terça-feira, 16 de outubro de 2018

CIDADÃO DO IMPÉRIO - 1996


FABIANO SANTOS SOUSA










CIDADÃO DO IMPÉRIO











“A inconsciência é o fundamento da vida...
O coração se pudesse pensar, pararia...”

Fernando Pessoa
































































Dedico este livro a minha mãe, D. Catarina, que mais do que todos, merece.






































TOTALIDADE

A tua totalidade é um poema
Partida, não te constitui
Por ti, como treme a terra, também eu que trema
N’aurora resplandecente que nos evolui

Tua beleza intensa atua feito bomba
É própria independência, é imparcial
Minha altiva resistência facilmente tomba
Impõe a meu coração a fase terminal

Sim, de plácida pele, dama faceira
Aprisionas o olhar que aquém mais reluz
Guardas nos teus lábios meu beijo sonhado

Pulsante desejo de vasta fogueira
Propagação do que te olhar produz
Em mim, teu triste e pobre apaixonado.
27-07-95






























ESTA VAIDADE


Esta vaidade desta hora viva
Progredindo até ser praxe dentro do peito
É, pois, amor, o fruto de tua presença altiva
E circunda reles ser que intenciona ser-te perfeito

Esta protuberância pedante e ingrata
Peso extra de bagagem supérflua armada
É ensejo vil da sensação inata
De cultivar a atenção da pessoa amada

Vaidade, amor, é que te amo
Amando envaidecido pertencer-te
E temendo amar-te sem ser valoroso

Nem ruim, nem bom, mas natural humano
De minha vida, pronto para sempre conceber
Vaidades incitando-me a ser-te o mais garboso.
28-07-95




























SONETO 95


O AMOR É INCRÍVEL, MAS É LÚCIDO
EMBORA ABSTRATO, É TANGÍVEL
EMBORA PRESENTE, É INACESSÍVEL
É IMPERIOSO E É PLÁCIDO

O AMOR É A ILUSÃO QUE LEVA À VERDADE
A MAIS PURA RAZÃO CONDUZINDO À LOUCURA
O MAIS BRANDO CARINHO VERTIDO EM TORTURA
A VORAZ JUSTIÇA ACOLHENDO A MALDADE

AMOR É DESDÉM FEITO OBSESSÃO
A ENÉSIMA PARTE DA RADICAL UNIDADE
O HEROÍSMO JUNTO AO EGOÍSMO

É COMO SINTETIZAR A COMPLEXIDADE
ACALENTAR COM AUSTERO PESSIMISMO
MARAVILHAR-SE COM A DEPRESSÃO.
31-07-95




























PÁSSAROS


A TUA MENTE É UMA PRISÃO
SENDO-TE EM UM CORPO OBESO
NÃO SUPORTANDO O TEU PRÓPRIO PESO
QUE É PRESO AO FARDO DA OBSESSÃO

ASSIM, ESPERAS DEMAIS DAS COISAS DO MUNDO
QUE VÃO CONTENTAR O TEU CORPO VADIO
E DE PESAR CONDICIONA-TE ESTAR SEMPRE AFUNDO
TER UM ABISMO PROFUNDO NO PEITO VAZIO

ÉS PRISIONEIRO DA VIDA COMO O NÃO SÃO AS AVES
QUE NADA ENTENDEM, MAS NÃO SE IMPORTAM
ASSIM TAMBÉM TU NADA ENTENDES

TODAVIA, ENQUANTO SEMPRE TE SURPREENDES
ALEGRA-TE OU TEUS LIMITES NÃO SUPORTAM
OS PÁSSAROS APENAS DECOLAM E POUSAM SUAVES
03-08-95




























EVASÃO DO SONETO


1

OLHAR PARADO; CRESCER; OLHAR ABAIXO, PRA BAIXO,  COM      CALMA,           
CUIDADO, LEVES MOVIMENTOS, CANSAR,
FADAR-SE E DIVERGIR.
MUDAR A DIREÇÃO, CANALIZAR, DESENDEREÇAR O OLHAR COM GANA,
DETERMINAR O IMPULSO, SANCIONAR,
DAR ÊNFASE, MULTIPARTIR,
LIQUEFAZER, ENCOLHER.
DAÍ AGIGANTAR, LUTAR, ENTRAR EM HARMONIA COM A REALIDADE,
SER BOM, SENSIVELMENTE CAPAZ,
ATIVO EM SER E EM SABER.
ANDAR, ANDAR, ANDAR, DEMAIS ANDAR, NO MAIS, CANSAR, ANDAR,
ANDAR, ANDAR, FINGIR PARAR, ANDAR,
ANDAR, ANDAR E ALUDIR.

2

PERDENDO O DESTINO, MANTENDO A TENDÊNCIA, TRANSPONDO E ATÉ
DRIBLANDO OU SINTETIZANDO
A IMPOSIÇÃO.
IMPONDO, DISPONDO, NÃO SUPONDO, EXCEDENDO, TEMENDO, MAS
SEMPRE OBJETANDO
DEVENDO O OLHAR, O SER, PENSAR, SENTIR, CANSAR E CANTAR ELUCI-
                                                                                                DANDO A CONCEPÇÃO.
ASSIM, ALÉM, UM POUCO DE VOLTAR E IR, DILATAR, COMPRIMIR, CRIAR,
DESTRUIR, CATATONIZANDO.

3

REVELAÇÃO NEFASTA, DE UM ESCURO PRETO
UMA SINGELA GAFE; O ORADOR PERFEITO
OUTROSSIM, PEDANTE NO MAIS VIL ENFEITO

QUANDO TUDO MAIS NÃO PARECER SUSPEITO
CORTEJARIAM POR TÃO NOBRE FEITO
O FIM, ENFIM, DO LASSO SONETO.
03-08-95







REDOMA


NÃO QUERO DOCES, NEM QUERO NADA QUE ME AGRADE
O QUE É COMER SENÃO VERTER TUDO EM EXCREMENTO?
POR QUE DEVERIA ADULAR ESTE CORPO PESTILENTO
PRA QUE  BOÇAIS LOUVORES EM MINHA TUMBA BRADEM?

MINHA ILUSÃO NÃO É A SUPOSIÇÃO VÃ;
CONTENTANDO-ME O CORPO, TAMBÉM ME CONTENTARIA
MEU EXEMPLO DE CIDADANIA
ASPERGIDO EM MEU MAIOR AFÃ.

EU SOU O MEU PRÓPRIO PAÍS
A PÁTRIA DESGOVERNADA NO PLANETA QUE TAMBÉM SOU
DE MASSA E PESO E POUCA ESPERANÇA

CATIVANDO APENAS LIDERANÇA
A PASSAR COMO QUEM NÃO PASSOU
TANGENDO AS BORDAS DE UM SER FELIZ.
04-08-95




























LIBERTAÇÃO


Exercer a liberdade é possuir
o domínio, o controle da mente
e nem poderia ser diferente
tendo toda condição de divergir
cobrar também direito de usufruir
desvarios da própria loucura
sem olhos em tal postura
caindo indiferentes
ao homicídio e a mesuras.

Assim, escorregadia
na hipocrisia do mundo e dos “ismos
cumpre seu fanatismo
a mente sádica e vadia
aí, sendo sadia
exerce sua intimidade
excede a necessidade
a vaidade e o homossexualismo
presentes da liberdade.
08-08-95


























SOBREVIDA


Toda poesia é sentimental
Romântica ou depressiva
De vago caráter ou formal
Sempre subjetiva

Toda poesia não é nada
Além de papel rabiscado
Rabiscos emocionados
Por alma sobre vida pesada

Toda poesia é vida
Também não de vida gerada
Também segmentada

Esperança vai enfatizada
Na glória há muito esquecida
Em toda poesia (con)vertida.
08-08-95


                                                                                               

























SUCESSO DESAGRADÁVEL


A Srta. Lu Cavazine


1ª Parte
ALMA MINHA QUE NÃO ME RESPONDE
SUSSURRANDO SUPLÍCIOS DE AMOR AGIGANTADO
MEU ABRAÇO TE ENVOLTA AO MEU LADO
ENVOLTA EM MEU ABRAÇO TE ESCONDES

TU TE ESCONDES COM BERLOQUES REPELENTES
OS QUAIS O PEJO DE MEUS OLHOS REPUDIAM
E QUE MINH’ALMA ÊNEA E TÁCITA DELICIAM
DESAJUNTANDO NOSSOS SONHOS ADJACENTES

ATÉ QUANDO GUARDARÁS DE MIM A VERDADE?
DEIXARÁS VIR A VERDADE EM TEU SORRISO?
PALAVRAS TORPES COEXISTIRÃO COM TEU AMOR PENSADO?

DEPÕE COM MEDO TUA REALIDADE
SÓ TU TENS ALGO MAIS DO QUE ASSAZ PRECISO
AINDA QUE EU ESTEJA ASSAZ DECEPCIONADO

























2ª Parte


... E SOB A DECEPÇÃO O ROMANTISMO É POBRE
A PINTURA É COR E A ORATÓRIA É PAPO
A PRINCESA ADOTA A CONDIÇÃO DE SAPO
E ATÉ O OURO RENASCE RELES COBRE

REMANESCER
A BELEZA E O LUTO QUANDO CALA A VOZ
DAS MÃOS E DO PEITO DO POETA ALGOZ
MORTO POETA PARA SOBREVIVER

AH, É ENGRAÇADO O AMOR!
QUE NASCE DE GRANDE FELICIDADE
E DEVERIA ASSIM PERMANECER

MAS S’ERA AMOR AGORA JÁ É DOR
FORÇA E TORPOR SÃO SUA NORMALIDADE
PARA SEMPRE CRESCER E NUNCA CONVENCER
10-08-95





























SONETO SEM LÁGRIMAS


PARA EU SER SIMPLES VOU SER IMPERFEITO
SER-TE-EI UM REFLEXO INTENSO DE TERNURA
DAR-TE-Á MINH’ALMA NO GELO DA MINHA FIGURA
E NÃO SEREI SINCERO, MAS SEREI ACEITO

PARA EU MENTIR, AO SORRISO EMPRESTO GRÃ-LARGURA
COM A MESMA HIPOCRISIA QUE CORRE COMO ENFEITO
NO VÃO DEPOIMENTO DUM BREVE SONETO
SECO; SEM LÁGRIMAS POR TAL POSTURA

A UMA COISA SÓ GUARDAREI RESPEITO
À VERDADE DESDITA EM TOD’ESSA CENSURA
QUE A VÃ SINCERIDADE NÃO ME TIRA, AMOR

NÃO MENTIRA, AMOR, QUE O MORTO DE MEU PEITO
NUNCA MORRERÁ NEM PERDERÁ VENTURA
REPOUSA, RENASCE E FINDA COMO QUALQUER FLOR.
15 E 16-08-95




























UTOPIA

Expulsar-te de meu coração e não sofrer
Esta era a utopia que eu tinha
Transbordando-me em mente e corpo te manter
Como sina da tristeza minha

Aquela que se evade inutilmente
Pra emergir e erigir-me com devassidão
Também roubando de meus pés o chão
Movida a sadismo nu e inocente

Que me inspira a amar-te muito e sem cuidado
Também sofrer de tua ímpia ausência
Viver e morrer sem gozar a vida

De minha dor vejo única saída
Ir-te aos braços, louco, apaixonado
Para além de toda pífia consciência
15-08-95





























À MINHA NOIVA


CASARIA, CASAREI, CASO
ARRISCARIA, ARRISCAREI, ARRISCO
CONFIANÇA, CONFIANÇA, MUITA CONFIANÇA
DEPOSITARIA, DEPOSITAREI, DEPOSITO

AMAR-TE-IA, AMAR-TE-EI, EU TE AMO
BATALHARIA, BATALHAREI, BATALHO POR TI A VALER
A FELICIDADE, A FELICIDADE EU ME PROPONHO
DAR-TE-IA, DAR-TE-EI, SER E FAZER

ENLAÇADA?
NESTE CASO, CASO SEM PESTANEJAR
MINHA ESPERANÇA PEDE A REALIDADE

MINHA AMADA
NA GRAÇA DE DEUS HEMOS DE CASAR
MEU SONHO É NECESSIDADE
22-08-95




























A VIDA


A vida, quem a dá exibe
Com o dia, a noite e a tristeza
Que a graça viva da vida inibe
Austera e singela sutileza

Que pesa pra realidade
E treme de algum ponto do mundo
Taciturno ponto de mistério oriundo
Das travas da felicidade

Mas passam os dias como as desditas
Em áureas claridades poentes
Só não a esperar a morte

Rodopios certeiros mudam toda sorte
Quem dá a vida é de intenção clemente
Para as suas trilhas serem mui bonitas
30-08-95




























O ANIVERSÁRIO DO PLANETA


Os anos não envelhecem como os filhos
Fogem dias e fatos num expresso triste
Os anos trazem as rugas e fazem os filhos
Faz milhões de anos que os anos existem

Os anos são o próprio expresso voraz
Vem com a gana, a invulnerabilidade do físico
A angústia e a ímpia dor dos tísicos
Na morte somente dão a paz

Os dias são o verdadeiro bilhete
De embarque compulsório no percurso dos anos
Não se sabe se anjos ou se ruínas

Que o limite das pernas o debandar respeite
Não se percam bagagens, os passados humanos
Explodindo ou abastando, são nossas minas
30-08-95




























SONHO IMPERFEITO

A Lú C.


Era a minha vida que veloz passava
E co’a tua vida alegre se fundia
Que vasta avalancha no dorso sustentava
Por um fruto fausto que nos aspergia

Era a tua imagem que toda noite eu via
Enquanto dormia, quando sonhava
Teus doces lábios eram os que eu beijava
E era o teu vestido que logo após despia

Era ao teu ouvido que eu sussurrava
Versos de amor que para ti fazia
‘inda que devia porque me inspirava

Era o teu amor que, então, eu desposava
Teu prazer o êxtase que me conduzia
Teu sussurro o canto que enfim me ninava
04-09-95


























MAGISTRADO


Estudando magistério em vida
Sonhar não vou porque já sei
Antes saber ser mais gente sabida

Também digo que não matarei
Salvo como guardião
De inocente vida, mas não de lei

Abraçá-la-ei; a ilusão
Verterei lágrimas como um chafariz
Andarei sobre as brasas da paixão

Nessa insana busca por viver feliz
Passarei da angústia ao Realismo
De Camões a Machado de Assis

Não serei da guerra, mas do pacifismo
Trocarei a maldade pela lábia sadia
Esperarei por um dia nascer-me heroísmo

Servirei à música, a máscara e a poesia
Terei fé numa só entidade
O Deus que exceder a vã mitologia

Honrá-la-ei, a sinceridade
Meu amor não terá medida
E velarei com ardor minha sanidade

Estudando o magistrado em vida
Sonhar não vou, pois já sonhei
Antes a deixar transcorrer vivida
04-09-95














FIRE RED


I

E da sua amizade
Extraí mais do que devia
A ânsia de tocar aos meus
Os lábios seus e o desejo
De seu corpo possuir
Um desejo louco
De ardor apaixonado
Seduzido pela fúria
Ofendido pela repulsa
Amaldiçoado pelo pecado
Porém, ainda resiste
Vivendo sem temer o medo
Servindo a um tempo de sonho
Incrédulo da conquista
Mas a querer lhe amar agora
Sob fogo ou sob nuvens
Conhecer seu ser mulher...

II

Loucura, espanto, repúdio!
O que foi feito do amigo mais confiado
De rara forma apaixonado
E especialmente meu amigo?
A quem confiei sem perigo
Um ombro para aconchegá-lo
Agora a me entristecer
Não crendo no que está a dizer
Aceito não ter ouvido
Esquecer-se o acontecido
Mantendo ao peito zelado
Beijando das faces o lado
Pois amo o meu namorado.

III

Que nada se perdesse
Juro que queria
‘inda mais a amizade
Luz de todo meu dia
Mas longe da sinceridade
Que alicerce teria?
Que exploda o mundo não ligo
Abraço todo infortúnio
Pra vencer tal desejo
Que é deveras invencível
Sem provar-lhe os beijos
Tocar-lhe nua
No espaço almejado em seu peito
Meus lábios sorvendo-lhe os seios
Despindo as vestes, expondo as graças
A alma
Invadir-lhe
Esquecer-me em ti
Sentindo o êxtase dos seus gemidos
Ao ouvido
Rolarmos no leito, reposicionar-mo-nos
Para ir mais fundo; no limite
Dor compensada com carinho
Paixão intensa
Vermelho fogo
Satisfazer completamente o seu corpo
Ou não parar nunca
Chegando ao fim...

IV

Chegando ao fim, morrer
Do remorso da tristeza, da comoção da dor
Loucuras a dizer
Delírios a compor
Ainda que de si esteja convicto
De mim, plenamente enganado
Amo o meu namorado.

V

Ficar ou partir
Como queira agir
Não há, não veja.
Não me deseja?

VI

Como desejo esquecer
Que tudo seja esquecido
Pesadelo perdido
Normal do mundo



VII

Perdão, amor; sim, eu te amo
Amor cativado por toda vida
Não espero perder
Ou a mente esquecer
Nem o coração odiar
Nem a imaginação trair
Perdão, amor; sim, eu te amo.
05-09-13








































ALMAS EM FUGA


1

No caminho do cemitério
Ao término da rua suja
Já sob o odor da putrefação
Passeiam as almas em fuga

Ali as crianças podem correr
Ali os jovens podem namorar
As almas estão sem corpo
Ocupando só o espaço do espírito

Além dos sepulcros
Circundam o cemitério, sem destino
Podem até não existir

Ali estão as almas
Se existissem estariam
Feitas de emoções sentidas

















2

Dentro do cemitério
As imagens são medonhas
As flores jazem expostas
As velas dançam interrompendo a paz

Os mortos pagam o medo
Dos homens pela própria morte
As campas parecem tristes
Jamais enterram as flores

Por isso as almas deixam os túmulos
Preferem a sujeira da rua
Para verem as crianças a brincar

Os namorados se beijando
Amigos saudosos chegando
Impessoais e solenes.
05-09-95






























UM OLHO SÓ, MAS UM OLHO MÍOPE


Impropérios bradados até a morte
Amuos, quizilas praguejantes
Como o obsedar de um limiar tão forte
Eclodindo em pávido errante

A estância de mais um bigorrilha
Transcorrendo em hora-luz a pacovice
Tece sua capa de parvoíce
Esbraveja assaz, mas não brilha

Gargalha disparatado
Palerma que deveras se sabe
Maluco, paspalho, sandeu

Vulgo recompensado
Porquanto durar se gabe
Vence-lhe o que o não leu
15-09-95



























LIQUEFAÇÃO


Rio. Dás águas ao mar profundo
 Pro mar a quem rio um pouco descuidado
As minhas lágrimas são de mar e rio
Poemas mortos que vão misturados

Os fluidos correm a minha vida
Dividida em sal e água cristalina
Repartida em arte e doce menina
Fulminando vapor e graça entorpecida

Agora vem o resultado
De um banho sujo d’água e fel ardente
Da arte vil em odisséias cerradas

Úmidas líricas vãs apaixonadas
Inundadas esperanças em imersão crescente
Enquanto o ser respira afogado
25-09-13




























HUMANIZAÇÃO


O homem é um ser pensante
 As aspas indicam os pensamentos
Reticências do esquecimento
Findam pensamentos incessantes

O homem é um ser humano
Projetado para servir a consciência
Valendo-se de ás rara competência
Para inadimplência e enganos

Ainda assim, humanidade
Sois vós a grande proporção
Da sabedoria ímpar do planeta

Que tudo contenta porque projeta
Efusão da divina autoridade
Ocupai-vos apenas com a vossa razão
29-09-95




























PARA AGRADAR A NINGUÉM


“A mais bela carta de amor”, se disse
“A pessoa que no mundo mais amo”
O mundo, se não muito me engano
Farta-se de tal mesmice

“Amo você” todos dizem
Dizem e digam simplesmente
Só a ser um quê diferente
Não pensem, não sonhem, não visem

Livre de tanta crendice
Cansado da solenidade
Quero amar sem burrice

Bebendo da felicidade
Mirando beleza e meiguice
Servindo a sinceridade
03-10-95




























SUBSERVIÊNCIA


Senhor, se meu amor me deixar
Espero, não por isso, voltar para Ti
Que possível seja lembrar
Que nunca Te substituí

Se o não for possível, Senhor
Rogo-te aquém em tal retorno
Que Satanás, crendo-me morno
Recuse o meu dissabor

Mas Tu, Senhor meu, generoso
Não desprezes da rede pequenino peixe
Que saltou do barco pra tornar manhoso

Suplico, por fim, não Te queixes
Que agora de volta, Teu filho teimoso
Roga-te que seu amor o não deixe
04-10-95




























MAR D’AMOR


Energia pura do coração
Um olhar destruindo paredes de concreto
No infinito poder da imaginação
A dizimação mental de cada objeto

Assim capaz se sente quem ama
E mais de energia necessita
Uma estrela extinta no espaço inflama
Dissipa tudo o que não acredita

Maior do que este e qualquer outro verso
Da configuração universal da poesia
A mente suspendendo as pirâmides do Egito

Transpassando o místico, transpondo o infinito
Flerte contínuo com a fantasia
Num mar d’amor eterno submerso
19-10-95




























ÚLTIMO KM DO LONGÍNQUO


Não à beira, nem à orla, mas no fim
da praia do mundo gigante
a praia que não tem fim
enfim, cá estou repousante

Onde a natureza é cantante
a fadiga que pesa em mim
jaz por não ser importante
nada alhures e afins

Memórias, imagens, tudo é leve
Tomadas assim por um vento lascivo
que assaz alivia, por isso é breve

Tais os confins deste mundo furtivo
creio que em todo o mundo não deve
haver infinito mais vivo
31-10-95




























ONTEM EU ESTAVA ALHEIO


Ontem eu estava alheio
As horas passavam sem medo
Nada causava anseio
Como se dormisse bem cedo

Hoje a ansiedade não veio
Também, mas estou muito mais
Disperso do dia em que fui meio
Alheio à algazarra e à paz

Amanhã minha evasão será instável
Não penso nem em estar vivo
Contenta-me o presente maleável

Se eu fosse perceptivo
Estaria achando saudável
Este espírito nada impulsivo
01-11-95




























CINCO MINUTOS DE SILÊNCIO


a um casual encontro na biblioteca (1-11)


Não querendo esquecer-te resolvi
Figurar-te num soneto
Que surge do nada e chega tão perto
Assim como te conheci

Imagem tênue, aparência lírica
Imponente cria da libertação
Emergindo em meio a tanta dispersão
Definindo-se concreta e onírica

Na simplicidade, nada que me engane
No teu momento eu ia sozinho
Em viagem eterna, sem pane

O destino abriu-me caminho
De saberes de ti, Eliane,
Em memórias que me vêm com carinho.
02-11-95

























“SUPER E TENDÊNCIA”



(1ª Parte) - SUPER

Se cultuo a natureza sou romântico,
se minha língua trava sou barroco,
árcade se simplório for meu cântico,
se sou libertador, então sou louco.
Cá ou acolá do grande Atlântico
a manifestação ocidental tem único foco
Mas não, não em minha vida vazia
e nem nesta poesia.
Não me venham com pendências às tendências;
o implante ímpio dessa atroz verdade
finda na ascensão de vasta inadimplência.
A ilusão de ver sobriedade
O descontrole da mente
não abstém de ser gente.
Talvez agora eu seja realista,
ou talvez não seja nada, na verdade.
De mim ao poema um mundo dista;
do poema a mim, uma cidade.
Meus sentidos hão de ser futuristas,
mas só da futura realidade.
Não o Futurismo, nem o Realismo:
o “Assinzismo”.





















(2ª Parte) – TENDÊNCIA


Se nasci pro Modernismo, rio.
Volto a ser romântico s’ abraço o meu amor.
É real aquém apenas o desafio
ao medo irracional de não se opor.
Ser moderno por prazer sadio
ou modernista, rótulo a impor torpor
numa terra mãe da ignorância
dar-se-á as costas a toda relevância.
Desejo simples e imoral de ser sincero
dentro e fora das estúpidas margens.
Minha mente é o planeta que eu quero,
dona de suas próprias imagens,
mas perco a autonomia quando libero,
numa espécie de “transpassagem”,
meu esforço brutal
em formato universal.
31-10 e 02-11-95






























TRANSGRESSÃO


No coloquial padrão da língua
talvez me não perdesse
o que banalmente escrevesse
atestaria minha idéia míngua

mas a estrofe nascida
encheu-se de formalidade
caindo por terra a verdade
por ela nunca conhecida

Ainda que os tropicões,
as gafes e a ignorância
esbofeteiem a Ilustre Gramática

não me abstenho da prática,
nem desprezo dos versos a infância,
pois figuram minhas emoções.
06-11-95




























SÓ BROTOU UM SONETO


Algo que brotasse do nada
Poderia surgir agora
Quem dera fosse uma aurora
Crescendo em alvorada...

E que constantes cantassem
Os pássaros e nas flores
Emaranhando-se também entre cores
Borboletas coralinas pousassem

As simples coisas notórias
Que a vida automatiza
Acostumando as visões cansadas

Emprestassem o valor de sua glória
Que intelecto algum visualiza
Quem dera brotassem do nada
13-11-95




























DERRUBANDO O MITO


As minhas verdades são mitos
Minha personalidade se apega constantemente à pretensão
Vivo a fitar a ilusão
E a achar horrores bonitos

Horrores que são iguais a mim
Vilões propensos a serem sempre bandidos
Conceitos de valores brutalmente enfraquecidos
Congenitamente ruins

Sou o natural
Despido da fantasia
Que às vezes não sabe se confunde a arte

Todo orgulho é banal
Toda jactância, vazia
Não todo, nem parte.
14-11-95




























TRANSBORDA D’ AMOR


À Lu C.


Transborda d’ amor
Minha essência inteira
De sua flecha certeira
Servi d’ alvo sem dor

Meu amor destinado
Vive eternamente
Se presente, se ausente
A ti está guardado

Embora não vejas
E às vezes duvides
É teu sem saída

Do semblante que beijas
No peito reside
Paixão por ti desmedida
16-11-95



























Agora que eu te tenho, Luciene
Feliz como alguém nunca esteve
Dou-te meu amor mais solene
Que o receio sempre conteve

Agora que és minha, Cavazine
E te amo com toda firmeza
Um amor que ascende sublime
Tornando-te minha princesa

Agora que os Santos se fundem
As nossas mãos se enlaçam
E os nossos sonhos se animam

Esses mares de paz sempre inundem
Todos os nossos dias que passam
E outros que se aproximam
17-11-95




























OS MISTÉRIOS DA VIDA


1

Os mistérios da vida não são
Sonetos que rimam, amigos
Esconde enormes perigos
Sua simples revelação.

Esses mistérios atrozes
Príncipes gêmeos da verdade
Subsistem na ambigüidade
Natural das raças ferozes.

O maior mistério do mundo
É viver e morrer sob a liberdade
Sem a nunca ter conhecido

Mistério em abismo sem fundo
Entre futuro e saudade
Que em todo coração vai perdido



























2

Os mistérios nem mistérios são
Quem os busca, as suas verdades nasce
Que importa que a vida passe
Ouvindo sempre o coração?

Coração, palco dos mistérios
Pouco sérios e certos da separação
Da alma sempre livres de tanta ilusão
E do mal que exala tantos impropérios.

As ciências vis são do mundo a alma
Podre, repulsivas criações da luta
Dos filhos maus de Deus e dos que se esquecem

Por ventura, Deus em Sua glória e calma
Que esmaga os maus e só com o bem se exulta
Dá à alma as leis que os mistérios tecem.































3

Sonhar o tangível é de bem
A essência do bem é a gratidão
A Deus, com justa retidão
Que homem algum não a tem.

Possui, todavia, também
Os princípios vitais da razão
Luzes da decisão
Em ondas que vão e vêm.

E mesmo com tudo isso
Os homens são engolidos
Pelos fúteis mistérios da vida

Aos quais nem são submissos
Cativam-se ali, escondidos
Na alma que sem saber se intimida.































4

A Fé vem devagarzinho
Perde a cadência e a rima
Ao nobre poeta desanima
Seu bater de coraçãozinho.

O Amor é a beleza e o espinho
Não por ordem de grandeza
Já que a Fé é do Amor a certeza
E da Beleza, o caminho.

O Sonho é a Felicidade
Os muitos Nomes são um
A Existência é o Poder

Mesmo a Realidade
Que aponta mistério nenhum
Mascara-se para o Viver...
21-11-95






























OS ASTROS NADA ARBITRAM


É linda a maravilha do Universo
Que mesmo a desprezar nossa tristeza
Acalma-nos com sua beleza
Matéria do espírito inverso

Os astros nada arbitram
Não aos olhos da Ciência
Não nos limites tolos da vivência
Que mais no que é vão acreditam

Mas essas maravilhas não precisam
Da fé de inferiores criações
Que ainda se trombam e se pisam

Nem das fatigáveis sensações
Que o luto do Espaço não amenizam
Por fadarem-se aos corações.
22-11-95




























SFC


Clube de brio, sempre valente
Esquadrão zelado por muitas gerações
Peça da história dos grandes campeões
Jóia para a glória brilhar eternamente.

Com o nome traz bênçãos e a proteção divina
No imo o amor de todos os românticos
Tua aura de esplendor como o sol sobre o Atlântico
É a estrada que a paixão pelo esporte ensina

És o orgulho e a alegria imensa
Não de alguns poucos, mas de milhares
Que jamais te abandonam desde a nascença

Respeito cativo em todos os lugares
Desbravador da vitória e da recompensa
SANTOS FUTEBOL CLUBE, entre poucos e sem pares.
22-11-95




























EM TREVAS


As trevas cobrem tudo
Vivemos sob agouro
A felicidade é um estouro
A perturbar o torpor mudo

Eu, descendente de Jó
Pó, pelo mesmo Deus
Vivendo como os ateus
Pedindo castigo maior

Pior do que o sofrimento
Das trevas de todo dia
É haver o merecimento

Melhor quem desafia
Qual Jó em seu grã-momento
Não buscou do sepulcro a apatia.
23-11-95




























BRAVIOS À PARTE


“Eu amo o Val
E você é um inútil!
‘Tá sofrendo, dane-se!
Não amas nem a ti.”

Isso é normal.
O amor é fútil.
Se quer amar, ame-se
Ou ganhas isso aí.

Este coração
Outrora te ajudava
Hoje estamos putos

‘Tá vendo, bobão
Quem ‘cê mais amava
Encheu-te de insultos.
23-11-95




























Ô GENTE!


Ô gente, se já no Barroco era
A riqueza, do ladrão,
Do trabalho a exploração
E já se foram tantas primaveras

A injustiça não se abala
Com a teoria dos fatos históricos
Sempre podem os categóricos
Sempre o pobre é o que mais rala

Ô gente, se é da chibata
As largas marcas em vosso dorso
Pelas migalhas que a fome mal vos mata

Deus queira, cá eu sempre torço
Que mais tenhais da vida do que a fala ingrata:
“moço, dê uma esmola pr’eu comê um armoço”.
24-11-95






























EM
BUSCA
DA
SOLIDÃO









“A pior solidão é a que clama por companhia”
FSS
































Aos poucos fui me esquecendo
do imenso grau de parentesco da liberdade
com a Solidão.

“Buscai o mar, buscai”
a alma diz
e eu retruco: “Calem a boca aparelhos e sistemas”.



























PARTE 1 – Eu


Sem buscar o mar, no mar cá estou
Em busca de algo perdido
A luva que caiu das mãos
Pra revelar as unhas pintadas;
pra não proteger
Tanta simbologia se caracteriza pela Solidão
e Ela não vem
(Não se indigna a seguir os homens mortais)

Queira ser-me
Eu te chamo, queira ser-me
Queira
Eu te chamo
Só vens tu, mar?
Permiti-la-á que te mande sempre?

Saltai de dentro de mim Solidão vil
Vinde jogar comigo
Esvai-se a vossa coragem ao ser o objeto
da procura, ao ser a caça?
Falando sério digo
Deveras
Surgi a quem vos deseja
Respeitai a quem vos conhece
e sabe que tendes limites
como qualquer limite



Basta!



Ou o teu nome não é Solidão?
Nasceste para ser o peso das almas
e esperas agora por alguma adulação?
Ah, era só o que lhe faltava; basta!
Tua existência não é nociva, perniciosa?
Não é fardo repulsivo
jamais preocupado em ser leve?

Basta!


Vou longe de precisar de você
Posso substituir qualquer presença
pelo meu pensamento
Ainda assim, os temas, o poema
Fadam-me a não lhe dispersar por inteiro
O nome é Solidão, algo como solidão
Não me soa estranho, nem distante
A vida ninguém entende,
por isso, não me corrijam
A vida é o vivente contra a sociedade
Não me corrija sociedade
Quero o abraço da liberdade
Quero viver em busca da Solidão

Para que ter amigos todos curiosos
muitas vezes intrometidos, querendo se porem em meu lugar?
É patético alguém querer se pôr em algum lugar
que não é o seu lugar
como podem pessoas gostarem de pessoas,
não por serem pessoas, mas por lhe serem pessoas em especial?
Qual a dessemelhança entre o amigo e o transeunte d’apouco
Nenhuma para outro alheio
que baba também só por suas próprias preferências.
É inútil ser sociável
A sociedade são os outros
Entre ficar servindo a mentira
e partir na insana busca pelo pesadelo dos homens,
eu parto
ainda que nunca mais possa amar,
pois isso a solidão não permite
Ela acoberta o desejo, guia a loucura,
agora amar não aceitará nunca.
Eu queria jogar;
barganhar com os conceitos da realidade,
poderia ficar um tempo sozinho,
nos braços de alguém que talvez eu ame,
mas não para sempre.
Não da forma eterna que é a Solidão.

Buscar a Solidão é buscar a mim
Querê-la e querer-me por companhia
Só eu posso vê-la porque para mim ela está em todos os lugares
Assim ela é quase minha
Dispomos de uma convivência íntima
Exercer os meus dons sobre ela é como gozar de extrema loucura
Vê-la é exteriorizar-me
Buscá-la é o mesmo que lhe exorcizar
Agora eu estou só com a caneta
Eu e a Solidão
Eu, a Solidão e a Caneta seremos sempre solitários perfeitos
Seremos como o big bang
e a imparcialidade da Física
Agora eu quebro a caneta
e o que resta, possivelmente, é um nada
diferente do mundo que teve há pouco
uma caneta inteira quebrada,
de estrutura externa magnífica; inútil
Talvez por hora eu queira parar de escrever
e a Solidão,
não desta vez pude agarrá-la.



















Parte II – TU


Sobre as rochas mães dos abrolhos do mar,
o mar imenso como o Pacífico,
um mar deveras muito maior
nas costas inteiras frias devido à brisa marítima
esperas o brilho dos dias e o enigma das noites
És um supersubmarino imerso em todas as existências
Uma grande individualidade suprindo uma grande dependência
Tua figura representativa é de gênero único
Assim:






Souberas por minhas mãos agir
Tu me fizeras conhecer
Eu que nunca fora de presença tranqüila
e que nunca soubera o que ‘inda quereria
parecera com tudo o que parecia simples
Exististe tu para subverter a realidade
Uma reflexão necessária para que se saiba,
como se já não se soubesse
reconhecer-te e contra-indicar-te.

Souberas agir por todas as mãos,
mas aquém do espaço a busca é minha
Tão minha quanto os limites do poema;
mais minha do que este...
Exclusiva como a insanidade.
Peculiar.




Eu acho que estou ficando louco
Creio que enlouqueço bem às minhas vistas
Não que eu, aquele sôfrego obreiro, tenha mudado; não
Ainda é o mesmo
Ainda sou eu mesmo
Ainda marcho pelas ruas paralelas às avenidas
Ainda fecho os olhos ao só correr pela praia deserta
Cultivo uma simpatia, que é mútua, pelos cães das ruas
Especialmente os vira-latas
que têm a bondade, a simplicidade e a inocência
Invejo terminantemente os velhinhos
que jogam cartas nos bancos das praças esquecidas pelos namorados.
Todos estes meus impulsos ainda são naturais
Tirem-me isso e o que resta é um louco
Bloqueado por pensamentos
de traição, de tristeza, arrogância,
ciúme, prepotência, força...
Força.
Sim, eu sou um super-herói
andando a passos largos pela rua como se voasse
A minha identidade ainda mais secreta é que se faz de um vilão,
o mais poderoso
Assim, o meu intuito é o de estuprar uma adolescente
que não me ame, mas que venha a me amar depois
Todas essas coisas se amontoam
e se empilham sobre mim como destroços
Fico como pessoas soterradas em um elevador
de um prédio que desmoronou
Tenho grandes instantes de pensamentos
voltados para maldades e orgias
Quando viram ações, estes pensamentos
crescem a minha impressão de estar enlouquecendo,
trocando as neuroses pela Psicose
Dane-se
O que me importa é encontrar a certa Solidão;
daí, não faz mal se eu enlouquecer sozinho,
sem amores, sem valores, sem nada;
sem as coisas as quais é impossível viver sem.
Se possível, chutarei até a Solidão após a encontrar,
para que reste só eu,
um vácuo maior do que o espaço;
um espaço maior do que o vácuo do espaço.


Meus pensamentos às vezes viajam por várias dimensões,
embora sua realidade atual seja quase sempre a estupidez
de almejarem algo cujo perfil desconhecem
Dane-se!
Danem-se!
De cara feia já basta a minha
De choramingos já me bastam os meus
Basta de existências que surgiram com palavrões
Para alem de te tocar, Solidão,
ser-te-ei
Buscar a solidão é como domar leões
A morte são leões indomáveis
Chega! Chega! Parem com tudo isso
Saiam, saiam todos do meu pé
Leiam isto depressa, mas não visualizem o que digo.
Bah! Alguém aí pensa que gosta de mim?
Hei! Hei! Você aí acha que gosta de mim?
Sai dessa! Está enganado. Não gosta, só pensa que sim.
Nada tenho que cative a sua simpatia
Se tenho, não intenciono ter
Estou sendo propositadamente rude
Estejam “se lixando” para mim.

Solidão, solidão amiga
Pensas que gosto de ti?
Livrei-me do ridículo dos homens;
Tampouco me quero prender ao grotesco dos símbolos
Não és nada
Os homens não são nada
Eu sou nada
Eu que te tenho, Solidão, não o contrário
Meu silêncio é um acorde sombrio, mas belo e limpo
até a distorção
não gosto de ninguém, Solidão, de ti muito menos
És a porcaria que encanta e lambuza a coragem dos homens
Eu sou um homem
porcalhão
da Solidão.
Moro numa casa que só tem a entrada de serviço
A minha casa é a rua
A minha rua é o espaço
O meu espaço é Deus...




A esta altura, já com o bilhete azul entregue à namorada,
tu és a minha namorada
a única que vale à pena
Tardiamente  concluí  que não  vale à pena  querer que as coisas  valham   à
pena
Elas não o valerão
As coisas são coisas de vontade própria
A vontade das coisas, (mesmo das inanimadas),
é a vontade de quem rege o Universo
Só vale à pena saber que nada vale à pena
e trair-te, minha amada Solidão,
com a Esperança.


Servir-me-ia ter tantas mulheres
estando a amar-te avassaladoramente dentro de mim?
Só mais uma vez, “dane-se a minha loucura”
É a minha vida.
Minha.
Quem a vive sou eu.
Quem prestará contas também
Devo deixar, então, que me façam achar o que quero,
que quero estar a desejar
o querer a morte?
Quero a morte de todas as presenças inconvenientes
e só.
Nada mais quero, nada.
A Solidão? Nem isso
pois esse é um nome que eu posso forjar.




Parte III – NÓS


Do sujeito ao objeto
Aqui já se pode verter em oblíquo
Perco minh’alma, meu corpo, meu espírito
ou deixo apenas de ser pessoa
mas não deixo de conviver com o mesmo lixo
ao qual convivem as pessoas.


As pessoas pensam que têm pena de mim
Todas as pessoas que dizem amar-me o dizem
pensarem ter pena de mim
e eu, do fundo do meu coração, gosto que pensem
Vamos, tenham todos pena do Fabiano
Babem no meu saco por causa do que vêem
com olhares hipócritas repletos de orgulho
Eu sou assim e assim vivo e sobrevivo
Poderei ser assim para sempre; está ótimo!
O que vos sempre adiantou chorar baixinho?
Se eu chorasse, choraria para que todos vissem
e ninguém soubesse que chorava apenas por ser
um momento de chorar
Sem emoções. Por que as ter?
Chorar para dar vida ao símbolo que é o choro
Fazer existir lágrimas que são sempre apenas lágrimas
Tudo é apenas tudo.
Tudo também é nada
além de ser o que é.
O Talento pode ser qualquer coisa
mas é apenas indomável
eterno especialista em driblar as palavras

Estou farto das declarações de amor e desamor
Estou cansado de enxergar dois mundos para uma sobrevivência
Estou cansado deste cansaço que não precede o sono.

Meus momentos de solidão estão neste poema
Vagam nestes versos como vagavam em minh’essência
Uma relação estreita entre o homem e a arte
Homem, arte, ilusão; uma troca justa
Sim, não tateei a matéria da solidão como os átomos
Do átomo às células vai sua anti-matéria
e os dias, as chuvas, os acontecimentos da vida humana
não entram nessa redoma
As alheias emoções e suas crias também não.
Agora eu as trago de volta.
Por favor, amigos,
leiam esta poesia e tenham pena de mim...
(sem data)




FIM







“Num mundo hipócrita, o mais louvável é saber o ser humildemente.”









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