobrando um novo momento que não há de vir e ciente de que
mesmo que viesse, certamente não também o aproveitaria.
“Pare de reclamar e livre-te-me disso. Seja
mais forte. Dê um, (ao menos), passo a mais. E não te esqueças: estás jogando
com a tua-nossa vida.”
Os sentimentos, assim
como os valores, são germinantes. Fixos em nós em um interior invisível e
evoluem como o nosso crescimento, embora mais intensamente. Assim intensamente
convivem dois lados concretos de minha mente. Só assim ela sobrepõe suas
próprias fraquezas, mesmo sem base e estrutura que a isso comporte. Um instinto
próximo ao animal; se não subumano, “eumano”,
que persegue na simplicidade soluções dentro de minha própria rebeldia.
O sentimento de perda
com o qual convivo não o chamo propriamente de dor, angústia, (talvez uma
falta). Quase sempre ignoro a sua presença até adquirir as condições para
enfrentá-lo. Temo realmente estar destinado à angústia. Uma angústia insolente
e absurda; quiçá, cientificamente explicável; aquém, espiritualmente insolúvel.
Poucas vezes tenho
apenas uma vontade própria.
Sou um instrumento de
uma consciência múltipartida travando violentos confrontos íntimos para
acreditar em mim e por os pés para fora de casa, as idéias para fora da
mente...
Só a poesia me liberta deste receio.
Sempre sonhei com uma esposa, um carro, dois
filhos, um(a) melhor(es) amigo(s) e alguma liberdade.
Os valores de família e de vivência social
que nem sempre aplico vivem determinadamente em mim. Fui e sou, é bem
verdade, militante do amor pessoal e egoísta entre homem-mulher, mas todo amor real amplia-se e deságua no oceano por
inteiro.
Deveras isso é o Amor. Negar isso, é,
(emprestando a sabedoria de um dito popular), padecer no paraíso.
A vida e a morte são para mim os únicos “não-símbolos”. Símbolos são
instrumentos de Deus ou dos homens. São a vida e a morte imutáveis e
independentes. Não a vida que construímos e a morte da qual fugimos, mas a
própria presença essencial de cada uma delas. Os símbolos são imensos, mas
nenhum deles se equipara a elas. Apenas
o poder da fé as pode sobrepor.
A vida é usufruída imperceptivelmente.
Zelada apenas sob a forma de um medo; um medo descomunal e insipiente. A mesma
forma de medo que em quase toda circunstância repudia a morte. Já o desamor à
vida é uma ausência ou um distúrbio de valores.
Eu vejo a vida como o universo do planeta Labirinto e de muitos outros
astros e corpos celestes. Um labirinto infinito também já que por mais que
percorrida, não a compreendemos. O único presente concreto que uma existência
poderia receber. Considero livres tolos os que procuram questionar isso.
Toda vida vem de Deus...
A morte me é mais oclusa, mas não me aterra.
Haverá de vir no tempo certo.
E a
vida retorna a Deus...
“Mas se
não é a morte que te aterra, não é o desamor que te aterra, não são os medos ou
a solidão, nem as faltas e nem as perdas que te aterram, então o que te aterra,
senhor Fabiano Santos de Sousa?”
O que me aterra sou eu.
O
que me aterra é o monstro...
...que vive em mim.
∞
CAPÍTULO SEIS
Bem. Preparado o terreno, dissequemos...
...O
Monstro
É essencialmente tudo
o que já foi dito e algo mais. É a parte de meu ser que quase sempre não
domino, embora também pouco me esforce por tentar. Um arrogante e em parte
complexo processo das partículas que me compõem; previsível na maior parte do
tempo, mas sempre pronto para surpreender. Chamo-o monstro, pois quando emerge
é maior e mais forte do que eu e dotado de pólos cujos negativos podem ser
deveras aterradores. Uma deformação de emoções independentes que se unem e
perseguem sem sobreaviso um alvo que as (me)
incomoda, embora às vezes eu mesmo não perceba.
Ei-lo em nada definido
nos limites da explicação.
Talvez descrever não
seja a resposta.
Talvez, desbravar...
CAPRICHOS DO
EGOCENTRISMO
Se pejorativamente
caprichoso é dividir-se em períodos, pejorativamente caprichoso eu sou.
Portador do vírus destrutivo; passivo, mas não inativo, pois no que respira
está vivo e por estar vivo descansa e desperta.
(SÓ
POSSO FERIR A QUEM AMO)
E quem me ama...
(NINGUÉM
PODE ACHAR-ME EM MIM)
O monstro não é sempre
agressivo. Apenas incansavelmente arredio. Até pode envergonhar-se de sua
própria dor, embora não a questione.
“O que há, Seu Monstro? Jogaste fora a inteligência? Não poderás viver
sem mim. Suicida-te destruindo-me.”
“És
deveras tolo se não notaste minha sede. Como poderia me abster se a cada toque
te emolduro a minha imagem? E daí não poder contra os teus valores? Vale-me ser
a pedra, da razão, no caminho.”
(A FÉ É DO HOMEM COMO A
PUREZA, DAS CRIANÇAS)
“Hoje
pareces mais preposto à luta.”
“És hoje menos apto a validar tua
força.”
“Tentativa
fútil de manipular-me. As faltas hão de ser apenas tuas. Nada contra mim
idealizaste em tua busca.”
“Hipócrita! Quem pensas que é
diante do poder do amor?”
“Definiste
bem a pouco minha existência. Sou o vírus passivo e destrutivo. Nada posso
contra a força do amor, mas posso conviver com ele. E toda a humanidade falta;
uns menos, outros mais, mas nunca realmente livres estarão.”
“Cala-te. Não tenho por que
confiar no que dizes.”
“Lembra-te:
toda imprudência é o princípio das conclusões que hão de ferir-te profundamente
em seu retorno.”
“E todo
portativo vírus atrofia-se...”
∞
CAPÍTULO SETE
Os Cavaleiros D’Amor
Basta! Não sou uma
bomba ambulante. Na verdade, sou um processo complicado e um todo romântico.
Faço-me de instrumento da poesia; da música; da alegria. Seguidor impávido dos CAVALEIROS D’AMOR
1
Onde estás
amor de minha vida
Que ainda
não provaste com glória
Não seres
surto na memória
Após
seres meu infanticida?
Por que
vives ainda ocluso
Sem a
pátria de minha história?
Sem as
dores e sem a glória
Estado
indelével, mas obtuso
És a flor
que cobre e aguarda
Nos
espaços sem mais valia
Perfume
que não tarda, beleza que não falha
Luzindo
de noite e de dia
Imponente
e radiante em toda tua farda
Saudações
pomposas nesta poesia
2
Recobra
vidas vazias
Alimenta
Coisa
que a valer fascina
Porquanto amor representa
Amigos, tenho um punhado
Colegas, cento e noventa...
A-M-I-Z-A-D-E
É filtro dos infortúnios
De grã-sofrimento isenta
Flor que o coração cativa
Luz que na sombra orienta
Equilíbrio; sob os pés, raiz
Aura que a razão contenta
A-M-I-Z-A-D-E
Enternece corações frívolos
E aos atormentados acalenta
Sincera, é inabalável
Que nenhuma dor arrebenta
Energia que se renova
Apoio que sempre sustenta
A-M-I-Z-A-D-E
Benção. Dádiva divina
Emoção lírica, suave e lenta
Remate dos maiores males
Paz que chega e se assenta
Envolve a alma, embrenha-se no
peito
Expande-se e com ela o coração
aumenta
A-M-I-Z-A-D-E
3
Guarde cada coração a espera pelo
destino
O que não se celebra seca e em sua
penúria jaz
Tu és bomba; és mente e és espírito
Além de tua parte de dor?
Toma pelas mãos a beleza desta vida
Seja numa flor ou num abraço
Basta de buscar da vida; busca-lhe
apenas
E tudo vem
Não receies sorrir, não anseies por nada
As tendências falam; deves ouvir
Tenha tempo livre para te entender
E ponhas em cada sentido da vida
A verdade, a humanidade e o amor
Tu és bomba. És mente e és espírito
Além de tua parte como símbolo
Símbolo da dor e da vida
Símbolo do ser e do amor
“Plante uma flor em seu coração” – F.S.Sousa
“AQUI ME ENGAJO NO MAIOR AMOR DOS HOMENS. A DÁDIVA GRANDIOSA PARA A
PLENA SATISFAÇÃO PESSOAL. CELESTE. DIVINAL.
JESUS CRISTO: EIS O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA...”
CAPÍTULO OITO
Aurora
Epígrafe: “(Nasce
um novo poeta)”
“Em que sentido?”
“Vou me brandir um novo perfil. Um heterônimo vivo. Não importa se
acredito ser uma fuga. Não me importa a opinião dos outros. Não me importa a
opinião de mim.”
“Vai-nos desprezar, sabedoria do domínio e
da fuga?”
“Sem lógica. Farei apenas meu ser saturado também repousar. Perdi as
paixões singulares que poderiam ter sido. Também as nove amizades apontadas
pelo poeta. Pronto e disposto então a sacrificar também o que nunca tive e
repousar íntegro como mero indigente”.
“Fala mais sobre elas; as perdas.”
“Pouco parece oportuno”.
“Segues imprudente. Não sabes que a
proposta é o aprendizado?”
“Pois bem. Tentemos, então. Todas vestiram da ilusão a túnica. A
intenção, a sinceridade, a veracidade e as possibilidades positivas pouco
importam se o que verdadeiramente fica é a imagem inflexível da ilusão”.
“E quando a temível ilusão derrotou a
coragem e a disposição?”
“Não derrotou. Anexou. Na coligação restante”.
“E não sentes vergonha?”
“A vergonha repousa na falta de lógica e sem lógica jaz nosso coração...”
∆
∆▲∆
∆
▲∆▲∆▲
{Por um poder
a mim concedido por alguma lei astral, atesto a emersão em mim, hoje, vinte e
sete de julho de mil novecentos e noventa e quatro, de Ariovaldo Antônio Peixoto.}
CAPÍTULO NOVE
Um amigo
Um amigo, talvez, (exceto por Danielle, imbatível),
o maior de todos conheci no dia 27 de julho de mil novecentos e noventa e
quatro, diante do Teatro Municipal de
Santos. Era uma tarde, de clima ameno e interessante e ali várias pessoas,
em sua maioria jovens, se reuniam no portão de entrada aguardando o início das
inscrições para um recital de poesias, evento que ali mesmo seria vindouro. Eu,
carregando a eterna dificuldade em externar o que produzo, a princípio admiti
ser presente apenas como expectador, mas num súbito ímpeto de motivação vindo
não sei de onde, pus-me a vasculhar entre os meus poemas um que se aplainasse
numa ocasião como seria aquela, acabando por escolher quase a esmo um
intitulado “Prisão de Espírito”. Não
era um concurso, mas uma confraternização entre pretensos poetas, muitos dos
quais tímidos e relutantes como eu. Segundo li depois em uma coluna de jornal,
embora tendo sido o evento direcionado a amadores, o número de interessados no
assunto chegou a surpreender os organizadores. Mas não a mim; sempre acreditei
no potencial artístico de Santos,
(mais do que em qualquer outro potencial que ela possua). Principalmente pela
arte estou irremediavelmente ligado a Santos.
Não posso explicar bem
por que escolhi “Prisão de Espírito” entre tantas outras, mas, como tantas
outras, ela consegue bem definir algo da essência de meus sentimentos.
Enquanto aguardava o
início das inscrições, aproximei-me de uma roda de pessoas que debatiam
timidamente. O grupo era formado por cerca de oito ou nove pessoas e todos
pareciam encarar aquele recital como muito mais do que um mero evento de
confraternização. Para muitos, acredito, assim como para mim, fora a primeira
chance de revelar seus escritos a uma platéia de interessados. E a ocasião e o
ambiente eram extremamente propícios para os observadores perseguidores de
talentos emergentes se colocarem de prontidão. Apesar de não ser propriamente
um concurso, todos os participantes sabiam disso. Todos pareciam receosos, com
seus envelopes na mão, como se carregassem um documento capaz de colocar em
risco a segurança nacional. Na roda em que eu estava, conversavam sobre
trivialidades relacionadas à poesia, como predileções pessoais e universais.
Muitos falavam de grandes poetas, (os seus preferidos), como se fossem seus
amigos mais íntimos. Alguns se arriscavam a recitar as suas poesias prediletas
que sabiam de cor. Fernando Pessoa e
Drummond surgiram como unanimidades,
mas lembro-me de que vários outros nomes foram citados, como Luiz de Camões, Gonçalves Dias, João
Cabral, Cecília Meireles, Bocage, Neruda, Florbela Espanca, Sheakespere, (particularmente
contribui com a lembrança de Gregório de
Matos, meu favorito após Pessoa),
e muitos outros clássicos e contemporâneos que por absoluta falta de conhecimento
os nomes não pude guardar. Fiquei surpreso e também, por que não dizer,
contente, quando um jovem aparentando ter um pouco mais idade do que eu,
aproveitou um momentâneo silêncio, pediu a palavra e começou a recitar:
“Vês!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de
tua última quimera.
Somente a
Ingratidão – esta pantera –
Foi tua
companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O Homem, que
nesta terra miserável,
Mora, entre
feras, sente inevitável
Necessidade
de também ser fera.
Toma um
fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo,
amigo, é a véspera do escarro,
A mão que
afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém
causa inda pena a tua chaga,
Apedreja
essa mão vil que te afaga,
Escarra
nessa boca que te beija!”
O poema é “Versos Íntimos”
de Augusto dos Anjos e este foi meu
primeiro contato com Ariovaldo Antônio
Peixoto. Um grande poeta e acima de tudo, um grande amigo.
A
lista com os nomes dos poemas selecionados para o recital foi publicada no dia
seguinte nos jornais locais e nos próprios murais do teatro. Já se havia
pré-estabelecido que a incursão de qualquer poema no determinado evento estaria
sujeita à aprovação de um comitê julgador constituído pelos organizadores. O
recital contaria com o máximo número de cinqüenta poemas inéditos, sobre
qualquer tema, escritos em Língua Portuguesa. Por um motivo que só
conhecemos depois, na lista dos selecionados apenas constava das obras o
título, sem qualquer referência aos autores. Confesso que o novo critério
amortizou um pouco, no princípio, meu interesse pelo tal recital, mas, ainda
assim, certificar a presença de “Prisão
do Espírito” numa lista onde muitos, talvez com expectativas bem maiores do
que as minhas, haviam ficado de fora, tocou-me ao orgulho que todo autor
costuma nutrir por sua obra. Assim, no dia seguinte, marquei presença no
despretensioso evento que acabou por marcar, (ainda que indiretamente), também
presença em meu crescimento pessoal e artístico para o resto de minha vida...
Φ
Como muitos insinuaram
e outros tantos acreditaram, aquele
evento não seria tão despretensioso como quiseram levar a crer os
organizadores. Confirmou-se como uma diferente espécie de concurso, onde os
próprios participantes deveriam eleger os melhores trabalhos. Claro que não
seria permitido a cada autor escolher seu próprio poema, mas sim o seu
preferido dentre os demais, daí a importância do diminuto número de
participantes, já que cada ouvinte deveria estar bastante atento a todas as
obras recitadas e escolher dentre elas a que mais lhe tocasse. Por isso também
os nomes dos autores não haviam sido divulgados desde o princípio; para que os
populares “grupinhos” que eventualmente se formassem durante o evento não
desvirtuassem a intenção do concurso, votando por coleguismo e não por preferência.
Assim, durante o recital, após cada poema lido, apenas o título era revelado
aos ouvintes, que deveriam, em um catálogo pessoal, atribuir notas a cada um
dos poemas lidos e ao final apontar o de maior nota e em conseqüência, seu
preferido. A intenção, assim, foi de que o julgamento das obras pudesse ocorrer
de forma absolutamente sincera e honesta.
Quando então escolhi “Quiçá; tira” como meu predileto,
jamais poderia imaginar que o autor daquele poema era o mesmo jovem que conheci
no dia da inscrição, o que declamara “Versos
Íntimos”, um dos meus poemas favoritos. Esta descoberta me trouxe mais
tarde a certeza de que eu e aquele jovem de cabelos encaracolados, esguio e
repleto de um aspecto de dignidade quase irritante tínhamos de fato muita coisa
em comum.
Φ
“Quiçá;
tira” nem de longe foi a mais
votada. Impossível calcular números precisos já que todos os que assistiram o
recital, (e não apenas os participantes, como se supunha), puderam votar.
Certamente umas cento e cinqüenta pessoas pelo menos, estiveram presentes e
destas, apenas duas votaram nela. Eu fui uma delas. Impossível também descobrir
quem foi a outra, já que os catálogos jamais foram devolvidos pelos
organizadores.
“Prisão do Espírito” obteve uma sorte bem melhor; com 39 votos, (inclusive
o do próprio Toni, ele me contou
depois), coube-lhe um pomposo terceiro lugar no evento.
Não houve premiação.
Apenas um convite aos dez primeiros colocados a participarem de uma antologia
de poetas santistas, o que prontamente recusei por acreditar que pouco na
credibilidade das antologias, especialmente a de poetas amadores. Isto e
obviamente minha retração aborrecedoramente inerente. O mais importante de toda
aquela experiência para mim, no entanto, foi a extrema curiosidade que me fez procurar
o autor daquele poema que, de fato, verdadeiramente me impressionou. Ao término
do recital, todos os autores retornaram ao palco para serem identificados junto
a suas obras e essa identificação permitiu-me tomar a iniciativa de estabelecer
meu primeiro diálogo com Antônio Peixoto. Muitos mais decorreram desde então,
mas muitos menos do que eu desejaria...
∞
Apesar de sua
aparência sisuda e de minha dificuldade em me relacionar com desconhecidos, os
meus primeiros diálogos com Antônio Peixoto, (Toni, como passaria a chamá-lo
carinhosamente muito em breve), foram extremamente interessantes, servindo para
gerar uma empatia que logo se tornaria muito forte entre nós. Falávamos de
diversas coisas triviais relacionadas às nossas vidas pessoais, interesse pela
literatura e até mesmo sobre o campo emocional. Na época eu me encontrava meio
confuso, (pra variar), e cativava uma espécie de amor platônico por uma grande
amiga
de uma comunidade católica que ambos freqüentávamos. Já Toni,
acreditava ter deixado para trás o grande e único amor de sua vida em Penápolis-SP, cidade onde nascera, já
passados na época cerca de doze anos.
Toni era bem mais
velho do que aparentava; já beirava a casa dos vinte e nove, embora aparentasse
ser um pouco mais velho do que eu, com meus tenros dezoito anos. Deixara a casa
em que morava com o pai, (a mãe era falecida), em Penápolis em 1982, então com
dezessete anos e fora para o Rio de Janeiro trabalhar na marcenaria do único
tio com o qual mantinha contato. Durante as férias, visitava regularmente o pai
e aproveitava para rever a namorada, (uma bela jovem de aparência meio
indígena, meio oriental, chamada Marina).
Toni carregava sempre consigo várias fotos dela. Disse-me que sempre que a via
tinha vontade de retratá-la. Assim, se o namoro acabasse, ao menos aqueles
momentos não lhe seriam tirados se não os confiasse apenas a sua memória. “E
foi um pensamento profético”, ele concluiu com um triste sorriso.
Em 1985, quando
completou vinte anos, recebeu no Rio a trágica notícia de que seu pai havia
falecido. A casa deles se incendiara durante a noite, devido a um vazamento de
gás e fora tudo consumido pelas chamas. Seu pai não resistiu às gravíssimas
queimaduras e faleceu horas depois, no hospital. Toni, (aliás, deste apelido,
cultivado segundo o próprio apenas por seu pai, sua noiva e enfim por mim,
apropriei-me para homenageá-lo atribuindo-o também ao maior personagem de minha
obra até aqui; o humano Antony Loan,
nome central de “O ESCOLHIDO”, o
qual nesta época não passava de um lampejo de uma idéia), voltou a Penápolis
para tratar do enterro e tentar recuperar alguma coisa, mas praticamente nada
restara. Inclusive grande parte de seus escritos constituídos de inúmeras
brochuras com poemas inéditos, além de um romance considerado por ele como a
obra de sua vida. Chamava-se “Promessa
de Sangue” e tratava de uma interessante história sobre duas irmãs
extremamente unidas que se apaixonavam perdidamente pelo mesmo homem,
decidindo-se por fim matá-lo para preservar o elo de amor que sempre as
mantivera unidas. O rapaz, porém sobrevive milagrosamente e retorna tempos
depois para se vingar das duas, fazendo de tudo para destruir o que elas tanto
prezavam: a força aparentemente inabalável do laço consangüíneo que as unia,
até que só restasse ódio mortal de uma pela outra.
Ainda que
aparentemente não fuja muito dos clichês que impulsionam o Best Sellers, a
trama me pareceu quando ele me contou, e ainda me parece bastante intensa e que
conduzida por mãos hábeis pode certamente proporcionar grandes momentos de
emoções intensas e suspense. E eu particularmente tenho deveras motivos para
defender com veemência o talento e a habilidade literária do escritor Antonio
Peixoto, posto que, embora sob forma de poemas, a parte de seus escritos que
conheci verdadeiramente me deixaram deslumbrado. Seria realmente um prazer
imenso para eu conhecer a obra, mas infelizmente isso é impossível, já que o
livro foi destruído e o próprio autor, única pessoa capaz de reescrevê-lo...
∞
Quando
o procurei para parabenizá-lo pelo poema e também me apresentando como 3º
classificado, achei que provocaria nele algum tipo de lisonja, no que me
enganei, (ou pelo menos ele nada deixou transparecer). Parabenizou-me, claro,
também pelo poema, confessando-me com um sorriso vago que fora um dos que
votaram nele, mas fora isso, agiu absolutamente como se nada daquilo tivesse
qualquer importância. A princípio achei que fosse por um pouco de
‘dor-de-cotovelo’, mas a idéia tornou-se estúpida à medida que melhor o
conheci. Toni jamais reconhecia a importância do mérito de um autor. Reconhecia
sim o mérito, mas principalmente a obra. Para ele, a arte como literatura, (e
por que não a arte em geral?), era absolutamente independente dos seus
criadores, os artistas. Quase que novos seres, dotados inclusive de
livre-arbítrio. Boas ou ruins, mas supremas em si mesmas, cabendo pouca ou
nenhuma participação a quem as criasse e por mais que eu discorde que tal
conceito possa ser imutavelmente fiel, foi a primeira e talvez maior lição de
humildade e ao mesmo tempo confiança em si mesmo que aprendi com este
fantástico poeta. E talvez ele tenha realmente a razão plena; como provar que
não? Se Mozart, Beethoven, Sheakespere,
Camões, Picasso, Einstein e tantos outros gênios da humanidade não tivessem
suas idéias, quem garante que alguém, algum dia, em alguma época não as teria?
Estaria uma parte tão maravilhosa do ser humano perdida para sempre mesmo antes
de o ser?
Para ele, Toni, foi
mais interessante e divertido conhecer o motivo pelo qual recusei a premiação
de ter meu poema publicado na tal antologia. Ali sim pareceu lisonjeado por me
conhecer. Parabenizei-o também por ter citado “Versos Íntimos” no dia da inscrição junto à roda de jovens,
atestando também meu apreço pelo poema. Ele me disse que sempre se sentia pouco
a vontade, até incomodado quando precisava exteriorizar os seus escritos e que
o poema de Augusto dos Anjos
retratava bem esse sentimento.
Mas o melhor
acontecimento daquele dia foi quando me ocorreu perguntar-lhe se tinha para mim
uma cópia sobressalente de seu poema. Ele me olhou cautelosamente por um
instante, como se me analisasse, depois parou abrindo a mochila que carregava,
tirando de dentro um daqueles envelopes de tamanho grande e estendendo-o para
mim. Apanhei-o um pouco confuso, contemplando-o. Na fronte estava escrito o seu
nome datilografado em letras maiúsculas:
ARIOVALDO ANTÔNIO PEIXOTO
- Eis tudo o que me sobrou de minha antiga vida e literatura.
Não consegui
questionar mais nada. Apenas fitava o envelope, envolvido por uma curiosidade
gigante. Na hora eu não pude entender que ele acabara de depositar em minhas
mãos, (as mãos de um desconhecido), a única parte da arte da sua vida que não
havia sido destruída pelo fogo.
- Na última página consta meu endereço; - por fim ele concluiu – após terminar de ler me procure para contar
o que achou.
Assenti com a cabeça,
um pouco atordoado. Perguntei se queria também uma cópia do meu poema e ele
replicou sorrindo que conhecer apenas uma também não lhe seria o bastante.
Sabia de nossa
afinidade desde aquele primeiro momento e que nossos laços certamente se
estreitariam gerando a oportunidade de partilharmos muito do nosso potencial
artístico. Só não poderia prever, (assim como eu não pude), que tudo seria
brusca e estupidamente interrompido tão cedo...
O envelope continha
exatos 33 poemas, inclusive “Quiçá, tira”, inscrito no recital. Li
e senti intensamente cada um deles na mesma noite. Apesar de ele ter comentado
sobre sua dificuldade de exteriorizar seus poemas, descobri que a
exteriorização e a poesia de Toni sempre estiveram irremediavelmente ligadas.
Contou-me depois que não se tratava definitivamente de um livro, mas de um
conjunto de poemas dispersos. Ainda assim, o título sugerido por ele mesmo em
1ª instância – “A CAMINHO DO INFINITO”
– revelou-se uma fantástica ainda que trágica premonição...
ARIOVALDO
ANTÔNIO PEIXOTO
__________________________________________
A
CAMINHO DO INFINITO
__________________________________________
A caminho do infinito
O Inacreditável flutua e encontra a
Justiça
A Justiça o autua e o incorpora
A Independência adoece e as pressas se interna
No hospital do Poder com Influência se trata
A Verdade olha firme o céu da Ilusão
E o sol da Mentira destrói-lhe as retinas
Troca seus olhos por bolas de cristal
Sensíveis demais para olharem mais duro
O Amor se promove, vangloria, entorpece
Errado no Expresso Soberba ao passado
A terrível Maldade escapa pela janela
Da máxima segura prisão do Bom Senso
Tropeça a Alegria na beira do penhasco
Eterno, Sem fundo, chamado Egoísmo
As portas da mansão da senhora Liberdade
De fome e frio agoniza a Esperança.
Penápolis
Que é cantar meus ares
não posto quanto os vivencio
Aqui, Dr. Sampaio Filho
é carne, é chão, é paz.
Ao fundo; verdes campos, pastagens
e aquém, as árvores não são árvores; são raízes
Este chafariz, tão companheiro
este céu tão mais azul.
Não canto a ti por cantar as coisas
e canto as coisas por não cantar coisas mais
Verde os olhos e verde a água do lago azul
Vago espalhar dos sentidos...
Agora, monstros gigantes passeiam sobre ti
Vão de meus dedos à tua base
Lamento, mas só te sinto
porque existo.
Não creias que nasci em ti
Só se nasce em si
Sei descrever o teu centro
Falta-me descobrir o meu.
Não é você o autor, mas
poderia ser
O Verbo foi o início
no fim, o homicídio
no meio, o improviso...
No meio do improviso
repleto de homicídio
o verbo ficou vivo...
O vivo ficou liso
rei do improviso
e o verbo, agressivo...
No meio do início
Agressivo vivo
livre-arbítrio.
O mundo que merece
De dentro da goiaba eu vejo o rubro,
quase meio que rosado
lubrificando meu corpo, gostoso;
meu alimento da vida inteira.
De dentro da goiaba eu vejo o branco,
quase meio que esverdeado,
mas só que numa distância intransponível
de um reles em si suficiente.
De dentro da goiaba eu vejo o mundo
que aquém se possa imaginar.
“Quiçá, tira!
“Que mera é nossa utopia,
plácido sonho entalhado
à vontade, com cuidado
quase todo fantasia!
Que mera – (nossa, demo!) – cracia
lícita, mente deturpada
pressente na hora errada
ausente do dia a dia!
Que mera nossas energias
tal completa Eva são
restando só uma alusão
d’uma suposta alegria!
Que mera é a poesia
inserida em tais limites
limites em que a dirimiste
curto que a meraria!”
Eu, pra mim...
Eu, pra mim
sou como você
assisto TV
e tenho um jardim
sou pouco confuso
e pouco feliz
tenho um só nariz
meu estado é difuso
tenho várias visões
em poucos olhares
em todos lugares
mesmas sensações
fui criança manhosa
moleque brigão
primeira paixão
menina formosa
fugia da escola
sem entrar pelo cano
passava de ano
na base da cola
mas sou dedicado
diria até sensível
pouco acessível
mas esforçado
sou tolo romântico
inexperiente
assim minha mente
é como o meu cântico
sou muito convicto
pela não dispersão
a fé no coração
oponente invicto
meu ar é escuro
minha estrela, a razão
meus preceitos estão
em cima do muro
minha boca é dotada
de trinta e um dentes
minha língua pendente
permanece parada
tenho fome de brisa
sou alérgico a vento
estou sempre atento
ao que diz a camisa
não tenho preconceitos
pouca indecisão
carne, arroz e feijão
é-me prato perfeito
nem ausências ou saudade
em mim vivem em alta
mas, lá embaixo, uma falta
incomodando a verdade
não valorizo os valores
por si, mas por pessoas
por bens, mas por coisas boas
unções, mas grandes amores
sou apenas a ave
de mais pequena asa
queres mais que eu destrave
me leve para casa...
Labirinto
O que é um limite?
Pergunta: o que é um limite
além do não se poder ir além da primeira pegada de Deus?
O que é um limite? O que é?
Que toma por lentos os pensamentos
E por reles a própria mente
A mente que condiciona e delimita
os limites...
Todo LABIRINTO
tem um propósito e
é este o último limite.
Triste, (destarte) existe
Bem acolhes a verdade tua, Marina
Que se ocupa de te opor aos sonhos nossos, (se não meus)
A minha verdade dói
Conquiste ou não conquiste
Parto triste.
Verdade, Marina, que se não me segues
E seguras a pulso forte minha felicidade
Limitas a toda uma vida completamente
Iludida, ainda que jamais a iludiste
Parto triste.
Perdoa assim meu tênue ímpeto
Questionando puramente o teu afã
Tua vida, teu alcouce
Perdão Marina, último chiste
Parto triste.
Mas chego deveras adverso
Arrufo só na partida
Ficaste ao longe, Marina
Quem te sucede existe?
Parti triste,
depois...
Bem-vindo
Bem-vindo ao templo onde a beleza agride
Onde os olhares iludem, onde se oculta sempre a poesia
(que talvez exista)
Bem-vindo ao mundo (quase) sem poesia
Apesar da beleza
Bem-vindo ao mar que jaz inerte, ou apático aborrece
Vivo com desprezo
Bem-vindo às porções de curiosidades instantâneas
Ou ao simples e inexorável orgulho
Bem-vindo a ti mesmo e ao reflexo das tuas piores
características
Na terra, no mar e no ar
Bem-vindo a tua rotina que te persegue
E a toda paz que não terás aqui...
Vais já embora sem despedida?
Que fraqueza, covardia, desapontamento!
Pois vá.
Adeus!
Rapto místico
O peso da Terra arrufa o Espaço
Que cava um buraco, trincheira de guerra
D’onde enorme sai besta esfomeada
Enquanto a mulher cansada esbraveja seus ais
Os ais são tantos que de tão enfadonhos
Arrebatam do sono o monstro aos prantos
O Espaço, cansado, aceita a oferenda
Desiste da lenda e abraça o seu fardo
Não são traidores os anos que passam
Triunfam, fracassam não como desertores
Ainda que incomode leis e sabedorias
Findam as profecias. Sublime não pode
O corpo nascer com senso divino
Maior desatino do que o caos prever
Ensejo
Como quis a lua não romper a verdade!
Polidez sonhada pobre ressentida!
Querer ser quem não é, defeito presente,
Como cronometrar a velocidade do tempo.
O se esconder da grandeza, gracejos excêntricos
Exultando a tolice, exultando labuta
Rebeldias vãs e úteis da existência.
Como quis o desejo satisfação proibida!
Melhor somente que o “melhor do que nada”
Como não quis o nada fantasias induzidas.
Durma!
Às 6:15 da manhã, quando o céu estava vermelho
e boa parte do mundo de descanso excedido jazia
algures, reparava alguém que o mundo despertara havia
muito, belo
e que tudo era mais belo porque não se via
Ou se se via, sem apelo, de forma transpassante
Um olhar de juventude; infundada sapiência
com suas metas inventadas, perseguir-se incessante
chacoalhadas a cada hora por intrigas da Ciência
Mas o alguém de algures não persegue o compromisso
Embora o tenha visto, consente-lhe ir embora
Outros dias, é possível, se não esteja de serviço
E se de fato os outros dias não findarem sua aurora
Lôla
Lôla é bonita Lôla
Virtudes e defeitos divergindo do que se poderia descrever
Mas Lôla assim é Lôla
Tão bem se descreve de ausentes palavras
Seja a deusa dos símbolos, filha do |
S -- O--L
|
Faz-me c r
a i
i b
i u
r e tornar a s
Se♪eia da li♪a; chegada
num pagode
Por que se tem de COORREERR ))) e GRITAAAR )))) atrás de Lôla?
Lôla esta é Lôla de um castelo
de sonhos
Que se execra e ama com certeza e simplicidade
E não se adianta venerar ou mandar se foder Lôla
Que sempre importa; importância de Lôla
No piso sublime, Lôla arrepia no pagode
Lar do amor, ei-lo lá
Postura
Ao estado semi-vegetativo reduzido
Pelo caos hermético e profundo seduzido
Colônia que não treme ao pesticida
Pouco sabe por que zela pela vida
Ao inútil dependente desolado
Pela auto-piedade invalidado
Ao perdedor que a própria falha não alcança
E quer mutar teimosia em esperança
A tudo o que é pequeno e infeliz
Ao fútil muito do que se diz, raiz
A festa de não perder o objetivo
Substantivo que só convida adjetivo
Comparativo
Em que o tempo amplia, a medida
os tenros horizontes da vida
e a ternura se dissipa
como um riso ímpar
estendem-se as coisas tal qual ruas
incertos passos sustentando
A velocidade é ânsia por liberdade
assim como o desejo é para o orgasmo
assim como o medo está para o serviço
Vive sempre omitido o espelho da morte
latente, mas cediço
Assim que percebe o sonho
o ápice ofuscante da verdade
esvazia-se a vitalidade, tal qual saudade
ilusões invisíveis são desvendadas
e a paz de espírito é entendida
Assim, esta é a vida; céu azul, mar verde
como também podem ser olhos lindos de mulher
dinheiro
toxinas...
Pilares
Buscar a autenticidade sem promessa
Claro entendimento brilhante e forte
Eis que o velho homem, enfim se apressa
Cresce como injusta a hora-morte
Não suporta a honra o infindável?
Desflora o parvo o seu jardim
Mostra a duras penas, implacável
Não há como ser velho sem ter fim
Abandona o homem velho sua vontade
Acolhendo, na verdade, a do sandeu
Espelho imperfeito satisfeito?
Regra não servente ao bravo peito
Ainda que despedido o mito padeceu
Segue o ousar-maior, eterna verdade
Leilão de sentidos
Triste quando vem o fim do dia
mais triste pra mim seria do dia o fim
se assim fosse o dia findo pra mim
pro dia fosse eu findo, pior seria
Pouca se serve a inspiração da alegria
A energia da altivez lhe é proibida
Não transforma o ser humano em arte-vida
Facilmente como a chuva e a melancolia
É certo o mapa, mas a arca está vazia
sobra lamentar a pouca chance
Com tantos aventureiros, por que não estaria?
Triste é conviver com a apatia
do amor que pouco aquece morno romance
que qualquer dia que renasce inflamaria
Precipitação molecular
PRA FALAR DE SENTIMENTO, POESIA
PRA FALAR DE POESIA, SENTIMENTO
Assim são todos
e tudo é desperdício...
PRA FALAR DE POESIA, POESIAS
PRA FALAR DE SENTIMENTOS, SENTIMENTO
Elitismo
Do Brasil mal fito destino terrível
aqui de Penápolis, seu mero incisivo
ou menos ainda, pêlo não vivo
ligado do extremo ao centro sensível
Não seja tão sério coração ferido
Irreversível dano no tecido cerebral
Metrópole em ruínas do ar mais poluído
Morrer principiando pela capital
E que ilusão tão doce a de viver mais alguns dias
Ah, quem dera fosse o todo dispersante
cintilassem tantas repúblicas como estrelas novas
Não dêem o próprio sangue pelas melhorias
os fãs da autonomia em si só confiantes
conceder-lhes-á o todo a mesma cova
Uma verdade
Fantásticos são os poemas quando sóbrio os escrevo
Qual o mal-nenhum me livra a consciência
Floreadas letras em alto-relevo
Tríplice de paz, elegância e imponência
Mas nada, nunca isto é conhecido
Traição roufenha e séria à natureza
A mim eterno ébrio dos bons sentidos
Ou a outro qualquer cego da beleza
Assim, a poesia que devora
Todos os limites oferecidos
Também devora os invólucros limitados
E ficam os poetas fatigados
Tateando no escuro merecido
Por raízes que aprenderam a ir embora
Gênese
Penetra no corpo a poeira cósmica
princípio leviano do equilíbrio natural de todas as coisas
donde são vertentes o átomo, as células, a vida
e que supre o posto da vã esperança
Tudo
Comer pão com groselha e então jogar damas
Ler Alan Poe, ouvir Pavarotti e depois, cama
Aceitar novidades, não ousar coisa nova
Transar, roubar, enfim, cova.
Vencendo o atraso invencível,
alcançando o objetivo impossível e descobrindo que era
sonho...
Vencendo o atraso invencível
Alcançando o objetivo impossível
E descobrindo que era sonho...
E por mais que de mim caçoe o espírito da poesia
É como um dever exteriorizar isso.
Se para tornar-nos ridículos, por que é amor?
Se para não compreender magnífica condição de dádiva, por que o ofertar
a outrem?
Se tão mesmo maior do que nós, por que nos entope e sufoca?
Já não bastaria a chacota que somos por nasceremos sendo?!
Vencendo o atraso invencível
Alcançando o objetivo impossível
E descobrindo que era sonho...
Poderia dizer: “não é meu”;
Um poema não-meu
E rasgá-lo, e queimá-lo com a chama viva da raiva
Alegrando assim muitos deles
Fazendo-os verdadeiros merecedores da pena da justiça
Inventaria as fórmulas e as soluções às fórmulas?
Claro que não!
Teria sim minha personalidade repelida pelo espírito
Que já tem personalidade
Melancolicamente acreditaria compreender sua melancolia
Virando a página e a outra face, o poema é meu
Pô! É meu! De quem mais seria?
Vejo-me como em todos os outros me vi
Apenas, por amor, parei de fitar-me
Podendo crer que me engrandecia
Percorrendo longa estrada apenas com a visão.
Vencendo o atraso invencível
Alcançando o objetivo impossível
E descobrindo que era sonho...
Mais do que nunca me atrasei, mas o que buscava, você, permanecia
Venci, pois o teu amor compreendia perfeitamente o perdão
E esse amor recíproco e belo em todos os sentidos alcancei e palpei
como objeto
Mas o espírito-sol da poesia amanheceu
E despertei com qualquer ruído.
Levante
Se toda a tristeza que existe
fosse realmente tristeza
e todos os ociosos e maldizentes
fossem realmente tristes
os homens, (e não os santos), seriam mártires
e a divina justiça seria ingrata
Se todo levantamento hipotético fosse heresia
No mínimo, poemas não existiriam
Então, toda tristeza que existe é uma flor
que, putrefata, exala o odor da tristeza
e todo levantamento hipotético possui,
no mínimo, poesia
Demais nunca
A fé centralizada geme
como se fora pela morte assombrada
A mão subitamente armada treme
como se morta ou viva findasse errada
Dados somos tais ao exagero
que os duros golpes da História não nos ensinam
embora nos encantem os golpes que exterminam
o mais duro golpe é o dado primeiro
Autópsia das palavras
A violação premeditada é um absurdo
um absurdo impensável que pode ser consentido
A censura de uma idéia, a subtração de um desejo são sentenças
onde quase não há, (mas há), a justiça
Um pecado mortal é o descontrole
outro é a escravização dos impulsos
Vai bem como improviso a fertilidade do ânimo
No jardim do mundo tudo se planta
Um dia ríspido
A deusa morta da beleza jaz sobre uma mesa
e seus fiéis adoradores são só dissabores
Linda que luzia! A morte repelia
Como se foi então, virar ilusão?
A deusa da vida padeceu; o horror venceu
Num jogo de armadilhas teve muitas filhas
Bruxas de agosto lutam pelo posto
Ninguém acreditou quando Deus errou
O brilho de um segundo para
nunca mais ser visto
Quando o alienígena em meu cérebro explodiu
e minhas próprias impressões inundaram minha mente como sangue sobre o
tapete
mesmo se dando isso em minha tenra infância
vi que nada mais me pertencia
Assim é compreender o mundo como Universo
A vida como alienígena seja a vida em si
projetando sombras incompreensíveis
à razão do cosmo
Sem ter, sem tido
“As mãos se enchem de amor
e se abrem num coração
Transporta-se o coração
Para a palma das mãos...
(Lá vai ele novamente buscando as rédeas da representação)
Percebe-se que é mais simples o ato,
não o sentido
porquanto se ama
Lógico. Inquestionável. Ilimitado.
Ama-se.
Porque se foda o porquê!
Vão à merda as explicações!
Ama-se porque se ama e só.
E nessa linha vai-se tudo
Pobre condição humana que solicita respostas (grandes respostas)
e nasce o ato de ser pedante.
Que importa se importa ou não importa?
Quê?
Sentir é ousar-usar sentir
Sentir não é pensar-sentir
E viver é existir.”
Uma gota
Contra a catástrofe os heróis se unem
recebem confiança; esperança é alimento
Padecendo, o mundo silencia
até as crianças enviarem os seus sonhos
Não poderíamos ser todos crianças,
inventando os heróis de um mundo simples?
Digníssima
A estrela caía e o menino sorria
Aquele despencar impulsionava o sonhar
Ainda que comedido, fez o pedido,
que baixasse do céu e fosse amiga fiel
Aconteceu. A estrela desceu
De brilho vertente, fez-se presente
Em um segundo queimou o mundo
No que restou, o amigo poupou
“Esfera de luz, pelo que me seduz?
Meu sonho, mentira! Tudo me tira!
Poupada vida para arder em ferida
A culpa me aleija. Maldita seja!
Precisava matar e os meus torturar?
Não soube surgir sem a tudo destruir?
“Maldição mandaste? Mas não me chamaste?
Se puro poder, como aparecer?
Disfarçar-me poderia, mas não a mim querias?
Imortal nasci, pois nunca vivi
Da eterna solidão houve enfim vazão
Quando uma criança encheu-me de esperança
E com sinceridade prometeu amizade
Desapontada a vejo, não por desejo
Lição importante: SER É O BASTANTE
“Signos”
1ª parte: Diamante
Há um sentimento que é como um farol
do automóvel que flerta como homem
que, apesar de não temer, nem se importar,
mantém-se sempre supremo em sua elegância
Outro sentimento é como o pêndulo
que luta contra a vontade da inércia
Algo quase utópico
como viver de êxtase
Sentimentos, abstrações, nada resta
Só o ensejo iludido dos homens.
Sentidos.
Parte dois: Rubi
Há um sentimento que é como um breu
tão abrangente e indescritível que deveras assusta
mas tão importante e necessário quanto o seu oposto
Assim como do breu, a luz
Outro sentimento é como uma chaga
que dilacera impiedosamente, tortura sem medida
que leva a implorar pelo alívio da morte
e olhar com desdém os princípios divinos
Fantasias são feitas apenas para especiais ocasiões
Não usufrui de sua majestade diariamente o rei Momo
Talvez, lhe sobrem somente as gozações
como os imortais da Academia, da mesma forma,
pertencem à morte...
Parte final: Esmeralda
Há um sentimento que é como uma flor numa paisagem sob um por de sol
(D)a beleza mais rara e inatingível
que mesmo frágil às intervenções externas
a mente lhe captura para o coração e nada mais lhe rouba
E há um sentimento que hora é como um vento,
outra um vulcão, outra um esplendor
Se brisa, é para a terra seca, se fogo, para os que têm frio
É visto como um tesouro maior do que o ouro do mundo
Pois bem, todos estes sentimentos são invenções
Simbologias brutais dos sentidos
Ou não criei todas estas metáforas
e você facilmente visualizou e assentiu?
CAPÍTULO DEZ (IMPRESSÕES)
Muita gente vai
concluir que se Antônio Peixoto não estivesse morto, talvez eu não fosse, (ou
não demonstrasse ser), tão apreciador de sua obra quanto o faço agora. E é uma
idéia contra a qual inúteis seriam os meus argumentos. Tudo se fez e faz-se
claro ao menos para mim e eu aceito porque é simplesmente a minha realidade. A
partir do instante em que li “A Caminho do Infinito”, cujo poema homônimo
encabeçava a obra, reconheci uma nova visão única e extremamente importante da
literatura como expressão de arte, caracterizando, (na minha concepção), o
talento nato do grande escritor que foi Antônio Peixoto.
Falando das minhas
impressões, elas foram, (quando da primeira vez que li), e ainda são as mais
vastas possíveis. O impacto inicial do poema “A Caminho do Infinito”, que,
assim como outros, (“Labirinto”, “Ensejo”, “Postura”, “Precipitação Molecular”,
etc.), são dotados essencialmente de uma poderosa personalidade, (muito maior
até do que a que o próprio autor se valia habitualmente), prometia um livro
duro, determinante, foi apaziguado logo em seguida pelo bucolismo quase pueril
de “Penápolis”, (aliás, essa extrema ligação com o berço em que nasceu era um
dos maiores pontos em comum entre mim e Toni). Então, de forma compacta e
propositadamente dispersiva, ele começa a despejar sua sátira inconfundível,
(marca constante da obra), com a já irônica a partir do título “Não é você o
autor, mas poderia ser”. De forma simples, hábil e negramente humorada, o
poema, (de fundamento cristão), resume com perfeição a origem da vida e seu
decorrente declínio. A sátira voltaria já não tão irônica, mas nem por isso
menos ácida em “O mundo que merece”, (a perspectiva dos mundos possíveis às
vistas conformadas de um verme), e na subseqüente “Quiçá, tira”, injustiçada, (em
minha opinião), no recital, mas figurando ainda num terceiro ou quarto patamar,
com relação ao potencial de qualidade de seu autor como poeta. Ainda assim,
como o próprio título capciosamente sugere, talvez tenha nascido o poema apenas
para cumprir uma função das mais comuns e não é qualquer um que alcança tal
objetivo com tamanha maestria...
Em “Eu, pra mim...”,
um dos únicos poemas em que o autor aparentemente se entrega a divagação, ele
dá mais um golpe em nossas impressões e acaba nos obrigando a analisarmos a nós
mesmos, demonstrando que nossa importância múltipla é nossa única
característica pertinente à arte, (tese abertamente defendida em sua obra).
O único poema que ele
dificilmente conservaria integrando o livro, caso houvesse tido tempo, creio,
pelo pouco ainda que o conheci, seria “Triste, (destarte existe)”; um parêntese
aberto no universo de sua poesia, para de certa forma homenagear explicitamente
o grande amor de sua vida, ainda que não superestime a pessoa que o canaliza.
Depois, trabalhando
belissimamente com a sonoridade, “Rapto místico” figura entre as minhas
preferidas. Há uma interessante permutação de rimas entre os versos que
emprestam a sua criação simples uma grandiosidade quase épica. Na mesma linha
seguem “Demais nunca”, “Um dia ríspido” e “Digníssima”. Como bom apreciador da
poesia de Augusto dos Anjos, a simpatia pelos sonetos é um fator óbvio: (“A
busca dos sentidos inefáveis”, “Rapto místico”, “Pilares”, “Leilão de
sentidos”, “Elitismo”, “Uma verdade”). Junto a tudo isso o simbolismo simples
que se torna surpreendente de “Lôla, um estereótipo cativante, a prolixidade de
“Vencendo o atraso invencível...” e a beleza da construção de “Sem ter, sem
tido”, (minha predileta, aliás), poema absolutamente dramático, perfeito para
ser interpretado. Um dos mais imparciais discursos sobre o amor como sentimento
que já li, a começar pelo sentido duplo do título que já o classifica como
atemporal e independente.
Também em formato
discursivo, “Digníssima” é uma interessante narrativa, quase uma fábula que
passeia com maestria pela sonoridade em seus versos e passa sua mensagem clara
e pertinente. A obra se despede com “Signos”, cuja personalidade talvez seja a
que mais se assemelha a do autor.
Quando aceitei o
envelope com os poemas daquele desconhecido, não tinha, de forma alguma, a
certeza de que realmente tornaria a vê-lo. No entanto, ao concluir logo da
primeira vez a leitura, (e foram tantas que eu seria incapaz de enumerá-las com
exatidão), senti que a necessidade de falar novamente com ele me impeliria a
encontrá-lo mesmo que aquele endereço fosse uma singela pista falsa. Queria, no
mínimo, que ele soubesse que eu me sentia verdadeiramente agradecido por ter
sido merecedor de tamanha confiança de seu gesto, o que possivelmente ele já
sabia, mas principalmente pelo crescimento interior que seus poemas provocaram em mim. Porque eles eram
bons e ele obviamente o sabia, já que os havia criado. E agora, também eu
sabia, pois os havia lido e sentido, graças à essência sensível do autor, que
me havia considerado merecedor, não pela minha aparência, ou palavrório
pseudo-intelectual, mas pelas impressões extraídas de mim pela minha própria
obra, lida naquele concurso. Sim, porque como constatamos num futuro breve,
ambos fomos importantes um para o outro para compreender melhor a importância
de nossa própria obra.
∞
O endereço levou-me a um pequeno
sobrado, na esquina de uma Rua de Santos que prefiro preservar o nome. Sob o
sobrado havia uma porta comercial que estava fechada, tendo em vista que ser um
dia de domingo. Bem ao lado ficava a porta de entrada da casa de cima e diante
dela, um sujeito claramente bêbado e maltrapilho jazia sobre a passagem, o que
parecia querer-me desestimular daquela visita. Após ter sido o meu pedido de
licença ignorado pelo referido bêbado, esforcei-me para bater, por sobre ele,
na superfície da porta. Um pouco depois da minha terceira ou quarta tentativa, Antônio Peixoto apareceu, saudando
primeiramente o bêbado, como se fosse pertinente parte do cenário:
_ Olá, Água-de-côco!
O bêbado, que até
então não tinha esboçado qualquer reação, ergueu, não sem algum sacrifício, a
cabeça para fitar quem o saudava e, reconhecendo o dono da voz, disse, meio que
praguejando da maneira peculiar dos bêbados:
- Tem comida hoje aí,
poeta?
Da forma absolutamente
natural, o “poeta” respondeu:
- Não se preocupe que
daqui a pouco eu te trago alguma coisa.
Só após esse pequeno
diálogo, o morador da casa se voltou para mim e me estendeu a mão com simpatia,
mas sem qualquer surpresa por me ver.
- Gostou dos poemas? –
foram as primeiras palavras que me disse após o reencontro.
-Amei-os, sinceramente
– respondi.
E ele me convidou para
entrar.
∞
Sua
casa mantinha uma organização moderada de quem, com alguma dificuldade, se
virava bem sozinho. O som na sala tocava algo que eu não conhecia, (descobri
pouco depois se tratar de Pink Floyd, uma de suas bandas prediletas, junto com
Dire Straits, Midnight Oil e – pasmem – assim como eu, ele era fã de Madonna,
algo absolutamente incomum aos jovens de minha época, que pelo menos dentro do
machismo hipócrita do Brasil, tinham permissão para aceitá-la apenas como
objeto de desejo sexual.
Dezenas de long-plays
descansavam em sua prateleira e um dos primeiros consentimentos que obtive,
antes mesmo de começarmos qualquer conversa, foi para verificá-los. E logo
partiriam daquela prateleira diretamente para me influencia e figurarem até
hoje ainda como minhas principais referências musicais bandas como Beatles, New Order, The Doors e outras
que embora não me encantem tanto, como Pink
Floyd e Dire Straits, também
conquistaram meu respeito e empatia. Por outro lado, além de ampliar em pelo
menos 90% o conhecimento dele sobre a Madonna,
contribui em seu “cardápio musical” com bandas como Led Zepellin, Hall & Oates, Legião Urbana, A-ha e outras
explícitas preferências minhas. Não cabe aqui discutir o valor, (ou ausência
de), de nossas preferências musicais. O que pretendo passar são as muitas
formas de trocar de experiências que fundamentaram uma amizade tão breve, mas
tão intensa. Antes que começássemos a conversa ele sugeriu que eu escolhesse
algo que me agradasse ouvir. Na época eu já tinha ouvido falar de “The Doors”,
mas nunca tinha escutado inteiramente nenhuma música da banda. Pareceu-me então
uma boa oportunidade. O disco era uma coletânea que me maravilhou do começo ao
fim.
Quando eu lhe disse
que ele havia confiado demasiadamente na sorte ao me entregar os seus poemas, ele
apenas retrucou ironicamente que era sim demasiada a minha pretensão por me autodenominar
de “sorte”, dando a entender que havia confiado pura e simplesmente em mim,
alguém com quem seus instintos indicaram uma probabilidade grande de ele vir a
desenvolver uma grande afinidade. E indubitavelmente foi o que aconteceu.
A partir dali,
começamos a nos encontrar frequentemente. Discutíamos sobre tudo, mas
principalmente sobre as artes; nossas preferências, nossas influência, o que
gostávamos e o que abominávamos. Geralmente conversávamos andando pelas ruas
mesmo, dando longas voltas pelos pólos comerciais de Santos. Lembro-me de que
fomos juntos ao cinema uma vez e assistimos, não por acaso, “Na cama com Madonna”, um ótimo
documentário sobre a artista.
Falamos várias vezes
em escrever para a Sociedade dos Poetas de Santos, ou comparecermos
despretensiosamente a uma das reuniões que a entidade promovia, mas achávamos
que a hora ainda viria num futuro breve. Pois, para mim nunca veio e para
Ariovaldo Antônio Peixoto, jamais virá.
Não chegamos realmente
a conversar muito sobre nossas vidas pessoais. Ele me falou de seu amor pela
ex-noiva, deixada em Penápolis e pouca coisa sobre a sua família. Após a morte
de seu pai, ele deixou o Rio e veio para Santos, exatamente para aquele sobrado
que pertencia ao seu tio, com um pouco de dinheiro para tentar começar seu
próprio negócio. Acabou preferindo deixar a marcenaria de lado e abrir uma
serigrafia. E eu, pouco tive para contar-lhe já que minha vida nunca foi um mar
de acontecimentos cativantes. No entanto, tornamo-nos amigos de toda uma vida.
E isso superou até a maior das tragédias.
Capítulo
onze (A morte do poeta)
Na temporada de
carnaval, convidei Tony a ir comigo e minha família a São Sebastião, no litoral
norte de São Paulo, onde minha mãe possui uma casa. Tudo transcorreu
perfeitamente bem; passeamos e nos divertimos indo às belas praias e, no caso
dele, conhecendo a cidade em que praticamente me criei. À noite, saíamos para
assistir os desfiles e eu até tentava animá-lo a aproveitar o clima de carnaval
para tentar conhecer alguém, paquerar um pouco, mas a paixão pela ex-noiva o
mantinha sempre envolto em seus bloqueios, o que dificultava qualquer tentativa
mesmo de uma simples paquera. Quanto a mim, não se pode dizer que coube
diferente sorte, só que a única eterna noiva que me atrapalhava e atrapalha até
hoje se chama “timidez”.
Foi o último tempo em que passamos juntos.
Na noite em que
voltamos, quando Toni chegou em sua casa, deparou-se com a porta aberta.
“Água-de-côco”, o bêbado, estava na porta bem desperto, como que vigiando. Ao
perceber que o dono da casa retornara, mentiu para evitar que ele fosse chamar
a polícia e ao mesmo tempo, atraiu-o para uma armadilha.
- Poeta!
Eu cheguei e vi a porta arrombada, então entrei para pegar o ladrão no flagra,
mas o pilantra já tinha se mandado.
Apesar de estranhar,
não a presença, mas a absoluta ausência de embriaguez dele, Toni confiou no
homem que ele sempre tivera prazer em ajudar com alimentos, remédios e às vezes
até dinheiro.
Ao entrar na casa,
esperando encontrar apenas seus objetos e pertences revirados, deparou-se com
dois assaltantes que o alvejaram com dois tiros no peito.
Horas depois,
“Água-de-côco” era preso e confessava tudo, entregando também os nomes dos
assaltantes, visando amortizar a sua própria pena.
No dia seguinte,
fiquei sabendo da tragédia pelos freqüentadores do bar vizinho à casa em que Toni morava. Com
alguma dificuldade, a polícia localizou o dono da casa, tio de Toni, que
custeou o transporte do corpo para Penápolis, para ser enterrado em sua terra
natal.
Dias depois,
“Água-de-côco” também foi morto em sua própria cela, durante uma rebelião,
pelos bandidos que ele havia delatado e que depois fugiram.
Numa breve conversa
que tive com o tio de Toni, pedi para que ele tentasse localizar a garota
chamada Marina Prado de Oliveira, em Penápolis e lhe contasse sobre a morte de
Toni, pois os dois haviam vivido um grande amor. Contei-lhe também que seu
sobrinho fora um grande poeta, mas ele não pareceu se impressionar muito com
isso. Dias depois ele me ligou com duas notícias: a primeira era sobre a
garota; ele a localizara sim, mas ela estava noiva, às portas de um casamento
com um jovem médico lá mesmo em Penápolis e isso o fez rapidamente desistir da
idéia de procurá-la para lhe contar qualquer coisa.
A segunda notícia,
esta uma surpresa muito mais agradável, foi que ele havia encontrado no meio
das coisas de Toni alguns manuscritos e como não lhe restava mais nenhum
parente vivo além do próprio tio e sua família, ele decidiu que, em nome da
amizade que eu e seu sobrinho havíamos partilhado, se caso me interessasse,
poderia eu ficar com tudo.
Foi um presente
tremendo para mim. Ele me trouxe em seu carro alguns poucos blocos de folhas
soltas, mais o original de “A CAMINHO DO
INFINITO”.
Era a última expressão
de uma alma sensível e extremamente talentosa.
O melhor que pude
guardar de um grande amigo...
“Atesto hoje, seis de outubro de 1994, a morte em mim de
Ariovaldo Antônio Peixoto, o poeta que nunca fui, mas que vivenciei como a mim
mesmo”

Capítulo
doze (Retorno à minha carapaça de jabuti rufião)
Isso quer dizer que
serão novamente invocados os conflitos que haviam aparentemente cessado no
livro?
Na breve biografia de
Peixoto, lícito não seria o falar de si, já que a “obra-sobre-o-autor” fora de alto
valor apregoado a ele. Mas ele ensinou e partiu, como fragmento da vida que
despeja partes do todo por todos os lados para que peguemos como se fôssemos
malabaristas. Assim, o homem de vinte e nove anos, setenta quilos, cerca de um
metro e setenta e cinco centímetros, cabelos negros, olhos castanhos claros e
pele branca reintegrou-se ao cosmo tornando-se só essência para ajudar os que o
procurarem em sua obra.
Adeus amigo.
Prossigo...
Ariovaldo Antônio Peixoto
☼27-10-65
†
06-03-94
Capítulo treze (E o monstro?)
Permanece
vivo?
Claro
que sim! Assim como Antônio Peixoto foi, ele é, mas sempre será parte de mim.
Que se pode multipartir entre mim e qualquer outro “eu-poeta”, ou que pode até
mesmo ser um próprio. Rotulado, mas ainda assim, perigoso.
Capítulo quatorze (Dimensões)
Limite?
Poucos.
Talvez o próprio ímpeto da razão.
Caráter
intempestivo; formas inenarráveis.
Condição:
quase sempre espiritual, o que não impede de despontar fisicamente por emersão;
sobrepor-se a qualquer sentimento humano e espalhar-se; capaz de fazer um bem
em nome de outra coisa. Acelera os pensamentos e cansa-se e jaz até o próximo
instante. Índole não racional; apenas condição mórbida humana. Não raivoso
assassino instinto; apenas desafiador dos limites de uma própria selva.
Não
interessa nome, aparência, condição. No que vos habita, é vosso ser.
De
nada vale sorte, satisfação, felicidade; na forma tenra e perecível sobrais
taciturno e lasso e trazeis vosso único consenso...
MONSTRO, POBRE MONSTRO
De
ti pendem as minhas mortalhas
MONSTRO, CELERADO
Por que não te revelas num
ardor-sorriso? Não crês que em tua pouca coragem enfraqueces?
APUPOS PARA O MONSTRO! APUPOS!
Ecoantes como uivos em tua noite
interna.
(Conjuradas as vozes de um só ego
por uma estranha poesia do mar)
O mar. Eis o afluente do meu espírito,
símbolo que somos, pois, consangüíneos. O mar que me carregou e me devolveu
inúmeras vezes. O mar que jaz por mim contra a própria morte. Que me guarda e
lacrimeja meus desafios.
O mar que instintivamente me ama.
Sim; o mar me ama.
O mar que se prostra em nome do
meu-nosso Deus.
Não importa se vêem agora Sousa
ou Peixoto. Ou Joaquim, ou José, ou Manoel, ou Beltrano.
Importa o mar.
O mar como a face de meu monstro.
A ilógica úmida de minh’alma.
Plano.
Provador.
E tentador.
Ei-lo; o mar
☼
≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈
≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈≈
Talvez
eu seja isso...
Várias
páginas de mar orgânico...
...e romance...
Capítulo quinze (Depressão)
O que teria dito na inspiração
que não tive, há quinze minutos? E o que quereria deveras dizer? Eu que, como
sempre, falo demais. Não eu, mas meus limites. E eu também. Basta de
subterfúgios! A alegria é mutante. A felicidade é eterna.
E a depressão, o que é? Mais que
algo, alguém?Além de em mim, mas eu? Um eu de depressão. Ela não busca motivos,
mas os aceita. Ou fita com descaso as suas ausências. A proposta era conhecê-la
e ela se espalha. E já é grande demais para se ir adiante...
Queria chorar. Queria deveras
chorar.
Queria dirigir minha vida como a
um filme.
Basta também de querelas e
querências. É inexorável esta minha busca por sentidos.
Quero que tudo acabe agora; pelo
menos até amanhã.
Deixei passar com desdém a
inspiração que eu tive há vinte minutos. Uma porção de alegria. E com esta
palavra vou fechar minha
mágoa..............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................alegria.
Capítulo dezesseis (Retomo
as rédeas de meu ser)
“Ora, Fabiano; basta de falar de teu
monstro como quem não fala de ti. Evidencias tanto o teu-meu poder destrutivo e
te esqueces do que basicamente nos compõe?
O amor.
Que não é símbolo, nem é nada da
Terra.
Transcendência.
O amor onde desaguou-te-me-nos por
ti e pela fé que te rege o coração. A depressão é um atalho na trilha da vida e
do amor. Um atalho multipartido e se estendendo ao longo do caminho. Um atalho,
às vezes lascivo, ou que às vezes percorremos guiados pelo instinto.
Quase inevitável...
Mas saibas que sua proporção depende
de ti, até seres reconduzido à estrada principal. O único alerta é o de “não recue”. A trilha que
ambicionas sempre estará mais à frente. Não retornes ao ponto onde te iludiste
com o atalho. Se lhe deste tua alma, percorra-o sem culpa e logo te devolverá o
tempo perdido. Os caminhos da vida são menores do que os caminhos da alma. Não
é necessário que tua mente conheças para conhecer-te, mas é necessário que
saibas muito de tua alma.
Conheça-te o suficiente apenas para
saber dar o próximo passo.
Se errares o passo, compreenda-te
mais.
O que até agora chamaste desdém,
podes converter em energia positiva; e muitas outras fraquezas notórias que
trazes.
O mais importante é bem conheceres
cada uma de tuas forças para que mesmo que se dispersem, saibas como
reagrupá-las.
(Todos têm uma própria luz)
Guarda esta mensagem e fica atento.
Uma
luz!?!
Presenteada por Deus e independente de qualquer
coisa-circunstância.
Talvez seja a própria
luz-da-existência.
E ela revela tudo...
FIM
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