FABIANO SANTOS SOUSA
CIDADÃO DO IMPÉRIO
“A inconsciência é o fundamento
da vida...
O coração se pudesse pensar,
pararia...”
Fernando Pessoa
Dedico
este livro a minha mãe, D. Catarina, que mais do que todos, merece.
TOTALIDADE
A tua totalidade é um poema
Partida, não te constitui
Por ti, como treme a terra,
também eu que trema
N’aurora resplandecente que nos
evolui
Tua beleza intensa atua feito
bomba
É própria independência, é
imparcial
Minha altiva resistência
facilmente tomba
Impõe a meu coração a fase
terminal
Sim, de plácida pele, dama
faceira
Aprisionas o olhar que aquém mais
reluz
Guardas nos teus lábios meu beijo
sonhado
Pulsante desejo de vasta fogueira
Propagação do que te olhar produz
Em mim, teu triste e pobre
apaixonado.
27-07-95
ESTA VAIDADE
Esta vaidade desta hora viva
Progredindo até ser praxe dentro
do peito
É, pois, amor, o fruto de tua
presença altiva
E circunda reles ser que
intenciona ser-te perfeito
Esta protuberância pedante e
ingrata
Peso extra de bagagem supérflua
armada
É ensejo vil da sensação inata
De cultivar a atenção da pessoa
amada
Vaidade, amor, é que te amo
Amando envaidecido pertencer-te
E temendo amar-te sem ser
valoroso
Nem ruim, nem bom, mas natural
humano
De minha vida, pronto para sempre
conceber
Vaidades incitando-me a ser-te o
mais garboso.
28-07-95
SONETO 95
O AMOR É INCRÍVEL, MAS É LÚCIDO
EMBORA ABSTRATO, É TANGÍVEL
EMBORA PRESENTE, É INACESSÍVEL
É IMPERIOSO E É PLÁCIDO
O AMOR É A ILUSÃO QUE LEVA À
VERDADE
A MAIS PURA RAZÃO CONDUZINDO À
LOUCURA
O MAIS BRANDO CARINHO VERTIDO EM
TORTURA
A VORAZ JUSTIÇA ACOLHENDO A
MALDADE
AMOR É DESDÉM FEITO OBSESSÃO
A ENÉSIMA PARTE DA RADICAL
UNIDADE
O HEROÍSMO JUNTO AO EGOÍSMO
É COMO SINTETIZAR A COMPLEXIDADE
ACALENTAR COM AUSTERO PESSIMISMO
MARAVILHAR-SE COM A DEPRESSÃO.
31-07-95
PÁSSAROS
A TUA MENTE É UMA PRISÃO
SENDO-TE EM UM CORPO OBESO
NÃO SUPORTANDO O TEU PRÓPRIO PESO
QUE É PRESO AO FARDO DA OBSESSÃO
ASSIM, ESPERAS DEMAIS DAS COISAS
DO MUNDO
QUE VÃO CONTENTAR O TEU CORPO
VADIO
E DE PESAR CONDICIONA-TE ESTAR
SEMPRE AFUNDO
TER UM ABISMO PROFUNDO NO PEITO
VAZIO
ÉS PRISIONEIRO DA VIDA COMO O NÃO
SÃO AS AVES
QUE NADA ENTENDEM, MAS NÃO SE
IMPORTAM
ASSIM TAMBÉM TU NADA ENTENDES
TODAVIA, ENQUANTO SEMPRE TE
SURPREENDES
ALEGRA-TE OU TEUS LIMITES NÃO
SUPORTAM
OS PÁSSAROS APENAS DECOLAM E
POUSAM SUAVES
03-08-95
EVASÃO DO SONETO
1
OLHAR PARADO; CRESCER; OLHAR ABAIXO, PRA BAIXO, COM CALMA,
CUIDADO, LEVES
MOVIMENTOS, CANSAR,
FADAR-SE E DIVERGIR.
MUDAR A DIREÇÃO, CANALIZAR,
DESENDEREÇAR O OLHAR COM GANA,
DETERMINAR O IMPULSO, SANCIONAR,
DAR ÊNFASE,
MULTIPARTIR,
LIQUEFAZER, ENCOLHER.
DAÍ AGIGANTAR, LUTAR, ENTRAR EM HARMONIA COM A
REALIDADE,
SER BOM, SENSIVELMENTE
CAPAZ,
ATIVO EM
SER E EM SABER.
ANDAR, ANDAR, ANDAR, DEMAIS
ANDAR, NO MAIS, CANSAR, ANDAR,
ANDAR, ANDAR, FINGIR
PARAR, ANDAR,
ANDAR, ANDAR E ALUDIR.
2
PERDENDO O DESTINO, MANTENDO A TENDÊNCIA, TRANSPONDO E ATÉ
DRIBLANDO OU
SINTETIZANDO
A IMPOSIÇÃO.
IMPONDO, DISPONDO, NÃO SUPONDO,
EXCEDENDO, TEMENDO, MAS
SEMPRE OBJETANDO
DEVENDO O OLHAR, O SER, PENSAR, SENTIR, CANSAR E CANTAR
ELUCI-
DANDO A CONCEPÇÃO.
ASSIM, ALÉM, UM POUCO DE VOLTAR E IR, DILATAR, COMPRIMIR,
CRIAR,
DESTRUIR,
CATATONIZANDO.
3
REVELAÇÃO NEFASTA, DE UM ESCURO
PRETO
UMA SINGELA GAFE; O ORADOR
PERFEITO
OUTROSSIM, PEDANTE NO MAIS VIL
ENFEITO
QUANDO TUDO MAIS NÃO PARECER
SUSPEITO
CORTEJARIAM POR TÃO NOBRE FEITO
O FIM, ENFIM, DO LASSO SONETO.
03-08-95
REDOMA
NÃO QUERO DOCES, NEM QUERO NADA
QUE ME AGRADE
O QUE É COMER SENÃO VERTER TUDO
EM EXCREMENTO?
POR QUE DEVERIA ADULAR ESTE CORPO
PESTILENTO
PRA QUE BOÇAIS LOUVORES EM MINHA TUMBA BRADEM ?
MINHA ILUSÃO NÃO É A SUPOSIÇÃO
VÃ;
CONTENTANDO-ME O CORPO, TAMBÉM ME
CONTENTARIA
MEU EXEMPLO DE CIDADANIA
ASPERGIDO EM MEU MAIOR AFÃ.
EU SOU O MEU PRÓPRIO PAÍS
A PÁTRIA DESGOVERNADA NO PLANETA
QUE TAMBÉM SOU
DE MASSA E PESO E POUCA ESPERANÇA
CATIVANDO APENAS LIDERANÇA
A PASSAR COMO QUEM NÃO PASSOU
TANGENDO AS BORDAS DE UM SER
FELIZ.
04-08-95
LIBERTAÇÃO
Exercer a liberdade é possuir
o domínio, o controle da mente
e nem poderia ser diferente
tendo toda condição de divergir
cobrar também direito de usufruir
desvarios da própria loucura
sem olhos em tal postura
caindo indiferentes
ao homicídio e a mesuras.
Assim, escorregadia
na hipocrisia do mundo e dos “ismos”
cumpre seu fanatismo
a mente sádica e vadia
aí, sendo sadia
exerce sua intimidade
excede a necessidade
a vaidade e o homossexualismo
presentes da liberdade.
08-08-95
SOBREVIDA
Toda poesia é sentimental
Romântica ou depressiva
De vago caráter ou formal
Sempre subjetiva
Toda poesia não é nada
Além de papel rabiscado
Rabiscos emocionados
Por alma sobre vida pesada
Toda poesia é vida
Também não de vida gerada
Também segmentada
Esperança vai enfatizada
Na glória há muito esquecida
Em toda poesia (con)vertida.
08-08-95
SUCESSO DESAGRADÁVEL
A Srta. Lu Cavazine
1ª Parte
ALMA MINHA QUE NÃO ME RESPONDE
SUSSURRANDO SUPLÍCIOS DE AMOR
AGIGANTADO
MEU ABRAÇO TE ENVOLTA AO MEU LADO
ENVOLTA EM MEU ABRAÇO TE ESCONDES
TU TE ESCONDES COM BERLOQUES
REPELENTES
OS QUAIS O PEJO DE MEUS OLHOS
REPUDIAM
E QUE MINH’ALMA ÊNEA E TÁCITA
DELICIAM
DESAJUNTANDO NOSSOS SONHOS
ADJACENTES
ATÉ QUANDO GUARDARÁS DE MIM A
VERDADE?
DEIXARÁS VIR A VERDADE EM TEU SORRISO ?
PALAVRAS TORPES COEXISTIRÃO COM
TEU AMOR PENSADO?
DEPÕE COM MEDO TUA REALIDADE
SÓ TU TENS ALGO MAIS DO QUE ASSAZ
PRECISO
AINDA QUE EU ESTEJA ASSAZ
DECEPCIONADO
2ª Parte
... E SOB A DECEPÇÃO O ROMANTISMO
É POBRE
A PINTURA É COR E A ORATÓRIA É
PAPO
A PRINCESA ADOTA A CONDIÇÃO DE
SAPO
E ATÉ O OURO RENASCE RELES COBRE
REMANESCER
A BELEZA E O LUTO QUANDO CALA A
VOZ
DAS MÃOS E DO PEITO DO POETA
ALGOZ
MORTO POETA PARA SOBREVIVER
AH, É ENGRAÇADO O AMOR!
QUE NASCE DE GRANDE FELICIDADE
E DEVERIA ASSIM PERMANECER
MAS S’ERA AMOR AGORA JÁ É DOR
FORÇA E TORPOR SÃO SUA
NORMALIDADE
PARA SEMPRE CRESCER E NUNCA
CONVENCER
10-08-95
SONETO SEM LÁGRIMAS
PARA EU SER SIMPLES VOU SER
IMPERFEITO
SER-TE-EI UM REFLEXO INTENSO DE
TERNURA
DAR-TE-Á MINH’ALMA NO GELO DA
MINHA FIGURA
E NÃO SEREI SINCERO, MAS SEREI
ACEITO
PARA EU MENTIR, AO SORRISO
EMPRESTO GRÃ-LARGURA
COM A MESMA HIPOCRISIA QUE CORRE
COMO ENFEITO
NO VÃO DEPOIMENTO DUM BREVE
SONETO
SECO; SEM LÁGRIMAS POR TAL
POSTURA
A UMA COISA SÓ GUARDAREI RESPEITO
À VERDADE DESDITA EM TOD’ESSA
CENSURA
QUE A VÃ SINCERIDADE NÃO ME TIRA,
AMOR
NÃO MENTIRA, AMOR, QUE O MORTO DE
MEU PEITO
NUNCA MORRERÁ NEM PERDERÁ VENTURA
REPOUSA, RENASCE E FINDA COMO
QUALQUER FLOR.
15 E 16-08-95
UTOPIA
Expulsar-te de meu coração e não
sofrer
Esta era a utopia que eu tinha
Transbordando-me em mente e corpo
te manter
Como sina da tristeza minha
Aquela que se evade inutilmente
Pra emergir e erigir-me com
devassidão
Também roubando de meus pés o
chão
Movida a sadismo nu e inocente
Que me inspira a amar-te muito e
sem cuidado
Também sofrer de tua ímpia
ausência
Viver e morrer sem gozar a vida
De minha dor vejo única saída
Ir-te aos braços, louco,
apaixonado
Para além de toda pífia
consciência
15-08-95
À MINHA NOIVA
CASARIA, CASAREI, CASO
ARRISCARIA, ARRISCAREI, ARRISCO
CONFIANÇA, CONFIANÇA, MUITA
CONFIANÇA
DEPOSITARIA, DEPOSITAREI,
DEPOSITO
AMAR-TE-IA, AMAR-TE-EI, EU TE AMO
BATALHARIA, BATALHAREI, BATALHO
POR TI A VALER
A FELICIDADE, A FELICIDADE EU ME
PROPONHO
DAR-TE-IA, DAR-TE-EI, SER E FAZER
ENLAÇADA?
NESTE CASO, CASO SEM PESTANEJAR
MINHA ESPERANÇA PEDE A REALIDADE
MINHA AMADA
NA GRAÇA DE DEUS HEMOS DE CASAR
MEU SONHO É NECESSIDADE
22-08-95
A VIDA
A vida, quem a dá exibe
Com o dia, a noite e a tristeza
Que a graça viva da vida inibe
Austera e singela sutileza
Que pesa pra realidade
E treme de algum ponto do mundo
Taciturno ponto de mistério
oriundo
Das travas da felicidade
Mas passam os dias como as
desditas
Em áureas claridades poentes
Só não a esperar a morte
Rodopios certeiros mudam toda
sorte
Quem dá a vida é de intenção
clemente
Para as suas trilhas serem mui
bonitas
30-08-95
O ANIVERSÁRIO DO PLANETA
Os anos não envelhecem como os
filhos
Fogem dias e fatos num expresso
triste
Os anos trazem as rugas e fazem
os filhos
Faz milhões de anos que os anos
existem
Os anos são o próprio expresso
voraz
Vem com a gana, a
invulnerabilidade do físico
A angústia e a ímpia dor dos
tísicos
Na morte somente dão a paz
Os dias são o verdadeiro bilhete
De embarque compulsório no
percurso dos anos
Não se sabe se anjos ou se ruínas
Que o limite das pernas o
debandar respeite
Não se percam bagagens, os
passados humanos
Explodindo ou abastando, são
nossas minas
30-08-95
SONHO IMPERFEITO
A Lú C.
Era a minha vida que veloz
passava
E co’a tua vida alegre se fundia
Que vasta avalancha no dorso
sustentava
Por um fruto fausto que nos
aspergia
Era a tua imagem que toda noite
eu via
Enquanto dormia, quando sonhava
Teus doces lábios eram os que eu
beijava
E era o teu vestido que logo após
despia
Era ao teu ouvido que eu
sussurrava
Versos de amor que para ti fazia
‘inda que devia porque me
inspirava
Era o teu amor que, então, eu
desposava
Teu prazer o êxtase que me
conduzia
Teu sussurro o canto que enfim me
ninava
04-09-95
MAGISTRADO
Estudando magistério em vida
Sonhar não vou porque já sei
Antes saber ser mais gente sabida
Também digo que não matarei
Salvo como guardião
De inocente vida, mas não de lei
Abraçá-la-ei; a ilusão
Verterei lágrimas como um
chafariz
Andarei sobre as brasas da paixão
Nessa insana busca por viver
feliz
Passarei da angústia ao Realismo
De Camões a Machado de Assis
Não serei da guerra, mas do
pacifismo
Trocarei a maldade pela lábia
sadia
Esperarei por um dia nascer-me
heroísmo
Servirei à música, a máscara e a
poesia
Terei fé numa só entidade
O Deus que exceder a vã mitologia
Honrá-la-ei, a sinceridade
Meu amor não terá medida
E velarei com ardor minha
sanidade
Estudando o magistrado em vida
Sonhar não vou, pois já sonhei
Antes a deixar transcorrer vivida
04-09-95
FIRE RED
I
E da sua amizade
Extraí mais do que devia
A ânsia de tocar aos meus
Os lábios seus e o desejo
De seu corpo possuir
Um desejo louco
De ardor apaixonado
Seduzido pela fúria
Ofendido pela repulsa
Amaldiçoado pelo pecado
Porém, ainda resiste
Vivendo sem temer o medo
Servindo a um tempo de sonho
Incrédulo da conquista
Mas a querer lhe amar agora
Sob fogo ou sob nuvens
Conhecer seu ser mulher...
II
Loucura, espanto, repúdio!
O que foi feito do amigo mais
confiado
De rara forma apaixonado
E especialmente meu amigo?
A quem confiei sem perigo
Um ombro para aconchegá-lo
Agora a me entristecer
Não crendo no que está a dizer
Aceito não ter ouvido
Esquecer-se o acontecido
Mantendo ao peito zelado
Beijando das faces o lado
Pois amo o meu namorado.
III
Que nada se perdesse
Juro que queria
‘inda mais a amizade
Luz de todo meu dia
Mas longe da sinceridade
Que alicerce teria?
Que exploda o mundo não ligo
Abraço todo infortúnio
Pra vencer tal desejo
Que é deveras invencível
Sem provar-lhe os beijos
Tocar-lhe nua
No espaço almejado em seu peito
Meus lábios sorvendo-lhe os seios
Despindo as vestes, expondo as
graças
A alma
Invadir-lhe
Esquecer-me em ti
Sentindo o êxtase dos seus
gemidos
Ao ouvido
Rolarmos no leito,
reposicionar-mo-nos
Para ir mais fundo; no limite
Dor compensada com carinho
Paixão intensa
Vermelho fogo
Satisfazer completamente o seu
corpo
Ou não parar nunca
Chegando ao fim...
IV
Chegando ao fim, morrer
Do remorso da tristeza, da
comoção da dor
Loucuras a dizer
Delírios a compor
Ainda que de si esteja convicto
De mim, plenamente enganado
Amo o meu namorado.
V
Ficar ou partir
Como queira agir
Não há, não veja.
Não me deseja?
VI
Como desejo esquecer
Que tudo seja esquecido
Pesadelo perdido
Normal do mundo
VII
Perdão, amor; sim, eu te amo
Amor cativado por toda vida
Não espero perder
Ou a mente esquecer
Nem o coração odiar
Nem a imaginação trair
Perdão, amor; sim, eu te amo.
05-09-13
ALMAS EM FUGA
1
No caminho do cemitério
Ao término da rua suja
Já sob o odor da putrefação
Passeiam as almas em fuga
Ali as crianças podem correr
Ali os jovens podem namorar
As almas estão sem corpo
Ocupando só o espaço do espírito
Além dos sepulcros
Circundam o cemitério, sem
destino
Podem até não existir
Ali estão as almas
Se existissem estariam
Feitas de emoções sentidas
†
2
Dentro do cemitério
As imagens são medonhas
As flores jazem expostas
As velas dançam interrompendo a
paz
Os mortos pagam o medo
Dos homens pela própria morte
As campas parecem tristes
Jamais enterram as flores
Por isso as almas deixam os
túmulos
Preferem a sujeira da rua
Para verem as crianças a brincar
Os namorados se beijando
Amigos saudosos chegando
Impessoais e solenes.
05-09-95
UM OLHO SÓ, MAS UM OLHO MÍOPE
Impropérios bradados até a morte
Amuos, quizilas praguejantes
Como o obsedar de um limiar tão
forte
Eclodindo em pávido errante
A estância de mais um bigorrilha
Transcorrendo em hora-luz a
pacovice
Tece sua capa de parvoíce
Esbraveja assaz, mas não brilha
Gargalha disparatado
Palerma que deveras se sabe
Maluco, paspalho, sandeu
Vulgo recompensado
Porquanto durar se gabe
Vence-lhe o que o não leu
15-09-95
LIQUEFAÇÃO
Rio. Dás águas ao mar profundo
Pro mar a quem rio um pouco descuidado
As minhas lágrimas são de mar e
rio
Poemas mortos que vão misturados
Os fluidos correm a minha vida
Dividida em sal e água cristalina
Repartida em arte e doce menina
Fulminando vapor e graça
entorpecida
Agora vem o resultado
De um banho sujo d’água e fel
ardente
Da arte vil em odisséias cerradas
Úmidas líricas vãs apaixonadas
Inundadas esperanças em imersão
crescente
Enquanto o ser respira afogado
25-09-13
HUMANIZAÇÃO
O homem é um ser pensante
As aspas indicam os
pensamentos
Reticências do esquecimento
Findam pensamentos incessantes
O homem é um ser humano
Projetado para servir a consciência
Valendo-se de ás rara competência
Para inadimplência e enganos
Ainda assim, humanidade
Sois vós a grande proporção
Da sabedoria ímpar do planeta
Que tudo contenta porque projeta
Efusão da divina autoridade
Ocupai-vos apenas com a vossa razão
29-09-95
PARA AGRADAR A NINGUÉM
“A mais bela carta de amor”, se disse
“A pessoa que no mundo mais amo”
O mundo, se não muito me engano
Farta-se de tal mesmice
“Amo você” todos dizem
Dizem e digam simplesmente
Só a ser um quê diferente
Não pensem, não sonhem, não visem
Livre de tanta crendice
Cansado da solenidade
Quero amar sem burrice
Bebendo da felicidade
Mirando beleza e meiguice
Servindo a sinceridade
03-10-95
SUBSERVIÊNCIA
Senhor, se meu amor me deixar
Espero, não por isso, voltar para
Ti
Que possível seja lembrar
Que nunca Te substituí
Se o não for possível, Senhor
Rogo-te aquém em tal retorno
Que Satanás, crendo-me morno
Recuse o meu dissabor
Mas Tu, Senhor meu, generoso
Não desprezes da rede pequenino
peixe
Que saltou do barco pra tornar
manhoso
Suplico, por fim, não Te queixes
Que agora de volta, Teu filho
teimoso
Roga-te que seu amor o não deixe
04-10-95
MAR D’AMOR
Energia pura do coração
Um olhar destruindo paredes de
concreto
No infinito poder da imaginação
A dizimação mental de cada objeto
Assim capaz se sente quem ama
E mais de energia necessita
Uma estrela extinta no espaço
inflama
Dissipa tudo o que não acredita
Maior do que este e qualquer
outro verso
Da configuração universal da
poesia
A mente suspendendo as pirâmides
do Egito
Transpassando o místico,
transpondo o infinito
Flerte contínuo com a fantasia
Num mar d’amor eterno submerso
19-10-95
ÚLTIMO KM DO LONGÍNQUO
Não à beira,
nem à orla, mas no fim
da praia do
mundo gigante
a praia que não
tem fim
enfim, cá estou
repousante
Onde a natureza
é cantante
a fadiga que
pesa em mim
jaz por não ser
importante
nada alhures e
afins
Memórias,
imagens, tudo é leve
Tomadas assim
por um vento lascivo
que assaz
alivia, por isso é breve
Tais os confins
deste mundo furtivo
creio que em
todo o mundo não deve
haver infinito
mais vivo
31-10-95
ONTEM EU
ESTAVA ALHEIO
Ontem eu estava
alheio
As horas
passavam sem medo
Nada causava
anseio
Como se
dormisse bem cedo
Hoje a
ansiedade não veio
Também, mas
estou muito mais
Disperso do dia
em que fui meio
Alheio à
algazarra e à paz
Amanhã minha
evasão será instável
Não penso nem
em estar vivo
Contenta-me o
presente maleável
Se eu fosse
perceptivo
Estaria achando
saudável
Este espírito
nada impulsivo
01-11-95
CINCO
MINUTOS DE SILÊNCIO
a um casual encontro na biblioteca (1-11)
Não querendo
esquecer-te resolvi
Figurar-te num
soneto
Que surge do
nada e chega tão perto
Assim como te
conheci
Imagem tênue,
aparência lírica
Imponente cria
da libertação
Emergindo em
meio a tanta dispersão
Definindo-se
concreta e onírica
Na
simplicidade, nada que me engane
No teu momento
eu ia sozinho
Em viagem eterna,
sem pane
O destino
abriu-me caminho
De saberes de
ti, Eliane,
Em memórias que
me vêm com carinho.
02-11-95
“SUPER E TENDÊNCIA”
(1ª Parte) -
SUPER
Se cultuo a
natureza sou romântico,
se minha língua
trava sou barroco,
árcade se
simplório for meu cântico,
se sou
libertador, então sou louco.
Cá ou acolá do
grande Atlântico
a manifestação
ocidental tem único foco
Mas não, não em
minha vida vazia
e nem nesta
poesia.
Não me venham
com pendências às tendências;
o implante
ímpio dessa atroz verdade
finda na
ascensão de vasta inadimplência.
A ilusão de ver
sobriedade
O descontrole
da mente
não abstém de
ser gente.
Talvez agora eu
seja realista,
ou talvez não
seja nada, na verdade.
De mim ao poema
um mundo dista;
do poema a mim,
uma cidade.
Meus sentidos
hão de ser futuristas,
mas só da
futura realidade.
Não o Futurismo, nem o Realismo:
o “Assinzismo”.
(2ª Parte) –
TENDÊNCIA
Se nasci pro Modernismo, rio.
Volto a ser
romântico s’ abraço o meu amor.
É real aquém apenas
o desafio
ao medo
irracional de não se opor.
Ser moderno por
prazer sadio
ou modernista,
rótulo a impor torpor
numa terra mãe
da ignorância
dar-se-á as
costas a toda relevância.
Desejo simples
e imoral de ser sincero
dentro e fora
das estúpidas margens.
Minha mente é o
planeta que eu quero,
dona de suas
próprias imagens,
mas perco a
autonomia quando libero,
numa espécie de
“transpassagem”,
meu esforço
brutal
em formato
universal.
31-10 e 02-11-95
TRANSGRESSÃO
No coloquial
padrão da língua
talvez me não
perdesse
o que
banalmente escrevesse
atestaria minha
idéia míngua
mas a estrofe
nascida
encheu-se de
formalidade
caindo por
terra a verdade
por ela nunca
conhecida
Ainda que os
tropicões,
as gafes e a
ignorância
esbofeteiem a Ilustre Gramática
não me abstenho
da prática,
nem desprezo
dos versos a infância,
pois figuram
minhas emoções.
06-11-95
SÓ BROTOU
UM SONETO
Algo que
brotasse do nada
Poderia surgir
agora
Quem dera fosse
uma aurora
Crescendo em
alvorada...
E que
constantes cantassem
Os pássaros e
nas flores
Emaranhando-se
também entre cores
Borboletas
coralinas pousassem
As simples
coisas notórias
Que a vida
automatiza
Acostumando as
visões cansadas
Emprestassem o
valor de sua glória
Que intelecto
algum visualiza
Quem dera
brotassem do nada
13-11-95
DERRUBANDO
O MITO
As minhas
verdades são mitos
Minha
personalidade se apega constantemente à pretensão
Vivo a fitar a
ilusão
E a achar
horrores bonitos
Horrores que
são iguais a mim
Vilões
propensos a serem sempre bandidos
Conceitos de
valores brutalmente enfraquecidos
Congenitamente
ruins
Sou o natural
Despido da
fantasia
Que às vezes
não sabe se confunde a arte
Todo orgulho é
banal
Toda jactância,
vazia
Não todo, nem
parte.
14-11-95
TRANSBORDA
D’ AMOR
À Lu C.
Transborda d’ amor
Minha essência inteira
De sua flecha certeira
Servi d’ alvo sem dor
Meu amor destinado
Vive eternamente
Se presente, se ausente
A ti está guardado
Embora não vejas
E às vezes duvides
É teu sem saída
Do semblante que beijas
No peito reside
Paixão por ti desmedida
16-11-95
JÁ
Agora que eu te
tenho, Luciene
Feliz como
alguém nunca esteve
Dou-te meu amor
mais solene
Que o receio
sempre conteve
Agora que és
minha, Cavazine
E te amo com
toda firmeza
Um amor que
ascende sublime
Tornando-te
minha princesa
Agora que os Santos se fundem
As nossas mãos
se enlaçam
E os nossos
sonhos se animam
Esses mares de
paz sempre inundem
Todos os nossos
dias que passam
E outros que se
aproximam
17-11-95
OS
MISTÉRIOS DA VIDA
1
Os mistérios da
vida não são
Sonetos que
rimam, amigos
Esconde enormes
perigos
Sua simples
revelação.
Esses mistérios
atrozes
Príncipes
gêmeos da verdade
Subsistem na
ambigüidade
Natural das
raças ferozes.
O maior
mistério do mundo
É viver e
morrer sob a liberdade
Sem a nunca ter
conhecido
Mistério em
abismo sem fundo
Entre futuro e
saudade
Que em todo
coração vai perdido
2
Os mistérios
nem mistérios são
Quem os busca,
as suas verdades nasce
Que importa que
a vida passe
Ouvindo sempre
o coração?
Coração, palco
dos mistérios
Pouco sérios e
certos da separação
Da alma sempre
livres de tanta ilusão
E do mal que
exala tantos impropérios.
As ciências vis
são do mundo a alma
Podre,
repulsivas criações da luta
Dos filhos maus
de Deus e dos que se esquecem
Por ventura,
Deus em Sua glória e calma
Que esmaga os
maus e só com o bem se exulta
Dá à alma as
leis que os mistérios tecem.
3
Sonhar o
tangível é de bem
A essência do
bem é a gratidão
A Deus, com
justa retidão
Que homem algum
não a tem.
Possui,
todavia, também
Os princípios
vitais da razão
Luzes da
decisão
Em ondas que
vão e vêm.
E mesmo com
tudo isso
Os homens são
engolidos
Pelos fúteis
mistérios da vida
Aos quais nem
são submissos
Cativam-se ali,
escondidos
Na alma que sem
saber se intimida.
4
A Fé vem
devagarzinho
Perde a
cadência e a rima
Ao nobre poeta
desanima
Seu bater de
coraçãozinho.
O Amor é a
beleza e o espinho
Não por ordem
de grandeza
Já que a Fé é
do Amor a certeza
E da Beleza, o
caminho.
O Sonho é a
Felicidade
Os muitos Nomes
são um
A Existência é
o Poder
Mesmo a
Realidade
Que aponta mistério
nenhum
Mascara-se para
o Viver...
21-11-95
OS ASTROS
NADA ARBITRAM
É linda a
maravilha do Universo
Que mesmo a
desprezar nossa tristeza
Acalma-nos com
sua beleza
Matéria do
espírito inverso
Os astros nada
arbitram
Não aos olhos
da Ciência
Não nos limites
tolos da vivência
Que mais no que
é vão acreditam
Mas essas
maravilhas não precisam
Da fé de
inferiores criações
Que ainda se
trombam e se pisam
Nem das
fatigáveis sensações
Que o luto do
Espaço não amenizam
Por fadarem-se
aos corações.
22-11-95
SFC
Clube de brio,
sempre valente
Esquadrão
zelado por muitas gerações
Peça da
história dos grandes campeões
Jóia para a
glória brilhar eternamente.
Com o nome traz
bênçãos e a proteção divina
No imo o amor
de todos os românticos
Tua aura de
esplendor como o sol sobre o Atlântico
É a estrada que
a paixão pelo esporte ensina
És o orgulho e
a alegria imensa
Não de alguns
poucos, mas de milhares
Que jamais te
abandonam desde a nascença
Respeito cativo
em todos os lugares
Desbravador da
vitória e da recompensa
SANTOS FUTEBOL CLUBE, entre poucos e
sem pares.
22-11-95
EM TREVAS
As trevas cobrem tudo
Vivemos sob agouro
A felicidade é um estouro
A perturbar o torpor mudo
Eu, descendente de Jó
Pó, pelo mesmo Deus
Vivendo como os ateus
Pedindo castigo maior
Pior do que o sofrimento
Das trevas de todo dia
É haver o merecimento
Melhor quem desafia
Qual Jó em seu grã-momento
Não buscou do sepulcro a apatia.
23-11-95
BRAVIOS À
PARTE
“Eu amo o Val
E você é um inútil!
‘Tá sofrendo, dane-se!
Não amas nem a ti.”
Isso é normal.
O amor é fútil.
Se quer amar,
ame-se
Ou ganhas isso
aí.
Este coração
Outrora te
ajudava
Hoje estamos
putos
‘Tá vendo,
bobão
Quem ‘cê mais
amava
Encheu-te de
insultos.
23-11-95
Ô GENTE!
Ô gente, se já
no Barroco era
A riqueza, do
ladrão,
Do trabalho a
exploração
E já se foram
tantas primaveras
A injustiça não
se abala
Com a teoria
dos fatos históricos
Sempre podem os
categóricos
Sempre o pobre
é o que mais rala
Ô gente, se é
da chibata
As largas
marcas em vosso dorso
Pelas migalhas
que a fome mal vos mata
Deus queira, cá
eu sempre torço
Que mais
tenhais da vida do que a fala ingrata:
“moço, dê uma esmola pr’eu comê um armoço”.
24-11-95
EM
BUSCA
DA
SOLIDÃO
“A pior solidão é a que clama por companhia”
FSS
Aos poucos fui me esquecendo
do imenso grau de parentesco da liberdade
com a Solidão.
“Buscai o
mar, buscai”
a alma diz
e eu retruco: “Calem
a boca aparelhos e sistemas”.
PARTE 1 – Eu
Sem buscar o mar, no mar cá estou
Em busca de algo perdido
A luva que caiu das mãos
Pra revelar as unhas pintadas;
pra não proteger
Tanta simbologia se caracteriza pela Solidão
e Ela não vem
(Não se indigna a seguir os homens mortais)
Queira ser-me
Eu te chamo, queira ser-me
Queira
Eu te chamo
Só vens tu, mar?
Permiti-la-á que te mande sempre?
Saltai de dentro de mim Solidão vil
Vinde jogar comigo
Esvai-se a vossa coragem ao ser o objeto
da procura, ao ser a caça?
Falando sério digo
Deveras
Surgi a quem vos deseja
Respeitai a quem vos conhece
e sabe que tendes limites
como qualquer limite
Basta!
Ou o teu nome não é Solidão?
Nasceste para ser o peso das almas
e esperas agora por alguma adulação?
Ah, era só o que lhe faltava; basta!
Tua existência não é nociva, perniciosa?
Não é fardo repulsivo
jamais preocupado em ser leve?
Basta!
Vou longe de precisar de você
Posso substituir qualquer presença
pelo meu pensamento
Ainda assim, os temas, o poema
Fadam-me a não lhe dispersar por inteiro
O nome é Solidão, algo como solidão
Não me soa estranho, nem distante
A vida ninguém entende,
por isso, não me corrijam
A vida é o vivente contra a sociedade
Não me corrija sociedade
Quero o abraço da liberdade
Quero viver em busca da Solidão
Para que ter amigos todos curiosos
muitas vezes intrometidos, querendo se porem em meu
lugar?
É patético alguém querer se pôr em algum lugar
que não é o seu lugar
como podem pessoas gostarem de pessoas,
não por serem pessoas, mas por lhe serem pessoas em
especial?
Qual a dessemelhança entre o amigo e o transeunte
d’apouco
Nenhuma para outro alheio
que baba também só por suas próprias preferências.
É inútil ser sociável
A sociedade são os outros
Entre ficar servindo a mentira
e partir na insana busca pelo pesadelo dos homens,
eu parto
ainda que nunca mais possa amar,
pois isso a solidão não permite
Ela acoberta o desejo, guia a loucura,
agora amar não aceitará nunca.
Eu queria jogar;
barganhar com os conceitos da realidade,
poderia ficar um tempo sozinho,
nos braços de alguém que talvez eu ame,
mas não para sempre.
Não da forma eterna que é a Solidão.
Buscar a Solidão é buscar a mim
Querê-la e querer-me por companhia
Só eu posso vê-la porque para mim ela está em todos os
lugares
Assim ela é quase minha
Dispomos de uma convivência íntima
Exercer os meus dons sobre ela é como gozar de extrema
loucura
Vê-la é exteriorizar-me
Buscá-la é o mesmo que lhe exorcizar
Agora eu estou só com a caneta
Eu e a Solidão
Eu, a Solidão e a Caneta seremos sempre solitários
perfeitos
Seremos como o big
bang
e a imparcialidade da Física
Agora eu quebro a caneta
e o que resta, possivelmente, é um nada
diferente do mundo que teve há pouco
uma caneta inteira quebrada,
de estrutura externa magnífica; inútil
Talvez por hora eu queira parar de escrever
e a Solidão,
não desta vez pude agarrá-la.
Parte II – TU
Sobre
as rochas mães dos abrolhos do mar,
o
mar imenso como o Pacífico,
um
mar deveras muito maior
nas
costas inteiras frias devido à brisa marítima
esperas
o brilho dos dias e o enigma das noites
És
um supersubmarino imerso em todas as
existências
Uma
grande individualidade suprindo uma grande dependência
Tua
figura representativa é de gênero único
Assim:

Souberas por minhas
mãos agir
Tu
me fizeras conhecer
Eu
que nunca fora de presença tranqüila
e
que nunca soubera o que ‘inda quereria
parecera
com tudo o que parecia simples
Exististe
tu para subverter a realidade
Uma
reflexão necessária para que se saiba,
como
se já não se soubesse
reconhecer-te
e contra-indicar-te.
Souberas
agir por todas as mãos,
mas
aquém do espaço a busca é minha
Tão
minha quanto os limites do poema;
mais
minha do que este...
Exclusiva
como a insanidade.
Peculiar.
Eu
acho que estou ficando louco
Creio
que enlouqueço bem às minhas vistas
Não
que eu, aquele sôfrego obreiro, tenha mudado; não
Ainda
é o mesmo
Ainda
sou eu mesmo
Ainda
marcho pelas ruas paralelas às avenidas
Ainda
fecho os olhos ao só correr pela praia deserta
Cultivo
uma simpatia, que é mútua, pelos cães das ruas
Especialmente
os vira-latas
que
têm a bondade, a simplicidade e a inocência
Invejo
terminantemente os velhinhos
que
jogam cartas nos bancos das praças esquecidas pelos namorados.
Todos
estes meus impulsos ainda são naturais
Tirem-me
isso e o que resta é um louco
Bloqueado
por pensamentos
de
traição, de tristeza, arrogância,
ciúme,
prepotência, força...
Força.
Sim,
eu sou um super-herói
andando
a passos largos pela rua como se voasse
A
minha identidade ainda mais secreta é que se faz de um vilão,
o
mais poderoso
Assim,
o meu intuito é o de estuprar uma adolescente
que
não me ame, mas que venha a me amar depois
Todas
essas coisas se amontoam
e
se empilham sobre mim como destroços
Fico
como pessoas soterradas em um elevador
de
um prédio que desmoronou
Tenho
grandes instantes de pensamentos
voltados
para maldades e orgias
Quando
viram ações, estes pensamentos
crescem
a minha impressão de estar enlouquecendo,
trocando
as neuroses pela Psicose
Dane-se
O
que me importa é encontrar a certa Solidão;
daí,
não faz mal se eu enlouquecer sozinho,
sem
amores, sem valores, sem nada;
sem
as coisas as quais é impossível viver sem.
Se
possível, chutarei até a Solidão após a encontrar,
para
que reste só eu,
um
vácuo maior do que o espaço;
um
espaço maior do que o vácuo do espaço.
Meus
pensamentos às vezes viajam por várias dimensões,
embora
sua realidade atual seja quase sempre a estupidez
de
almejarem algo cujo perfil desconhecem
Dane-se!
Danem-se!
De
cara feia já basta a minha
De
choramingos já me bastam os meus
Basta
de existências que surgiram com palavrões
Para
alem de te tocar, Solidão,
ser-te-ei
Buscar
a solidão é como domar leões
A
morte são leões indomáveis
Chega!
Chega! Parem com tudo isso
Saiam,
saiam todos do meu pé
Leiam
isto depressa, mas não visualizem o que digo.
Bah!
Alguém aí pensa que gosta de mim?
Hei!
Hei! Você aí acha que gosta de mim?
Sai
dessa! Está enganado. Não gosta, só pensa que sim.
Nada
tenho que cative a sua simpatia
Se
tenho, não intenciono ter
Estou
sendo propositadamente rude
Estejam
“se lixando” para mim.
Solidão,
solidão amiga
Pensas
que gosto de ti?
Livrei-me
do ridículo dos homens;
Tampouco
me quero prender ao grotesco dos símbolos
Não
és nada
Os
homens não são nada
Eu
sou nada
Eu
que te tenho, Solidão, não o contrário
Meu
silêncio é um acorde sombrio, mas belo e limpo
até
a distorção
não
gosto de ninguém, Solidão, de ti muito menos
És
a porcaria que encanta e lambuza a coragem dos homens
Eu
sou um homem
porcalhão
da
Solidão.
Moro
numa casa que só tem a entrada de serviço
A
minha casa é a rua
A
minha rua é o espaço
O
meu espaço é Deus...
A
esta altura, já com o bilhete azul entregue à namorada,
tu
és a minha namorada
a
única que vale à pena
Tardiamente concluí
que não vale à pena querer que as coisas valham
à
pena
Elas
não o valerão
As
coisas são coisas de vontade própria
A
vontade das coisas, (mesmo das inanimadas),
é
a vontade de quem rege o Universo
Só
vale à pena saber que nada vale à pena
e
trair-te, minha amada Solidão,
com
a Esperança.
Servir-me-ia
ter tantas mulheres
estando
a amar-te avassaladoramente dentro de mim?
Só
mais uma vez, “dane-se a minha loucura”
É
a minha vida.
Minha.
Quem
a vive sou eu.
Quem
prestará contas também
Devo
deixar, então, que me façam achar o que quero,
que
quero estar a desejar
o
querer a morte?
Quero
a morte de todas as presenças inconvenientes
e
só.
Nada
mais quero, nada.
A
Solidão? Nem isso
pois esse é um nome que eu posso forjar.
Parte III – NÓS
Do
sujeito ao objeto
Aqui
já se pode verter em oblíquo
Perco
minh’alma, meu corpo, meu espírito
ou
deixo apenas de ser pessoa
mas
não deixo de conviver com o mesmo lixo
ao
qual convivem as pessoas.
As
pessoas pensam que têm pena de mim
Todas
as pessoas que dizem amar-me o dizem
pensarem
ter pena de mim
e
eu, do fundo do meu coração, gosto que pensem
Vamos,
tenham todos pena do Fabiano
Babem
no meu saco por causa do que vêem
com
olhares hipócritas repletos de orgulho
Eu
sou assim e assim vivo e sobrevivo
Poderei
ser assim para sempre; está ótimo!
O
que vos sempre adiantou chorar baixinho?
Se
eu chorasse, choraria para que todos vissem
e
ninguém soubesse que chorava apenas por ser
um
momento de chorar
Sem
emoções. Por que as ter?
Chorar
para dar vida ao símbolo que é o choro
Fazer
existir lágrimas que são sempre apenas lágrimas
Tudo
é apenas tudo.
Tudo
também é nada
além
de ser o que é.
O
Talento pode ser qualquer coisa
mas
é apenas indomável
eterno
especialista em driblar as palavras
Estou
farto das declarações de amor e desamor
Estou
cansado de enxergar dois mundos para uma sobrevivência
Estou
cansado deste cansaço que não precede o sono.
Meus
momentos de solidão estão neste poema
Vagam
nestes versos como vagavam em minh’essência
Uma
relação estreita entre o homem e a arte
Homem,
arte, ilusão; uma troca justa
Sim,
não tateei a matéria da solidão como os átomos
Do
átomo às células vai sua anti-matéria
e
os dias, as chuvas, os acontecimentos da vida humana
não
entram nessa redoma
As
alheias emoções e suas crias também não.
Agora
eu as trago de volta.
Por
favor, amigos,
leiam
esta poesia e tenham pena de mim...
(sem data)
FIM
“Num mundo
hipócrita, o mais louvável é saber o ser humildemente.”

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