quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O LABIRINTO VIVO - 1996


FABIANO SANTOS SOUSA







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a quem interessar



















Capítulo um

Abertura


            Falar de si mesmo a outras pessoas nunca será uma experiência fácil. A literatura, por sua vez, nos oferece o esplêndido recurso de se falar de si para si; de nós a nós mesmos.

            Então, prevenido leitor e disposto ouvinte, este livro será isso: falarei de mim, não para quem estiver lendo, mas para mim mesmo. Qualquer outro será, (se não plenamente alheio), completamente um intruso, ainda que de forma alguma mal visto, já que o autoconhecimento é, na verdade, apenas o primeiro passo rumo à pluralização harmônica que é o maior desejo a preencher todos os indivíduos. Assim, repartir-me e questionar emocionalmente cada fragmento meu é a tarefa que abraço e que acredito, guardadas as distintas proporções, poder-se-á servir de espelho a quem traz na vida aspirações semelhantes as minhas. Eis aí uma função secundária que a leitura levaria. Percebamos ainda uma terciária, que toda leitura distrai-nos e nos lança num mar de idéias, embora, não poucas vezes, fúteis. E eis então o objeto proposto: não uma biografia ou descrição, que revelariam pouco ou nada do que realmente é a minha existência, o meu eu no mundo: mas uma auto-análise imparcial onde espero não deixar escapar de mim o menor detalhe.

            Ah! Em tempo; meu nome:


Fabiano Santos Pereira de Sousa





CAPITULO DOIS

Emoções

            Fluem quase tão concretamente na minha vida quanto o sangue que me corre nas veias. Certamente há de ser assim com todo mundo, mas todo o mundo que me importa agora é apenas o meu, grande e complexo o bastante para eu, (o analisador), ficar ainda procurando abstratas explicações para as emoções da humanidade. Os meus atos são essencialmente emotivos, embora, atentamente observados pelos olhos do que me acostumei a chamar de “meu monstro”, quase que outro habitante da minha mente e de quem falarei com muito mais detalhes oportunamente.
            A primeira dificuldade em que comumente esbarro é a de demonstrar simpatia e desta forma atrair a recíproca de outrem. Percebo claramente meu apreço abrangente a todos, mas que se torna extremamente confuso quando passam a habitar o mundo ao alcance de meu toque. Muitas vezes me surpreendo tratando as pessoas como trataria a mim mesmo e assim exigindo delas que aceitem a espécie de tratamento que, tranquilamente, eu mesmo aceitaria. Embora pareça teoricamente um método carregado de senso de justiça, é bastante ingênuo, (para não se dizer estúpido), olhar tal conceito sob o mesmo prisma de, por exemplo, o segundo dos dois grandes mandamentos do cristianismo:

“ama o teu próximo como a ti mesmo”

            Ora, se falamos de amor, (especialmente o Amor extremo que Jesus pregou), aí abandonamos todas as análises intelectuais e científicas. A inteligência e logicamente a Ciência são meros pedantes, talvez até dispensáveis numa Existência composta por um sentimento tão puro e maravilhoso.
            Já quanto ao: “faça aos outros somente o que deseja que lhe façam” é um instrumento muito perigoso num mundo em que o já referido sentimento de amor ao próximo e até a si mesmo está tão deturpado e obscuro.

            É fácil, portanto, concluir que não sei lidar com as pessoas. Não sei, porque não aprendi. Não aprendi porque não pude aprender. Não pude aprender porque provavelmente escolhi a trilha errada no momento em que a vida tinha para mim o caminho desse conhecimento. Mas, para isso estou aqui olhando para trás, quase que como numa regressão espiritual. Para encontrar o que perdi, mesmo que jamais possa reacoplá-lo, saber substituí-lo.
            À parte minha sinceridade que geralmente repele, é claro que também me valho da arte de interpretar. Cativar ou acintar, agradar ou repelir, muitas vezes pode ser extremamente necessário e aí é inevitável que eu molde a minha própria natureza.

“Ora, mas no capítulo onde mais deveria ser emotivo, (haja vista o título), revela-te um ser maquinal?!”


            Maquinal todos somos. Não sou máquina.
            Sou carne e espírito; sou um complexo de carne e espírito guiado pela síncope de minha mente: o monstro; mutante; como um vírus nocivo; como um camaleão protegido pela sua mutação; como um ser que se enfeita para o seu amor.

            Uma defesa necessária, por conseguinte, em prol de um bem maior
(pelo menos é o que acredito)

            Para analisar-me mais detalhadamente, apresentar-me-ei as minhas emoções quando estou:


1. – disperso;

Uma espécie de abstração pessoal parecida com a solidão, só que menos negativista. Ainda assim, uma trilha paralela ao mundo convencional, de um outro mundo menor e que só esconde;

2. – pretensioso;

Uma energia pedante que aparenta preencher-me com poder e sabedoria, mas que invariavelmente cai por terra, tornando a crua verdade muito mais dura e me deixando muito mais vulnerável;

3. – arredio

Como neste livro, procurando sempre por mim. Mais do que isso; procurando me ajudar e me compreender em todas as circunstâncias. Obviamente, isto muitas vezes contribui para me afastar ainda mais das pessoas, mas é um preço que tenho que pagar para conhecer-me um pouco mais a cada dia. Assim, colocando-me diante de mim mesmo, vou deixando de  me sentir sufocado e distribuo melhor minhas emoções internas e externas. Sou uma peça defeituosa que não se encaixa, mas por isso mesmo, tive fabricação única e não tendo a desvalorizar;

4. – satírico;

Uma vertente de meu senso de humor. Tomado por emoção por deixar claro o seu sentido prático. Mesmo geralmente pouco acessível, quase sempre impressiona ou desagrada. Capaz de em uma sala lotada contar uma piada já com a plena certeza de que rirá sozinho. Capaz dos acintes mais vis independentemente de ser boa ou má a intenção. Uma ironia viva, rebelde e inteligente;

5. – cansado;

‘Enfim, preciso dormir... ’

“Hei, não me disperse! Afinal, de nós eu é que escrevo.”

‘São duas horas da manhã, meu caro. Eu quero e vou dormir’

“Bem sabes que a noite me traz a maior inspiração...”
‘Isso, ou ela é só quem melhor te esconde?’

“Por que conclui assim que estou sempre fugindo?”

‘Porque só em momentos de solidão venho à tona. ’

“Pode não ser fuga, mas peculiar coincidência.”

‘Tais coincidências geralmente são defeitos e raramente são virtudes. ’

“Sim, mas conclusões como esta só advirão de conversas como esta.”

‘Pois bem, mas que não sejam sempre às duas da manhã. ’

“Pela primeira vez conversamos como amigos e eu pude sentir, (como sempre acreditei), que só queres meu bem. A partir de hoje prestarei mais atenção as tuas criticas e conselhos.”

‘Ótimo! Mas, que tal a partir de amanhã? Teremos ainda muito tempo para ponderar sobre o assunto. Agora deveras cansados estamos. ’

“Está certo. Então, boa noite...”


5. – sonhador;

Pequenas poesias sobre sonhos:
I –
Os sonhos são forças
            São dons
            Presentes em tudo
            Uma fonte de energia que se consome
            E se renova

II –
Nesta vida que vai sem pressa
            algumas pessoas sonham
            pessoas que sofrem
            pessoas que sobem
            e descem as ladeiras da alma
            (A pessoa que não sonha tem a alma concreta)

            Nesta vida que passa ligeira
            onde morrem e vivem sonhos
            cada pessoa  sonha
            cada sonho em pessoa
            ai que natureza boa
            dá-nos harmonia das mãos, na palma
            (A pessoa que sonha já é poeta)

6. – confuso;

Eu, que geralmente me atrapalho. Sem rédeas e sem sorte. Ignoro deliberadamente meus próprios limites. Às vezes, algo flui e destrói meus planos normais, simples e bonitos. Isso costuma, ainda que involuntariamente ferir pessoas e principalmente me causar decepção de mim mesmo. Assim, é horrível! As palavras precisamente pensadas escapam e aí são precisas, mas voltadas para a destruição. Minha confusão é inexorável;

7. – lastimoso;

O que sobra; os escombros. A lástima deriva da falta de alguma coisa. Às vezes, da falta até mesmo da procura, ou da coerência. Quase sempre a lástima se sobrepõe a uma força minha que não tenho. Ela também impulsiona a busca;

8. – determinado;

Talvez não seja um estado emotivo, já que habita apenas minha consciência e se associa com meu “eu-físico”. Da determinação provêm os meus valores, dos quais falarei depois;

9. – sensível;

O reconhecimento do sentimento de amor e bondade e a capacidade de compreendê-lo como ideal. O respeito profundo pelo Amor (amor-amizade-autruísmo) e sua aspiração. Da vida, a minha obra e ao meu primário eu. O eu que resiste aos maus fluidos; que da convivência necessita e de carinho se sustenta; que divaga com as inter-relações e que se sobrepõe para mostrar o quanto o viver vale a pena. O Eu personificado que idealiza A busca...


           
            Antes que se finde o capítulo das emoções, convém falar um pouco da minha impassibilidade. Não será relacionada como item devido ao incompreensível antagonismo que acarretaria junto ao item anterior. E, afinal, o estado impassível não é uma emoção, mas a ausência delas. Uma ausência de existência imensa que duela constantemente com meus valores religiosos, sociais e intelectuais.
            A impassibilidade é, sem dúvida, um dos mais poderosos servidores de meu monstro.





CAPITULO TRÊS

“Dialorgânico”



“Chove.”

“Ótimo! A paz é majoritária.”

“E imprescindível.”

“Quem és tu?”

“Não te atrevas me questionar se a ti mesmo desconheces.”

“Sabes que só perguntando a mim mesmo quem responde é outro. O que farei?”

“Não perguntes. Respostas surgem aos que estão prontos para apreendê-las. Exercita-te-me. Estejamos preparados.”

“Saiamos de ‘nós’. Como proceder com os outros e principalmente com os que individualmente amamos?”

“Tolo! Sabes bem que, por nós, compartilho também eu da mesma dúvida.”

“E qual então a finalidade de nosso diálogo passivo?”

“Findá-lo menos passivo, é claro.”

“Exercício?”

“Trazer-te-me pequenas conclusões.”

“É o que sempre chamei de mensagem.”







CAPÍTULO QUATRO


A Busca

. de um reinício;
. da evolução;
. da aprendizagem;
. do conhecimento;
. do autodomínio;
. da humildade;
. da esperança;
. do crescimento;
. da sorte;
. da coragem;
. da paz;
. do passado;
. dos valores;
. da amizade;
. da sensibilidade;
. da beleza;
 . do sonho;
. da felicidade;
. da fé;
. do amor...























CAPÍTULO CINCO

AUTOPSICOLOGIA”

            Vou entrar em transe e me valer de um método ocasionalmente chamado de ‘autopsicologia’ para dar sequência ao objeto proposto neste livro. Chamá-lo-ão talvez até de a autopsicologia de F.SANTOS SOUSA, se, claro, lerem-me. Não importa. Fiz nascer o termo. O aceito.



            A uma partida de futebol se assemelha a minha vida. Resume-se basicamente em atacar e defender, revigorando-se e compreendendo-se em breves intervalos em meio aos quais eu, tímido, acolhedor da natureza, busco a libertação.
            A postura de meu regente coração é absolutamente pueril, de dificuldades tolamente claras. Atua como um gentleman numa era de bárbaros. Diante do que enfatiza o mais profundo sentimento, (um desejo, um sonho, um objeto), sou bisonho, babélico e quase sempre pedante; um pobre inepto. Depois sofro; sem sentido, instintiva e intensamente sofro, cobrando um novo momento que não há de vir e ciente de que mesmo que viesse, certamente não também o aproveitaria.

“Pare de reclamar e livre-te-me disso. Seja mais forte. Dê um, (ao menos), passo a mais. E não te esqueças: estás jogando com a tua-nossa vida.”



            Os sentimentos, assim como os valores, são germinantes. Fixos em nós em um interior invisível e evoluem como o nosso crescimento, embora mais intensamente. Assim intensamente convivem dois lados concretos de minha mente. Só assim ela sobrepõe suas próprias fraquezas, mesmo sem base e estrutura que a isso comporte. Um instinto próximo ao animal; se não subumano, “eumano”, que persegue na simplicidade soluções dentro de minha própria rebeldia.
            O sentimento de perda com o qual convivo não o chamo propriamente de dor, angústia, (talvez uma falta). Quase sempre ignoro a sua presença até adquirir as condições para enfrentá-lo. Temo realmente estar destinado à angústia. Uma angústia insolente e absurda; quiçá, cientificamente explicável; aquém, espiritualmente insolúvel.

            Poucas vezes tenho apenas uma vontade própria.
            Sou um instrumento de uma consciência múltipartida travando violentos confrontos íntimos para acreditar em mim e por os pés para fora de casa, as idéias para fora da mente...
Só a poesia me liberta deste receio.





Sempre sonhei com uma esposa, um carro, dois filhos, um(a) melhor(es) amigo(s) e alguma liberdade.
Os valores de família e de vivência social que nem sempre aplico vivem determinadamente em mim. Fui e sou, é bem verdade, militante do amor pessoal e egoísta entre homem-mulher, mas todo amor real amplia-se e deságua no oceano por inteiro.
Deveras isso é o Amor. Negar isso, é, (emprestando a sabedoria de um dito popular), padecer no paraíso.



A vida e a morte são para mim os únicos “não-símbolos”. Símbolos são instrumentos de Deus ou dos homens. São a vida e a morte imutáveis e independentes. Não a vida que construímos e a morte da qual fugimos, mas a própria presença essencial de cada uma delas. Os símbolos são imensos, mas nenhum deles se equipara  a elas. Apenas o poder da fé as pode sobrepor.
A vida é usufruída imperceptivelmente. Zelada apenas sob a forma de um medo; um medo descomunal e insipiente. A mesma forma de medo que em quase toda circunstância repudia a morte. Já o desamor à vida é uma ausência ou um distúrbio de valores.
Eu vejo a vida como o universo do planeta Labirinto e de muitos outros astros e corpos celestes. Um labirinto infinito também já que por mais que percorrida, não a compreendemos. O único presente concreto que uma existência poderia receber. Considero livres tolos os que procuram questionar isso.
Toda vida vem de Deus...


A morte me é mais oclusa, mas não me aterra. Haverá de vir no tempo certo.
E a vida retorna a Deus...

“Mas se não é a morte que te aterra, não é o desamor que te aterra, não são os medos ou a solidão, nem as faltas e nem as perdas que te aterram, então o que te aterra, senhor Fabiano Santos de Sousa?”

            O que me aterra sou eu.
            O que me aterra é o monstro...
...que vive em mim.






CAPÍTULO SEIS

Bem. Preparado o terreno, dissequemos...


...O Monstro


            É essencialmente tudo o que já foi dito e algo mais. É a parte de meu ser que quase sempre não domino, embora também pouco me esforce por tentar. Um arrogante e em parte complexo processo das partículas que me compõem; previsível na maior parte do tempo, mas sempre pronto para surpreender. Chamo-o monstro, pois quando emerge é maior e mais forte do que eu e dotado de pólos cujos negativos podem ser deveras aterradores. Uma deformação de emoções independentes que se unem e perseguem sem sobreaviso um alvo que as (me) incomoda, embora às vezes eu mesmo não perceba.
            Ei-lo em nada definido nos limites da explicação.
            Talvez descrever não seja a resposta.
            Talvez, desbravar...





            CAPRICHOS DO EGOCENTRISMO

            Se pejorativamente caprichoso é dividir-se em períodos, pejorativamente caprichoso eu sou. Portador do vírus destrutivo; passivo, mas não inativo, pois no que respira está vivo e por estar vivo descansa e desperta.

(SÓ POSSO FERIR A QUEM AMO)

E quem me ama...

(NINGUÉM PODE ACHAR-ME EM MIM)

            O monstro não é sempre agressivo. Apenas incansavelmente arredio. Até pode envergonhar-se de sua própria dor, embora não a questione.

“O que há, Seu Monstro? Jogaste fora a inteligência? Não poderás viver sem mim. Suicida-te destruindo-me.”

És deveras tolo se não notaste minha sede. Como poderia me abster se a cada toque te emolduro a minha imagem? E daí não poder contra os teus valores? Vale-me ser a pedra, da razão, no caminho.”

(A FÉ É DO HOMEM COMO A PUREZA, DAS CRIANÇAS)

“Hoje pareces mais preposto à luta.”

“És hoje menos apto a validar tua força.”

“Tentativa fútil de manipular-me. As faltas hão de ser apenas tuas. Nada contra mim idealizaste em tua busca.”

“Hipócrita! Quem pensas que é diante do poder do amor?”

“Definiste bem a pouco minha existência. Sou o vírus passivo e destrutivo. Nada posso contra a força do amor, mas posso conviver com ele. E toda a humanidade falta; uns menos, outros mais, mas nunca realmente livres estarão.”

“Cala-te. Não tenho por que confiar no que dizes.”

“Lembra-te: toda imprudência é o princípio das conclusões que hão de ferir-te profundamente em seu retorno.”

“E todo portativo vírus atrofia-se...”

















CAPÍTULO SETE

Os Cavaleiros D’Amor



            Basta! Não sou uma bomba ambulante. Na verdade, sou um processo complicado e um todo romântico. Faço-me de instrumento da poesia; da música; da alegria. Seguidor impávido dos CAVALEIROS D’AMOR


1


Onde estás amor de minha vida
Que ainda não provaste com glória
Não seres surto na memória
Após seres meu infanticida?

Por que vives ainda ocluso
Sem a pátria de minha história?
Sem as dores e sem a glória
Estado indelével, mas obtuso

És a flor que cobre e aguarda
Nos espaços sem mais valia
Perfume que não tarda, beleza que não falha

Luzindo de noite e de dia
Imponente e radiante em toda tua farda
Saudações pomposas nesta poesia







2

Recobra vidas vazias
Alimenta
Coisa que a valer fascina
Porquanto amor representa
Amigos, tenho um punhado
Colegas, cento e noventa...
A-M-I-Z-A-D-E

É filtro dos infortúnios
De grã-sofrimento isenta
Flor que o coração cativa
Luz que na sombra orienta
Equilíbrio; sob os pés, raiz
Aura que a razão contenta
A-M-I-Z-A-D-E

Enternece corações frívolos
E aos atormentados acalenta
Sincera, é inabalável
Que nenhuma dor arrebenta
Energia que se renova
Apoio que sempre sustenta
A-M-I-Z-A-D-E

Benção. Dádiva divina
Emoção lírica, suave e lenta
Remate dos maiores males
Paz que chega e se assenta
Envolve a alma, embrenha-se no peito
Expande-se e com ela o coração aumenta
A-M-I-Z-A-D-E




3


Guarde cada coração a espera pelo destino
O que não se celebra seca e em sua penúria jaz
Tu és bomba; és mente e és espírito
Além de tua parte de dor?

Toma pelas mãos a beleza desta vida
Seja numa flor ou num abraço
Basta de buscar da vida; busca-lhe apenas
E tudo vem
Não receies sorrir, não anseies por nada
As tendências falam; deves ouvir
Tenha tempo livre para te entender
E ponhas em cada sentido da vida
A verdade, a humanidade e o amor

Tu és bomba. És mente e és espírito
Além de tua parte como símbolo
Símbolo da dor e da vida
Símbolo do ser e do amor



“Plante uma flor em seu coração” – F.S.Sousa


























“AQUI ME ENGAJO NO MAIOR AMOR DOS HOMENS. A DÁDIVA GRANDIOSA PARA A PLENA SATISFAÇÃO PESSOAL. CELESTE. DIVINAL.

JESUS CRISTO: EIS O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA...”































CAPÍTULO OITO


Aurora

Epígrafe:          “(Nasce um novo poeta)”


“Em que sentido?”

“Vou me brandir um novo perfil. Um heterônimo vivo. Não importa se acredito ser uma fuga. Não me importa a opinião dos outros. Não me importa a opinião de mim.”

“Vai-nos desprezar, sabedoria do domínio e da fuga?”

“Sem lógica. Farei apenas meu ser saturado também repousar. Perdi as paixões singulares que poderiam ter sido. Também as nove amizades apontadas pelo poeta. Pronto e disposto então a sacrificar também o que nunca tive e repousar íntegro como mero indigente”.

“Fala mais sobre elas; as perdas.”

“Pouco parece oportuno”.

“Segues imprudente. Não sabes que a proposta é o aprendizado?”

“Pois bem. Tentemos, então. Todas vestiram da ilusão a túnica. A intenção, a sinceridade, a veracidade e as possibilidades positivas pouco importam se o que verdadeiramente fica é a imagem inflexível da ilusão”.

“E quando a temível ilusão derrotou a coragem e a disposição?”

“Não derrotou. Anexou. Na coligação restante”.

“E não sentes vergonha?”

“A vergonha repousa na falta de lógica e sem lógica jaz nosso coração...”



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▲∆▲∆▲








{Por um poder a mim concedido por alguma lei astral, atesto a emersão em mim, hoje, vinte e sete de julho de mil novecentos e noventa e quatro, de Ariovaldo Antônio Peixoto.}




































CAPÍTULO NOVE

Um amigo

            Um amigo, talvez, (exceto por Danielle, imbatível), o maior de todos conheci no dia 27 de julho de mil novecentos e noventa e quatro, diante do Teatro Municipal de Santos. Era uma tarde, de clima ameno e interessante e ali várias pessoas, em sua maioria jovens, se reuniam no portão de entrada aguardando o início das inscrições para um recital de poesias, evento que ali mesmo seria vindouro. Eu, carregando a eterna dificuldade em externar o que produzo, a princípio admiti ser presente apenas como expectador, mas num súbito ímpeto de motivação vindo não sei de onde, pus-me a vasculhar entre os meus poemas um que se aplainasse numa ocasião como seria aquela, acabando por escolher quase a esmo um intitulado “Prisão de Espírito”. Não era um concurso, mas uma confraternização entre pretensos poetas, muitos dos quais tímidos e relutantes como eu. Segundo li depois em uma coluna de jornal, embora tendo sido o evento direcionado a amadores, o número de interessados no assunto chegou a surpreender os organizadores. Mas não a mim; sempre acreditei no potencial artístico de Santos, (mais do que em qualquer outro potencial que ela possua). Principalmente pela arte estou irremediavelmente ligado a Santos.
            Não posso explicar bem por que escolhi “Prisão de Espírito” entre tantas outras, mas, como tantas outras, ela consegue bem definir algo da essência de meus sentimentos.
            Enquanto aguardava o início das inscrições, aproximei-me de uma roda de pessoas que debatiam timidamente. O grupo era formado por cerca de oito ou nove pessoas e todos pareciam encarar aquele recital como muito mais do que um mero evento de confraternização. Para muitos, acredito, assim como para mim, fora a primeira chance de revelar seus escritos a uma platéia de interessados. E a ocasião e o ambiente eram extremamente propícios para os observadores perseguidores de talentos emergentes se colocarem de prontidão. Apesar de não ser propriamente um concurso, todos os participantes sabiam disso. Todos pareciam receosos, com seus envelopes na mão, como se carregassem um documento capaz de colocar em risco a segurança nacional. Na roda em que eu estava, conversavam sobre trivialidades relacionadas à poesia, como predileções pessoais e universais. Muitos falavam de grandes poetas, (os seus preferidos), como se fossem seus amigos mais íntimos. Alguns se arriscavam a recitar as suas poesias prediletas que sabiam de cor. Fernando Pessoa e Drummond surgiram como unanimidades, mas lembro-me de que vários outros nomes foram citados, como Luiz de Camões, Gonçalves Dias, João Cabral, Cecília Meireles, Bocage, Neruda, Florbela Espanca, Sheakespere, (particularmente contribui com a lembrança de Gregório de Matos, meu favorito após Pessoa), e muitos outros clássicos e contemporâneos que por absoluta falta de conhecimento os nomes não pude guardar. Fiquei surpreso e também, por que não dizer, contente, quando um jovem aparentando ter um pouco mais idade do que eu, aproveitou um momentâneo silêncio, pediu a palavra e começou a recitar:







“Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”













            O poema é “Versos Íntimos” de Augusto dos Anjos e este foi meu primeiro contato com Ariovaldo Antônio Peixoto. Um grande poeta e acima de tudo, um grande amigo.         




            A lista com os nomes dos poemas selecionados para o recital foi publicada no dia seguinte nos jornais locais e nos próprios murais do teatro. Já se havia pré-estabelecido que a incursão de qualquer poema no determinado evento estaria sujeita à aprovação de um comitê julgador constituído pelos organizadores. O recital contaria com o máximo número de cinqüenta poemas inéditos, sobre qualquer tema, escritos em Língua Portuguesa. Por um motivo que só conhecemos depois, na lista dos selecionados apenas constava das obras o título, sem qualquer referência aos autores. Confesso que o novo critério amortizou um pouco, no princípio, meu interesse pelo tal recital, mas, ainda assim, certificar a presença de “Prisão do Espírito” numa lista onde muitos, talvez com expectativas bem maiores do que as minhas, haviam ficado de fora, tocou-me ao orgulho que todo autor costuma nutrir por sua obra. Assim, no dia seguinte, marquei presença no despretensioso evento que acabou por marcar, (ainda que indiretamente), também presença em meu crescimento pessoal e artístico para o resto de minha vida...


Φ

            Como muitos insinuaram e outros tantos acreditaram,  aquele evento não seria tão despretensioso como quiseram levar a crer os organizadores. Confirmou-se como uma diferente espécie de concurso, onde os próprios participantes deveriam eleger os melhores trabalhos. Claro que não seria permitido a cada autor escolher seu próprio poema, mas sim o seu preferido dentre os demais, daí a importância do diminuto número de participantes, já que cada ouvinte deveria estar bastante atento a todas as obras recitadas e escolher dentre elas a que mais lhe tocasse. Por isso também os nomes dos autores não haviam sido divulgados desde o princípio; para que os populares “grupinhos” que eventualmente se formassem durante o evento não desvirtuassem a intenção do concurso, votando por coleguismo e não por preferência. Assim, durante o recital, após cada poema lido, apenas o título era revelado aos ouvintes, que deveriam, em um catálogo pessoal, atribuir notas a cada um dos poemas lidos e ao final apontar o de maior nota e em conseqüência, seu preferido. A intenção, assim, foi de que o julgamento das obras pudesse ocorrer de forma absolutamente sincera e honesta.

            Quando então escolhi “Quiçá; tira” como meu predileto, jamais poderia imaginar que o autor daquele poema era o mesmo jovem que conheci no dia da inscrição, o que declamara “Versos Íntimos”, um dos meus poemas favoritos. Esta descoberta me trouxe mais tarde a certeza de que eu e aquele jovem de cabelos encaracolados, esguio e repleto de um aspecto de dignidade quase irritante tínhamos de fato muita coisa em comum.


Φ



            “Quiçá; tira” nem de longe foi a mais votada. Impossível calcular números precisos já que todos os que assistiram o recital, (e não apenas os participantes, como se supunha), puderam votar. Certamente umas cento e cinqüenta pessoas pelo menos, estiveram presentes e destas, apenas duas votaram nela. Eu fui uma delas. Impossível também descobrir quem foi a outra, já que os catálogos jamais foram devolvidos pelos organizadores.

            “Prisão do Espírito” obteve uma sorte bem melhor; com 39 votos, (inclusive o do próprio Toni, ele me contou depois), coube-lhe um pomposo terceiro lugar no evento.
            Não houve premiação. Apenas um convite aos dez primeiros colocados a participarem de uma antologia de poetas santistas, o que prontamente recusei por acreditar que pouco na credibilidade das antologias, especialmente a de poetas amadores. Isto e obviamente minha retração aborrecedoramente inerente. O mais importante de toda aquela experiência para mim, no entanto, foi a extrema curiosidade que me fez procurar o autor daquele poema que, de fato, verdadeiramente me impressionou. Ao término do recital, todos os autores retornaram ao palco para serem identificados junto a suas obras e essa identificação permitiu-me tomar a iniciativa de estabelecer meu primeiro diálogo com Antônio Peixoto. Muitos mais decorreram desde então, mas muitos menos do que eu desejaria...



            Apesar de sua aparência sisuda e de minha dificuldade em me relacionar com desconhecidos, os meus primeiros diálogos com Antônio Peixoto, (Toni, como passaria a chamá-lo carinhosamente muito em breve), foram extremamente interessantes, servindo para gerar uma empatia que logo se tornaria muito forte entre nós. Falávamos de diversas coisas triviais relacionadas às nossas vidas pessoais, interesse pela literatura e até mesmo sobre o campo emocional. Na época eu me encontrava meio confuso, (pra variar), e cativava uma espécie de amor platônico por uma grande amiga
de uma comunidade católica que ambos freqüentávamos. Já Toni, acreditava ter deixado para trás o grande e único amor de sua vida em Penápolis-SP, cidade onde nascera, já passados na época cerca de doze anos.
            Toni era bem mais velho do que aparentava; já beirava a casa dos vinte e nove, embora aparentasse ser um pouco mais velho do que eu, com meus tenros dezoito anos. Deixara a casa em que morava com o pai, (a mãe era falecida), em Penápolis em 1982, então com dezessete anos e fora para o Rio de Janeiro trabalhar na marcenaria do único tio com o qual mantinha contato. Durante as férias, visitava regularmente o pai e aproveitava para rever a namorada, (uma bela jovem de aparência meio indígena, meio oriental, chamada Marina). Toni carregava sempre consigo várias fotos dela. Disse-me que sempre que a via tinha vontade de retratá-la. Assim, se o namoro acabasse, ao menos aqueles momentos não lhe seriam tirados se não os confiasse apenas a sua memória. “E foi um pensamento profético”, ele concluiu com um triste sorriso.
            Em 1985, quando completou vinte anos, recebeu no Rio a trágica notícia de que seu pai havia falecido. A casa deles se incendiara durante a noite, devido a um vazamento de gás e fora tudo consumido pelas chamas. Seu pai não resistiu às gravíssimas queimaduras e faleceu horas depois, no hospital. Toni, (aliás, deste apelido, cultivado segundo o próprio apenas por seu pai, sua noiva e enfim por mim, apropriei-me para homenageá-lo atribuindo-o também ao maior personagem de minha obra até aqui; o humano Antony Loan, nome central de “O ESCOLHIDO”, o qual nesta época não passava de um lampejo de uma idéia), voltou a Penápolis para tratar do enterro e tentar recuperar alguma coisa, mas praticamente nada restara. Inclusive grande parte de seus escritos constituídos de inúmeras brochuras com poemas inéditos, além de um romance considerado por ele como a obra de sua vida. Chamava-se Promessa de Sangue” e tratava de uma interessante história sobre duas irmãs extremamente unidas que se apaixonavam perdidamente pelo mesmo homem, decidindo-se por fim matá-lo para preservar o elo de amor que sempre as mantivera unidas. O rapaz, porém sobrevive milagrosamente e retorna tempos depois para se vingar das duas, fazendo de tudo para destruir o que elas tanto prezavam: a força aparentemente inabalável do laço consangüíneo que as unia, até que só restasse ódio mortal de uma pela outra.
            Ainda que aparentemente não fuja muito dos clichês que impulsionam o Best Sellers, a trama me pareceu quando ele me contou, e ainda me parece bastante intensa e que conduzida por mãos hábeis pode certamente proporcionar grandes momentos de emoções intensas e suspense. E eu particularmente tenho deveras motivos para defender com veemência o talento e a habilidade literária do escritor Antonio Peixoto, posto que, embora sob forma de poemas, a parte de seus escritos que conheci verdadeiramente me deixaram deslumbrado. Seria realmente um prazer imenso para eu conhecer a obra, mas infelizmente isso é impossível, já que o livro foi destruído e o próprio autor, única pessoa capaz de reescrevê-lo...




                Quando o procurei para parabenizá-lo pelo poema e também me apresentando como 3º classificado, achei que provocaria nele algum tipo de lisonja, no que me enganei, (ou pelo menos ele nada deixou transparecer). Parabenizou-me, claro, também pelo poema, confessando-me com um sorriso vago que fora um dos que votaram nele, mas fora isso, agiu absolutamente como se nada daquilo tivesse qualquer importância. A princípio achei que fosse por um pouco de ‘dor-de-cotovelo’, mas a idéia tornou-se estúpida à medida que melhor o conheci. Toni jamais reconhecia a importância do mérito de um autor. Reconhecia sim o mérito, mas principalmente a obra. Para ele, a arte como literatura, (e por que não a arte em geral?), era absolutamente independente dos seus criadores, os artistas. Quase que novos seres, dotados inclusive de livre-arbítrio. Boas ou ruins, mas supremas em si mesmas, cabendo pouca ou nenhuma participação a quem as criasse e por mais que eu discorde que tal conceito possa ser imutavelmente fiel, foi a primeira e talvez maior lição de humildade e ao mesmo tempo confiança em si mesmo que aprendi com este fantástico poeta. E talvez ele tenha realmente a razão plena; como provar que não? Se Mozart, Beethoven, Sheakespere, Camões, Picasso, Einstein e tantos outros gênios da humanidade não tivessem suas idéias, quem garante que alguém, algum dia, em alguma época não as teria? Estaria uma parte tão maravilhosa do ser humano perdida para sempre mesmo antes de o ser?

            Para ele, Toni, foi mais interessante e divertido conhecer o motivo pelo qual recusei a premiação de ter meu poema publicado na tal antologia. Ali sim pareceu lisonjeado por me conhecer. Parabenizei-o também por ter citado “Versos Íntimos” no dia da inscrição junto à roda de jovens, atestando também meu apreço pelo poema. Ele me disse que sempre se sentia pouco a vontade, até incomodado quando precisava exteriorizar os seus escritos e que o poema de Augusto dos Anjos retratava bem esse sentimento.
            Mas o melhor acontecimento daquele dia foi quando me ocorreu perguntar-lhe se tinha para mim uma cópia sobressalente de seu poema. Ele me olhou cautelosamente por um instante, como se me analisasse, depois parou abrindo a mochila que carregava, tirando de dentro um daqueles envelopes de tamanho grande e estendendo-o para mim. Apanhei-o um pouco confuso, contemplando-o. Na fronte estava escrito o seu nome datilografado em letras maiúsculas:
ARIOVALDO ANTÔNIO PEIXOTO

            - Eis tudo o que me sobrou de minha antiga vida e literatura.

            Não consegui questionar mais nada. Apenas fitava o envelope, envolvido por uma curiosidade gigante. Na hora eu não pude entender que ele acabara de depositar em minhas mãos, (as mãos de um desconhecido), a única parte da arte da sua vida que não havia sido destruída pelo fogo.

            - Na última página consta meu endereço; - por fim ele concluiu – após terminar de ler me procure para contar o que achou.
            Assenti com a cabeça, um pouco atordoado. Perguntei se queria também uma cópia do meu poema e ele replicou sorrindo que conhecer apenas uma também não lhe seria o bastante.
            Sabia de nossa afinidade desde aquele primeiro momento e que nossos laços certamente se estreitariam gerando a oportunidade de partilharmos muito do nosso potencial artístico. Só não poderia prever, (assim como eu não pude), que tudo seria brusca e estupidamente interrompido tão cedo...


            O envelope continha exatos 33 poemas, inclusive “Quiçá, tira”, inscrito no recital. Li e senti intensamente cada um deles na mesma noite. Apesar de ele ter comentado sobre sua dificuldade de exteriorizar seus poemas, descobri que a exteriorização e a poesia de Toni sempre estiveram irremediavelmente ligadas. Contou-me depois que não se tratava definitivamente de um livro, mas de um conjunto de poemas dispersos. Ainda assim, o título sugerido por ele mesmo em 1ª instância – “A CAMINHO DO INFINITO” – revelou-se uma fantástica ainda que trágica premonição...






ARIOVALDO ANTÔNIO PEIXOTO











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A CAMINHO DO INFINITO
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A caminho do infinito


O Inacreditável flutua e encontra a Justiça
A Justiça o autua e o incorpora
A Independência adoece e as pressas se interna
No hospital do Poder com Influência se trata

A Verdade olha firme o céu da Ilusão
E o sol da Mentira destrói-lhe as retinas
Troca seus olhos por bolas de cristal
Sensíveis demais para olharem mais duro

O Amor se promove, vangloria, entorpece
Errado no Expresso Soberba ao passado
A terrível Maldade escapa pela janela
Da máxima segura prisão do Bom Senso

Tropeça a Alegria na beira do penhasco
Eterno, Sem fundo, chamado Egoísmo
As portas da mansão da senhora Liberdade
De fome e frio agoniza a Esperança.




























Penápolis


Que é cantar meus ares
não posto quanto os vivencio
Aqui, Dr. Sampaio Filho
é carne, é chão, é paz.

Ao fundo; verdes campos, pastagens
e aquém, as árvores não são árvores; são raízes
Este chafariz, tão companheiro
este céu tão mais azul.

Não canto a ti por cantar as coisas
e canto as coisas por não cantar coisas mais
Verde os olhos e verde a água do lago azul
Vago espalhar dos sentidos...

Agora, monstros gigantes passeiam sobre ti
Vão de meus dedos à tua base
Lamento, mas só te sinto
porque existo.

Não creias que nasci em ti
Só se nasce em si
Sei descrever o teu centro
Falta-me descobrir o meu.























Não é você o autor, mas poderia ser


O Verbo foi o início
no fim, o homicídio
no meio, o improviso...

No meio do improviso
repleto de homicídio
o verbo ficou vivo...

O vivo ficou liso
rei do improviso
e o verbo, agressivo...

No meio do início
Agressivo vivo
livre-arbítrio.

































O mundo que merece


De dentro da goiaba eu vejo o rubro,
quase meio que rosado
lubrificando meu corpo, gostoso;
meu alimento da vida inteira.

De dentro da goiaba eu vejo o branco,
quase meio que esverdeado,
mas só que numa distância intransponível
de um reles em si suficiente.

De dentro da goiaba eu vejo o mundo
que aquém se possa imaginar.


































“Quiçá, tira!


“Que mera é nossa utopia,
plácido sonho entalhado
à vontade, com cuidado
quase todo fantasia!

Que mera – (nossa, demo!) – cracia
lícita, mente deturpada
pressente na hora errada
ausente do dia a dia!

Que mera nossas energias
tal completa Eva são
restando só uma alusão
d’uma suposta alegria!

Que mera é a poesia
inserida em tais limites
limites em que a dirimiste
curto que a meraria!”



           

















Eu, pra mim...


Eu, pra mim
sou como você
assisto TV
e tenho um jardim
sou pouco confuso
e pouco feliz
tenho um só nariz
meu estado é difuso
tenho várias visões
em poucos olhares
em todos lugares
mesmas sensações
fui criança manhosa
moleque brigão
primeira paixão
menina formosa
fugia da escola
sem entrar pelo cano
passava de ano
na base da cola
mas sou dedicado
diria até sensível
pouco acessível
mas esforçado
sou tolo romântico
inexperiente
assim minha mente
é como o meu cântico
sou muito convicto
pela não dispersão
a fé no coração
oponente invicto
meu ar é escuro
minha estrela, a razão
meus preceitos estão
em cima do muro
minha boca é dotada
de trinta e um dentes
minha língua pendente
permanece parada
tenho fome de brisa
sou alérgico a vento
estou sempre atento
ao que diz a camisa
não tenho preconceitos
pouca indecisão
carne, arroz e feijão
é-me prato perfeito
nem ausências ou saudade
em mim vivem em alta
mas, lá embaixo, uma falta
incomodando a verdade
não valorizo os valores
por si, mas por pessoas
por bens, mas por coisas boas
unções, mas grandes amores
sou apenas a ave
de mais pequena asa
queres mais que eu destrave
me leve para casa...





































Labirinto


O que é um limite?
Pergunta: o que é um limite
além do não se poder ir além da primeira pegada de Deus?

O que é um limite? O que é?
Que toma por lentos os pensamentos
E por reles a própria mente
A mente que condiciona e delimita
os limites...

Todo LABIRINTO tem um propósito e
é este o último limite.



































Triste, (destarte) existe


Bem acolhes a verdade tua, Marina
Que se ocupa de te opor aos sonhos nossos, (se não meus)
A minha verdade dói
Conquiste ou não conquiste
Parto triste.

Verdade, Marina, que se não me segues
E seguras a pulso forte minha felicidade
Limitas a toda uma vida completamente
Iludida, ainda que jamais a iludiste
Parto triste.

Perdoa assim meu tênue ímpeto
Questionando puramente o teu afã
Tua vida, teu alcouce
Perdão Marina, último chiste
Parto triste.

Mas chego deveras adverso
Arrufo só na partida
Ficaste ao longe, Marina
Quem te sucede existe?
Parti triste,
depois...























Bem-vindo


Bem-vindo ao templo onde a beleza agride
Onde os olhares iludem, onde se oculta sempre a poesia
(que talvez exista)

Bem-vindo ao mundo (quase) sem poesia
Apesar da beleza
Bem-vindo ao mar que jaz inerte, ou apático aborrece
Vivo com desprezo

Bem-vindo às porções de curiosidades instantâneas
Ou ao simples e inexorável orgulho
Bem-vindo a ti mesmo e ao reflexo das tuas piores características
Na terra, no mar e no ar
Bem-vindo a tua rotina que te persegue
E a toda paz que não terás aqui...

Vais já embora sem despedida?
Que fraqueza, covardia, desapontamento!
Pois vá.
Adeus!



























Rapto místico


O peso da Terra arrufa o Espaço
Que cava um buraco, trincheira de guerra
D’onde enorme sai besta esfomeada
Enquanto a mulher cansada esbraveja seus ais

Os ais são tantos que de tão enfadonhos
Arrebatam do sono o monstro aos prantos
O Espaço, cansado, aceita a oferenda
Desiste da lenda e abraça o seu fardo

Não são traidores os anos que passam
Triunfam, fracassam não como desertores
Ainda que incomode leis e sabedorias

Findam as profecias. Sublime não pode
O corpo nascer com senso divino
Maior desatino do que o caos prever






























Ensejo


Como quis a lua não romper a verdade!
Polidez sonhada pobre ressentida!
Querer ser quem não é, defeito presente,
Como cronometrar a velocidade do tempo.
O se esconder da grandeza, gracejos excêntricos
Exultando a tolice, exultando labuta
Rebeldias vãs e úteis da existência.
Como quis o desejo satisfação proibida!

Melhor somente que o “melhor do que nada”
Como não quis o nada fantasias induzidas.




































Durma!


Às 6:15 da manhã, quando o céu estava vermelho
e boa parte do mundo de descanso excedido jazia
algures, reparava alguém que o mundo despertara havia muito, belo
e que tudo era mais belo porque não se via

Ou se se via, sem apelo, de forma transpassante
Um olhar de juventude; infundada sapiência
com suas metas inventadas, perseguir-se incessante
chacoalhadas a cada hora por intrigas da Ciência

Mas o alguém de algures não persegue o compromisso
Embora o tenha visto, consente-lhe ir embora
Outros dias, é possível, se não esteja de serviço
E se de fato os outros dias não findarem sua aurora

































Lôla


Lôla é bonita Lôla
Virtudes e defeitos divergindo do que se poderia descrever
Mas Lôla assim é Lôla
Tão bem se descreve de ausentes palavras
Seja a deusa dos símbolos, filha do        |
                                                         S -- O--L
                                                                |

Faz-me c                                r
              a                             i
                i                          b
                 i                       u
                  r  e tornar a s


Seeia da lia; chegada num pagode

Por que se tem de COORREERR )))  e GRITAAAR )))) atrás de Lôla?

 Lôla esta é Lôla de um castelo de sonhos
Que se execra e ama com certeza e simplicidade
E não se adianta venerar ou mandar se foder Lôla
Que sempre importa; importância de Lôla
No piso sublime, Lôla arrepia no pagode
Lar do amor, ei-lo lá




















Postura


Ao estado semi-vegetativo reduzido
Pelo caos hermético e profundo seduzido
Colônia que não treme ao pesticida
Pouco sabe por que zela pela vida

Ao inútil dependente desolado
Pela auto-piedade invalidado
Ao perdedor que a própria falha não alcança
E quer mutar teimosia em esperança

A tudo o que é pequeno e infeliz
Ao fútil muito do que se diz, raiz
A festa de não perder o objetivo
Substantivo que só convida adjetivo

































Comparativo


Em que o tempo amplia, a medida
os tenros horizontes da vida
e a ternura se dissipa
como um riso ímpar
estendem-se as coisas tal qual ruas
incertos passos sustentando

A velocidade é ânsia por liberdade
assim como o desejo é para o orgasmo
assim como o medo está para o serviço
Vive sempre omitido o espelho da morte
latente, mas cediço

Assim que percebe o sonho
o ápice ofuscante da verdade
esvazia-se a vitalidade, tal qual saudade
ilusões invisíveis são desvendadas
e a paz de espírito é entendida

Assim, esta é a vida; céu azul, mar verde
como também podem ser olhos lindos de mulher
dinheiro
toxinas...
























Pilares


Buscar a autenticidade sem promessa
Claro entendimento brilhante e forte
Eis que o velho homem, enfim se apressa
Cresce como injusta a hora-morte

Não suporta a honra o infindável?
Desflora o parvo o seu jardim
Mostra a duras penas, implacável
Não há como ser velho sem ter fim

Abandona o homem velho sua vontade
Acolhendo, na verdade, a do sandeu
Espelho imperfeito satisfeito?

Regra não servente ao bravo peito
Ainda que despedido o mito padeceu
Segue o ousar-maior, eterna verdade






























Leilão de sentidos


Triste quando vem o fim do dia
mais triste pra mim seria do dia o fim
se assim fosse o dia findo pra mim
pro dia fosse eu findo, pior seria

Pouca se serve a inspiração da alegria
A energia da altivez lhe é proibida
Não transforma o ser humano em arte-vida
Facilmente como a chuva e a melancolia

É certo o mapa, mas a arca está vazia
sobra lamentar a pouca chance
Com tantos aventureiros, por que não estaria?

Triste é conviver com a apatia
do amor que pouco aquece morno romance
que qualquer dia que renasce inflamaria






























Precipitação molecular


PRA FALAR DE SENTIMENTO, POESIA
PRA FALAR DE POESIA, SENTIMENTO

Assim são todos
e tudo é desperdício...

PRA FALAR DE POESIA, POESIAS
PRA FALAR DE SENTIMENTOS, SENTIMENTO







































Elitismo


Do Brasil mal fito destino terrível
aqui de Penápolis, seu mero incisivo
ou menos ainda, pêlo não vivo
ligado do extremo ao centro sensível

Não seja tão sério coração ferido
Irreversível dano no tecido cerebral
Metrópole em ruínas do ar mais poluído
Morrer principiando pela capital

E que ilusão tão doce a de viver mais alguns dias
Ah, quem dera fosse o todo dispersante
cintilassem tantas repúblicas como estrelas novas

Não dêem o próprio sangue pelas melhorias
os fãs da autonomia em si só confiantes
conceder-lhes-á o todo a mesma cova






























Uma verdade


Fantásticos são os poemas quando sóbrio os escrevo
Qual o mal-nenhum me livra a consciência
Floreadas letras em alto-relevo
Tríplice de paz, elegância e imponência

Mas nada, nunca isto é conhecido
Traição roufenha e séria à natureza
A mim eterno ébrio dos bons sentidos
Ou a outro qualquer cego da beleza

Assim, a poesia que devora
Todos os limites oferecidos
Também devora os invólucros limitados

E ficam os poetas fatigados
Tateando no escuro merecido
Por raízes que aprenderam a ir embora






























Gênese


Penetra no corpo a poeira cósmica
princípio leviano do equilíbrio natural de todas as coisas
donde são vertentes o átomo, as células, a vida
e que supre o posto da vã esperança











































Tudo


Comer pão com groselha e então jogar damas
Ler Alan Poe, ouvir Pavarotti e depois, cama
Aceitar novidades, não ousar coisa nova
Transar, roubar, enfim, cova.











































Vencendo o atraso invencível, alcançando o objetivo impossível e descobrindo que era                                                                                                                                             
                                                                                                                               sonho...



Vencendo o atraso invencível
Alcançando o objetivo impossível
E descobrindo que era sonho...

E por mais que de mim caçoe o espírito da poesia
É como um dever exteriorizar isso.

Se para tornar-nos ridículos, por que é amor?
Se para não compreender magnífica condição de dádiva, por que o ofertar a outrem?
Se tão mesmo maior do que nós, por que nos entope e sufoca?
Já não bastaria a chacota que somos por nasceremos sendo?!

Vencendo o atraso invencível
Alcançando o objetivo impossível
E descobrindo que era sonho...

Poderia dizer: “não é meu”;
Um poema não-meu
E rasgá-lo, e queimá-lo com a chama viva da raiva
Alegrando assim muitos deles
Fazendo-os verdadeiros merecedores da pena da justiça

Inventaria as fórmulas e as soluções às fórmulas?
Claro que não!
Teria sim minha personalidade repelida pelo espírito
Que já tem personalidade
Melancolicamente acreditaria compreender sua melancolia
Virando a página e a outra face, o poema é meu
Pô! É meu! De quem mais seria?
Vejo-me como em todos os outros me vi
Apenas, por amor, parei de fitar-me
Podendo crer que me engrandecia
Percorrendo longa estrada apenas com a visão.

Vencendo o atraso invencível
Alcançando o objetivo impossível
E descobrindo que era sonho...

Mais do que nunca me atrasei, mas o que buscava, você, permanecia
Venci, pois o teu amor compreendia perfeitamente o perdão
E esse amor recíproco e belo em todos os sentidos alcancei e palpei como objeto
Mas o espírito-sol da poesia amanheceu
E despertei com qualquer ruído.


Levante


Se toda a tristeza que existe
fosse realmente tristeza
e todos os ociosos e maldizentes
fossem realmente tristes
os homens, (e não os santos), seriam mártires
e a divina justiça seria ingrata

Se todo levantamento hipotético fosse heresia
No mínimo, poemas não existiriam
Então, toda tristeza que existe é uma flor
que, putrefata, exala o odor da tristeza
e todo levantamento hipotético possui,
no mínimo, poesia


































Demais nunca


A fé centralizada geme
como se fora pela morte assombrada
A mão subitamente armada treme
como se morta ou viva findasse errada

Dados somos tais ao exagero
que os duros golpes da História não nos ensinam
embora nos encantem os golpes que exterminam
o mais duro golpe é o dado primeiro






































Autópsia das palavras


A violação premeditada é um absurdo
um absurdo impensável que pode ser consentido
A censura de uma idéia, a subtração de um desejo são sentenças
onde quase não há, (mas há), a justiça
Um pecado mortal é o descontrole
outro é a escravização dos impulsos
Vai bem como improviso a fertilidade do ânimo
No jardim do mundo tudo se planta







































Um dia ríspido


A deusa morta da beleza jaz sobre uma mesa
e seus fiéis adoradores são só dissabores
Linda que luzia! A morte repelia
Como se foi então, virar ilusão?

A deusa da vida padeceu; o horror venceu
Num jogo de armadilhas teve muitas filhas
Bruxas de agosto lutam pelo posto
Ninguém acreditou quando Deus errou






































O brilho de um segundo para nunca mais ser visto


Quando o alienígena em meu cérebro explodiu
e minhas próprias impressões inundaram minha mente como sangue sobre o tapete
mesmo se dando isso em minha tenra infância
vi que nada mais me pertencia

Assim é compreender o mundo como Universo
A vida como alienígena seja a vida em si
projetando sombras incompreensíveis
à razão do cosmo






































Sem ter, sem tido


As mãos se enchem de amor
e se abrem num coração
Transporta-se o coração
Para a palma das mãos...

(Lá vai ele novamente buscando as rédeas da representação)

Percebe-se que é mais simples o ato,
não o sentido
porquanto se ama
Lógico. Inquestionável. Ilimitado.
Ama-se.
Porque se foda o porquê!
Vão à merda as explicações!
Ama-se porque se ama e só.

E nessa linha vai-se tudo
Pobre condição humana que solicita respostas (grandes respostas)
e nasce o ato de ser pedante.

Que importa se importa ou não importa?
Quê?
Sentir é ousar-usar sentir
Sentir não é pensar-sentir
E viver é existir.
















Uma gota


Contra a catástrofe os heróis se unem
recebem confiança; esperança é alimento
Padecendo, o mundo silencia
até as crianças enviarem os seus sonhos

Não poderíamos ser todos crianças,
inventando os heróis de um mundo simples?








































Digníssima


A estrela caía e o menino sorria
Aquele despencar impulsionava o sonhar
Ainda que comedido, fez o pedido,
que baixasse do céu e fosse amiga fiel

Aconteceu. A estrela desceu
De brilho vertente, fez-se presente
Em um segundo queimou o mundo
No que restou, o amigo poupou

“Esfera de luz, pelo que me seduz?
Meu sonho, mentira! Tudo me tira!
Poupada vida para arder em ferida
A culpa me aleija. Maldita seja!

Precisava matar e os meus torturar?
Não soube surgir sem a tudo destruir?

“Maldição mandaste? Mas não me chamaste?
Se puro poder, como aparecer?
Disfarçar-me poderia, mas não a mim querias?
Imortal nasci, pois nunca vivi
Da eterna solidão houve enfim vazão
Quando uma criança encheu-me de esperança
E com sinceridade prometeu amizade

Desapontada a vejo, não por desejo
Lição importante: SER É O BASTANTE



















“Signos”


1ª parte: Diamante

Há um sentimento que é como um farol
do automóvel que flerta como homem
que, apesar de não temer, nem se importar,
mantém-se sempre supremo em sua elegância

Outro sentimento é como o pêndulo
que luta contra a vontade da inércia
Algo quase utópico
como viver de êxtase

Sentimentos, abstrações, nada resta
Só o ensejo iludido dos homens.
Sentidos.



Parte dois: Rubi

Há um sentimento que é como um breu
tão abrangente e indescritível que deveras assusta
mas tão importante e necessário quanto o seu oposto
Assim como do breu, a luz

Outro sentimento é como uma chaga
que dilacera impiedosamente, tortura sem medida
que leva a implorar pelo alívio da morte
e olhar com desdém os princípios divinos

Fantasias são feitas apenas para especiais ocasiões
Não usufrui de sua majestade diariamente o rei Momo
Talvez, lhe sobrem somente as gozações
como os imortais da Academia, da mesma forma,
pertencem à morte...




Parte final: Esmeralda


Há um sentimento que é como uma flor numa paisagem sob um por de sol
(D)a beleza mais rara e inatingível
que mesmo frágil às intervenções externas
a mente lhe captura para o coração e nada mais lhe rouba

E há um sentimento que hora é como um vento,
outra um vulcão, outra um esplendor
Se brisa, é para a terra seca, se fogo, para os que têm frio
É visto como um tesouro maior do que o ouro do mundo

Pois bem, todos estes sentimentos são invenções
Simbologias brutais dos sentidos
Ou não criei todas estas metáforas
e você facilmente visualizou e assentiu?





































CAPÍTULO DEZ (IMPRESSÕES)


            Muita gente vai concluir que se Antônio Peixoto não estivesse morto, talvez eu não fosse, (ou não demonstrasse ser), tão apreciador de sua obra quanto o faço agora. E é uma idéia contra a qual inúteis seriam os meus argumentos. Tudo se fez e faz-se claro ao menos para mim e eu aceito porque é simplesmente a minha realidade. A partir do instante em que li “A Caminho do Infinito”, cujo poema homônimo encabeçava a obra, reconheci uma nova visão única e extremamente importante da literatura como expressão de arte, caracterizando, (na minha concepção), o talento nato do grande escritor que foi Antônio Peixoto.
            Falando das minhas impressões, elas foram, (quando da primeira vez que li), e ainda são as mais vastas possíveis. O impacto inicial do poema “A Caminho do Infinito”, que, assim como outros, (“Labirinto”, “Ensejo”, “Postura”, “Precipitação Molecular”, etc.), são dotados essencialmente de uma poderosa personalidade, (muito maior até do que a que o próprio autor se valia habitualmente), prometia um livro duro, determinante, foi apaziguado logo em seguida pelo bucolismo quase pueril de “Penápolis”, (aliás, essa extrema ligação com o berço em que nasceu era um dos maiores pontos em comum entre mim e Toni). Então, de forma compacta e propositadamente dispersiva, ele começa a despejar sua sátira inconfundível, (marca constante da obra), com a já irônica a partir do título “Não é você o autor, mas poderia ser”. De forma simples, hábil e negramente humorada, o poema, (de fundamento cristão), resume com perfeição a origem da vida e seu decorrente declínio. A sátira voltaria já não tão irônica, mas nem por isso menos ácida em “O mundo que merece”, (a perspectiva dos mundos possíveis às vistas conformadas de um verme), e na subseqüente “Quiçá, tira”, injustiçada, (em minha opinião), no recital, mas figurando ainda num terceiro ou quarto patamar, com relação ao potencial de qualidade de seu autor como poeta. Ainda assim, como o próprio título capciosamente sugere, talvez tenha nascido o poema apenas para cumprir uma função das mais comuns e não é qualquer um que alcança tal objetivo com tamanha maestria...
            Em “Eu, pra mim...”, um dos únicos poemas em que o autor aparentemente se entrega a divagação, ele dá mais um golpe em nossas impressões e acaba nos obrigando a analisarmos a nós mesmos, demonstrando que nossa importância múltipla é nossa única característica pertinente à arte, (tese abertamente defendida em sua obra).
            O único poema que ele dificilmente conservaria integrando o livro, caso houvesse tido tempo, creio, pelo pouco ainda que o conheci, seria “Triste, (destarte existe)”; um parêntese aberto no universo de sua poesia, para de certa forma homenagear explicitamente o grande amor de sua vida, ainda que não superestime a pessoa que o canaliza.
            Depois, trabalhando belissimamente com a sonoridade, “Rapto místico” figura entre as minhas preferidas. Há uma interessante permutação de rimas entre os versos que emprestam a sua criação simples uma grandiosidade quase épica. Na mesma linha seguem “Demais nunca”, “Um dia ríspido” e “Digníssima”. Como bom apreciador da poesia de Augusto dos Anjos, a simpatia pelos sonetos é um fator óbvio: (“A busca dos sentidos inefáveis”, “Rapto místico”, “Pilares”, “Leilão de sentidos”, “Elitismo”, “Uma verdade”). Junto a tudo isso o simbolismo simples que se torna surpreendente de “Lôla, um estereótipo cativante, a prolixidade de “Vencendo o atraso invencível...” e a beleza da construção de “Sem ter, sem tido”, (minha predileta, aliás), poema absolutamente dramático, perfeito para ser interpretado. Um dos mais imparciais discursos sobre o amor como sentimento que já li, a começar pelo sentido duplo do título que já o classifica como atemporal e independente.
            Também em formato discursivo, “Digníssima” é uma interessante narrativa, quase uma fábula que passeia com maestria pela sonoridade em seus versos e passa sua mensagem clara e pertinente. A obra se despede com “Signos”, cuja personalidade talvez seja a que mais se assemelha a do autor.





            Quando aceitei o envelope com os poemas daquele desconhecido, não tinha, de forma alguma, a certeza de que realmente tornaria a vê-lo. No entanto, ao concluir logo da primeira vez a leitura, (e foram tantas que eu seria incapaz de enumerá-las com exatidão), senti que a necessidade de falar novamente com ele me impeliria a encontrá-lo mesmo que aquele endereço fosse uma singela pista falsa. Queria, no mínimo, que ele soubesse que eu me sentia verdadeiramente agradecido por ter sido merecedor de tamanha confiança de seu gesto, o que possivelmente ele já sabia, mas principalmente pelo crescimento interior que seus poemas provocaram em mim. Porque eles eram bons e ele obviamente o sabia, já que os havia criado. E agora, também eu sabia, pois os havia lido e sentido, graças à essência sensível do autor, que me havia considerado merecedor, não pela minha aparência, ou palavrório pseudo-intelectual, mas pelas impressões extraídas de mim pela minha própria obra, lida naquele concurso. Sim, porque como constatamos num futuro breve, ambos fomos importantes um para o outro para compreender melhor a importância de nossa própria obra.



         O endereço levou-me a um pequeno sobrado, na esquina de uma Rua de Santos que prefiro preservar o nome. Sob o sobrado havia uma porta comercial que estava fechada, tendo em vista que ser um dia de domingo. Bem ao lado ficava a porta de entrada da casa de cima e diante dela, um sujeito claramente bêbado e maltrapilho jazia sobre a passagem, o que parecia querer-me desestimular daquela visita. Após ter sido o meu pedido de licença ignorado pelo referido bêbado, esforcei-me para bater, por sobre ele, na superfície da porta. Um pouco depois da minha terceira ou quarta tentativa, Antônio Peixoto apareceu, saudando primeiramente o bêbado, como se fosse pertinente parte do cenário:

            _ Olá, Água-de-côco!

            O bêbado, que até então não tinha esboçado qualquer reação, ergueu, não sem algum sacrifício, a cabeça para fitar quem o saudava e, reconhecendo o dono da voz, disse, meio que praguejando da maneira peculiar dos bêbados:

            - Tem comida hoje aí, poeta?

            Da forma absolutamente natural, o “poeta” respondeu:

            - Não se preocupe que daqui a pouco eu te trago alguma coisa.

            Só após esse pequeno diálogo, o morador da casa se voltou para mim e me estendeu a mão com simpatia, mas sem qualquer surpresa por me ver.

            - Gostou dos poemas? – foram as primeiras palavras que me disse após o reencontro.

            -Amei-os, sinceramente – respondi.

            E ele me convidou para entrar.



                Sua casa mantinha uma organização moderada de quem, com alguma dificuldade, se virava bem sozinho. O som na sala tocava algo que eu não conhecia, (descobri pouco depois se tratar de Pink Floyd, uma de suas bandas prediletas, junto com Dire Straits, Midnight Oil e – pasmem – assim como eu, ele era fã de Madonna, algo absolutamente incomum aos jovens de minha época, que pelo menos dentro do machismo hipócrita do Brasil, tinham permissão para aceitá-la apenas como objeto de desejo sexual.
            Dezenas de long-plays descansavam em sua prateleira e um dos primeiros consentimentos que obtive, antes mesmo de começarmos qualquer conversa, foi para verificá-los. E logo partiriam daquela prateleira diretamente para me influencia e figurarem até hoje ainda como minhas principais referências musicais bandas como Beatles, New Order, The Doors e outras que embora não me encantem tanto, como Pink Floyd e Dire Straits, também conquistaram meu respeito e empatia. Por outro lado, além de ampliar em pelo menos 90% o conhecimento dele sobre a Madonna, contribui em seu “cardápio musical” com bandas como Led Zepellin, Hall & Oates, Legião Urbana, A-ha e outras explícitas preferências minhas. Não cabe aqui discutir o valor, (ou ausência de), de nossas preferências musicais. O que pretendo passar são as muitas formas de trocar de experiências que fundamentaram uma amizade tão breve, mas tão intensa. Antes que começássemos a conversa ele sugeriu que eu escolhesse algo que me agradasse ouvir. Na época eu já tinha ouvido falar de “The Doors”, mas nunca tinha escutado inteiramente nenhuma música da banda. Pareceu-me então uma boa oportunidade. O disco era uma coletânea que me maravilhou do começo ao fim.


            Quando eu lhe disse que ele havia confiado demasiadamente na sorte ao me entregar os seus poemas, ele apenas retrucou ironicamente que era sim demasiada a minha pretensão por me autodenominar de “sorte”, dando a entender que havia confiado pura e simplesmente em mim, alguém com quem seus instintos indicaram uma probabilidade grande de ele vir a desenvolver uma grande afinidade. E indubitavelmente foi o que aconteceu.
            A partir dali, começamos a nos encontrar frequentemente. Discutíamos sobre tudo, mas principalmente sobre as artes; nossas preferências, nossas influência, o que gostávamos e o que abominávamos. Geralmente conversávamos andando pelas ruas mesmo, dando longas voltas pelos pólos comerciais de Santos. Lembro-me de que fomos juntos ao cinema uma vez e assistimos, não por acaso, “Na cama com Madonna”, um ótimo documentário sobre a artista.
            Falamos várias vezes em escrever para a Sociedade dos Poetas de Santos, ou comparecermos despretensiosamente a uma das reuniões que a entidade promovia, mas achávamos que a hora ainda viria num futuro breve. Pois, para mim nunca veio e para Ariovaldo Antônio Peixoto, jamais virá.

            Não chegamos realmente a conversar muito sobre nossas vidas pessoais. Ele me falou de seu amor pela ex-noiva, deixada em Penápolis e pouca coisa sobre a sua família. Após a morte de seu pai, ele deixou o Rio e veio para Santos, exatamente para aquele sobrado que pertencia ao seu tio, com um pouco de dinheiro para tentar começar seu próprio negócio. Acabou preferindo deixar a marcenaria de lado e abrir uma serigrafia. E eu, pouco tive para contar-lhe já que minha vida nunca foi um mar de acontecimentos cativantes. No entanto, tornamo-nos amigos de toda uma vida. E isso superou até a maior das tragédias.



































Capítulo onze (A morte do poeta)


            Na temporada de carnaval, convidei Tony a ir comigo e minha família a São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, onde minha mãe possui uma casa. Tudo transcorreu perfeitamente bem; passeamos e nos divertimos indo às belas praias e, no caso dele, conhecendo a cidade em que praticamente me criei. À noite, saíamos para assistir os desfiles e eu até tentava animá-lo a aproveitar o clima de carnaval para tentar conhecer alguém, paquerar um pouco, mas a paixão pela ex-noiva o mantinha sempre envolto em seus bloqueios, o que dificultava qualquer tentativa mesmo de uma simples paquera. Quanto a mim, não se pode dizer que coube diferente sorte, só que a única eterna noiva que me atrapalhava e atrapalha até hoje se chama “timidez”.

            Foi o último tempo em que passamos juntos.
            Na noite em que voltamos, quando Toni chegou em sua casa, deparou-se com a porta aberta. “Água-de-côco”, o bêbado, estava na porta bem desperto, como que vigiando. Ao perceber que o dono da casa retornara, mentiu para evitar que ele fosse chamar a polícia e ao mesmo tempo, atraiu-o para uma armadilha.

                        - Poeta! Eu cheguei e vi a porta arrombada, então entrei para pegar o ladrão no flagra, mas o pilantra já tinha se mandado.

            Apesar de estranhar, não a presença, mas a absoluta ausência de embriaguez dele, Toni confiou no homem que ele sempre tivera prazer em ajudar com alimentos, remédios e às vezes até dinheiro.
            Ao entrar na casa, esperando encontrar apenas seus objetos e pertences revirados, deparou-se com dois assaltantes que o alvejaram com dois tiros no peito.
            Horas depois, “Água-de-côco” era preso e confessava tudo, entregando também os nomes dos assaltantes, visando amortizar a sua própria pena.

            No dia seguinte, fiquei sabendo da tragédia pelos freqüentadores do bar vizinho à casa em que Toni morava. Com alguma dificuldade, a polícia localizou o dono da casa, tio de Toni, que custeou o transporte do corpo para Penápolis, para ser enterrado em sua terra natal.


            Dias depois, “Água-de-côco” também foi morto em sua própria cela, durante uma rebelião, pelos bandidos que ele havia delatado e que depois fugiram.


            Numa breve conversa que tive com o tio de Toni, pedi para que ele tentasse localizar a garota chamada Marina Prado de Oliveira, em Penápolis e lhe contasse sobre a morte de Toni, pois os dois haviam vivido um grande amor. Contei-lhe também que seu sobrinho fora um grande poeta, mas ele não pareceu se impressionar muito com isso. Dias depois ele me ligou com duas notícias: a primeira era sobre a garota; ele a localizara sim, mas ela estava noiva, às portas de um casamento com um jovem médico lá mesmo em Penápolis e isso o fez rapidamente desistir da idéia de procurá-la para lhe contar qualquer coisa.
            A segunda notícia, esta uma surpresa muito mais agradável, foi que ele havia encontrado no meio das coisas de Toni alguns manuscritos e como não lhe restava mais nenhum parente vivo além do próprio tio e sua família, ele decidiu que, em nome da amizade que eu e seu sobrinho havíamos partilhado, se caso me interessasse, poderia eu ficar com tudo.
            Foi um presente tremendo para mim. Ele me trouxe em seu carro alguns poucos blocos de folhas soltas, mais o original de “A CAMINHO DO INFINITO”.

            Era a última expressão de uma alma sensível e extremamente talentosa.
            O melhor que pude guardar de um grande amigo...












































“Atesto hoje, seis de outubro de 1994, a morte em mim de Ariovaldo Antônio Peixoto, o poeta que nunca fui, mas que vivenciei como a mim mesmo”
FSS 

            















Capítulo doze (Retorno à minha carapaça de jabuti rufião)


            Isso quer dizer que serão novamente invocados os conflitos que haviam aparentemente cessado no livro?
            Na breve biografia de Peixoto, lícito não seria o falar de si, já que a “obra-sobre-o-autor” fora de alto valor apregoado a ele. Mas ele ensinou e partiu, como fragmento da vida que despeja partes do todo por todos os lados para que peguemos como se fôssemos malabaristas. Assim, o homem de vinte e nove anos, setenta quilos, cerca de um metro e setenta e cinco centímetros, cabelos negros, olhos castanhos claros e pele branca reintegrou-se ao cosmo tornando-se só essência para ajudar os que o procurarem em sua obra.

Adeus amigo.
Prossigo...








Ariovaldo Antônio Peixoto
☼27-10-65
06-03-94























Capítulo treze (E o monstro?)

            Permanece vivo?
            Claro que sim! Assim como Antônio Peixoto foi, ele é, mas sempre será parte de mim. Que se pode multipartir entre mim e qualquer outro “eu-poeta”, ou que pode até mesmo ser um próprio. Rotulado, mas ainda assim, perigoso.






Capítulo quatorze (Dimensões)

            Limite?
            Poucos. Talvez o próprio ímpeto da razão.
            Caráter intempestivo; formas inenarráveis.
            Condição: quase sempre espiritual, o que não impede de despontar fisicamente por emersão; sobrepor-se a qualquer sentimento humano e espalhar-se; capaz de fazer um bem em nome de outra coisa. Acelera os pensamentos e cansa-se e jaz até o próximo instante. Índole não racional; apenas condição mórbida humana. Não raivoso assassino instinto; apenas desafiador dos limites de uma própria selva.
            Não interessa nome, aparência, condição. No que vos habita, é vosso ser.
            De nada vale sorte, satisfação, felicidade; na forma tenra e perecível sobrais taciturno e lasso e trazeis vosso único consenso...
            MONSTRO, POBRE MONSTRO
            De ti pendem as minhas mortalhas
MONSTRO, CELERADO
Por que não te revelas num ardor-sorriso? Não crês que em tua pouca coragem enfraqueces?
APUPOS PARA O MONSTRO! APUPOS!
Ecoantes como uivos em tua noite interna.
(Conjuradas as vozes de um só ego por uma estranha poesia do mar)
O mar. Eis o afluente do meu espírito, símbolo que somos, pois, consangüíneos. O mar que me carregou e me devolveu inúmeras vezes. O mar que jaz por mim contra a própria morte. Que me guarda e lacrimeja meus desafios.
O mar que instintivamente me ama. Sim; o mar me ama.
O mar que se prostra em nome do meu-nosso Deus.
Não importa se vêem agora Sousa ou Peixoto. Ou Joaquim, ou José, ou Manoel, ou Beltrano.
Importa o mar.
O mar como a face de meu monstro.
A ilógica úmida de minh’alma.
Plano.
Provador.
E tentador.

Ei-lo; o mar
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         Talvez eu seja isso...
         Várias páginas de mar orgânico...
...e romance...
























Capítulo quinze (Depressão)

O que teria dito na inspiração que não tive, há quinze minutos? E o que quereria deveras dizer? Eu que, como sempre, falo demais. Não eu, mas meus limites. E eu também. Basta de subterfúgios! A alegria é mutante. A felicidade é eterna.
E a depressão, o que é? Mais que algo, alguém?Além de em mim, mas eu? Um eu de depressão. Ela não busca motivos, mas os aceita. Ou fita com descaso as suas ausências. A proposta era conhecê-la e ela se espalha. E já é grande demais para se ir adiante...
Queria chorar. Queria deveras chorar.
Queria dirigir minha vida como a um filme.
Basta também de querelas e querências. É inexorável esta minha busca por sentidos.
Quero que tudo acabe agora; pelo menos até amanhã.
Deixei passar com desdém a inspiração que eu tive há vinte minutos. Uma porção de alegria. E com esta palavra vou fechar minha mágoa..............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................alegria.
Capítulo dezesseis (Retomo as rédeas de meu ser)

            “Ora, Fabiano; basta de falar de teu monstro como quem não fala de ti. Evidencias tanto o teu-meu poder destrutivo e te esqueces do que basicamente nos compõe?
            O amor.
            Que não é símbolo, nem é nada da Terra.
            Transcendência.
            O amor onde desaguou-te-me-nos por ti e pela fé que te rege o coração. A depressão é um atalho na trilha da vida e do amor. Um atalho multipartido e se estendendo ao longo do caminho. Um atalho, às vezes lascivo, ou que às vezes percorremos guiados pelo instinto.
            Quase inevitável...
            Mas saibas que sua proporção depende de ti, até seres reconduzido à estrada principal. O único alerta é o de não recue. A trilha que ambicionas sempre estará mais à frente. Não retornes ao ponto onde te iludiste com o atalho. Se lhe deste tua alma, percorra-o sem culpa e logo te devolverá o tempo perdido. Os caminhos da vida são menores do que os caminhos da alma. Não é necessário que tua mente conheças para conhecer-te, mas é necessário que saibas muito de tua alma.
            Conheça-te o suficiente apenas para saber dar o próximo passo.
            Se errares o passo, compreenda-te mais.
            O que até agora chamaste desdém, podes converter em energia positiva; e muitas outras fraquezas notórias que trazes.
            O mais importante é bem conheceres cada uma de tuas forças para que mesmo que se dispersem, saibas como reagrupá-las.
(Todos têm uma própria luz)
            Guarda esta mensagem e fica atento.
            Uma luz!?!
            Presenteada por Deus e independente de qualquer coisa-circunstância.
            Talvez seja a própria luz-da-existência.
            E ela revela tudo...











FIM

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