FABIANO SANTOS SOUSA
O EXTERMÍNIO DOS ENFERMOS
“As
aspas são o nascimento e a morte”
Para
meu filho, o grande defensor
DIA
(Um)
Acordei com os meus olhos num
qualquer dia
Minha mente ainda dormia
despreocupada
Faz tão bem um soneto a quem
dormia
A alongar musculaturas
descompassadas
Talvez o sono que me tira a
Estrada
Seja um verme ou vírus das
ilusões dos dias
Das inevitáveis paradas dramatizadas
E do condicional desequilíbrio da
poesia
Sim, a verdade dura iluminada
Dura mais porque vibra e irradia
E se morre de amores, morre
errada
Minha mente acordou com a
fantasia
Eu espero manter a ambas animadas
Se não podem competir com alegria
(Dois)
Nos embalos dos ventos de Milton
Nascimento
Nos pesados passos da irmã Preguiça
Assisto os dias da semana
copularem
Os galos cantarem enquanto ainda
é cedo
Uma sombra branca acolhe os raios
vis
Da estrela enlameada que os
pântanos aquece
Estes raios filtrados pela sombra
musa
Vertem-se em lodo sobre a minha
carcaça
Nos princípios passados de um tal
Jesus
Que com sua Cruz enfeitiçou as
pedras
Que se libertaram para o Seu
abismo
Lá descubro quem é o meu algoz
Uma sombra clara e de inevitável
risco
Vigia-me sempre e seu nome é
Morte.
“EXACTAMENTE
ISSO”
Longe da hipocrisia eu me escondo
Junto aos olhares que querem ver
o Oposto
Paralelo contente os Extremos
Alegro-me simbolicamente
Ser Original é ser Hipócrita
Choro rangendo os dentes
Sou o tornado que rodopia
(exactamente isso!)
Não sinto a minha vida do outro
lado da T.V.
OUT
Amor, amor, por que você existe?
Amargo amor, de onde você vem?
Não me quer sozinho, nem com
ninguém
Não me faz feliz, mas sempre
triste.
Notável amor, por que você
insiste
em habitar-me o peito e me fazer
refém,
causar sofrimento me querendo
bem?
Sempre me estimula, nunca me
assiste.
Cruel amor, por que tu não
desistes
rendendo-te a medos que a valer
não tens?
Eu sou a flor azul que jamais
pediste
Amável amor, senhor de todo
aquém,
senhor de tudo aquilo que me
redigiste,
voraz, tu devoraste todo o meu
desdém.
IMPACIÊNCIA
Antes, o pegar a caneta era fato
E era ato, sim de fato
Hoje, se até para pegá-la eu tardo
Ele é fardo
Preciso escrever, mas perdi meu
tato
Calcei nas mãos ostentosos
sapatos
Espero o talento só ter saído
E o meu orgulho encolhido.
CARTAS
Os ferimentos são mortais
Pensamentos em cadência com dores
de cabeça
Ao final de tudo, sombra e música
Rompendo cegueira com existência
A alegria é feroz
Os rostos, as sombras e barulho
de sinos
Evidências de noite e de dia
Mesas vazias.
De aço e de desejo
Os íntimos mais treinados
Impiedosos soldados;
Balas e beijos.
Mais balas do que beijos
Mais armas do que medo
Princípios insanos
Dos longos anos humanos.
MEDO
Medo de morrer
Medo de morrer
Medo de morrer
Medo, medo, medo
Medo de morrer
Medo de
Morrer de
Medo de morrer de
Medo
DE MORRER DE MEDO
de morrer, morrer, morrer de medo
Medo de viver
MEDO...
MORRER...
Morrer de viver
Morrer
De viver de medo
de morrer de viver de medo
de persuadir
por medo das expressões desafiadoras
Sem medo
Eu te trouxe Deus...
Medo de Deus
Medo de morrer
de medo de viver de Deus
Medo de viver de rostos
E reles crenças
de morrer de Deus.
Expressões tentadoras
Desafiadoras
A esfinge do medo
Aquele que não se teme
Aquele que não morre nem vive
de Deus
Medo de errar
e do deus Medo.
RESTOS
DE UM ROSTO
Santos Sousa está fraco e calado
Precisa de idéias; debilitado
Tão bocó o coitado!
Sentado, com o rádio e a
televisão ao lado,
ligados
não nas notícias, mas no passado.
Pobre amigo Sousa, coitado!
Tão infeliz, desolado
O peito apertado
por não mais saber o enunciado
do hino que outrora tivera
cantado
Bebe seu chá por demais gelado,
come sua pizza de “topping” estragado
Olha atônito, papel embolorado
e abusa do Particípio Passado
em versos que pecam, mas são
rimados.
PREGUIÇOSO
Que sono!
Que pressão e ainda o peso
para as pálpebras dos olhos
descerem
Estes olhos que perderam a
curiosidade
fatigados sempre pelo esgotamento
do tênue espírito
hoje arriam
e tropeçam nas ideologias
pedantes
da vida com disposição.
ANÔNIMA
Ah, mulheres com caras de santa e
putas de vidro...!
Desequilíbrios, mas não sem
arrogância
Todas as bocetas são iguais
Todos os clitóris são assaz
vaidosos
As Mulheres, a América, a Europa,
é tudo o mesmo tédio.
DE
REPENTE
Tenho comido e repetido os
excrementos de meu passado
Tenho feito para o mundo um pódio
de meus sentimentos
Tenho dormido pouco, comido mal e
muito expirado
Tenho deglutido os tremores que
geram meus tormentos
Tenho pouca fé, pouca esperança e
tenho covardia
Tenho meu tesouro e não o sei
polir
Tenho a felicidade e quero
desistir
Tenho um só futuro e quero o
dia-a-dia
Tenho o meu amor que me cobre e
consola
Mas se não me consola, sinto
realmente o frio
O que se irá dizer da aura
iluminada?
Tenho a força de meu pai e a
forca de meu tio
Tenho a barca inanimada que me
desatola
Tenho um filho e uma esposa que
ainda é namorada
PALAVRA
Assombroso poder o da palavra
humana
Que conduz a mentira ao Pai com
gana
Barganha astuta de lábia ufana
Acaba infeliz porque O não engana
“Quanto trabalho!” – a tal proclama
Justa semente plantada na lama
Nascida do léu, vira réu, reclama
Desfalecer na terra e não na cama
Gloriosamente impura, pura
lusitana
Ferrenha comigo ostentosa dama
Da-se amor a quem muito ama
Palavra que não cria; clama
Humanidade que não inspira; trama
Luz que não brilha; flama...
CLAREZA
O extermínio dos enfermos é a
superação
das doenças sociais incorporadas
do DNA e das psiques manipuladas
da massa maquinal da submissão
É a vitória antes da conquista
são os últimos suspiros após a
morte
a intolerância com a dúvida e com
a banal sorte
É a realidade concreta e otimista
Não saiamos perseguindo moribundos
que assim o são porque não se
conhecem
mas nós também não nos conhecemos
As enfermidades são como o mundo
porfiam sobre os que padecem
em nossos próprios horrores nos
perdemos.
ABRACE
O SEU LIMITE
Abrace o seu limite
seu limite teu
aprenda que o limite é o pai do
teu medo
respeita-o que é parte de ti
mas não seja o bastante para
malograr-te
autoridades não rimam
são apenas esquecidas sombras num
caos contínuo
sobram quais valores entre vida e
morte?
Abra teus olhos, mira-te
Os valores são reis que não
servem o Comércio
Agora tu sabes que és teu rei
Livre, pois, teu medo, teu limite
é teu: teme e limita-se como a ti
incorporados, cegos, mas felizes
MANIFESTO
I
As
pessoas não sabem aprender com os seus erros. Não lhes guia em nada o
sofrimento. Quanto mais sofrem, mais amargas se tornam. A violência que vêem,
rapidamente incorporam. A justiça que as derruba é o que mais cavalgam.
Esta
é a terra desgovernada onde a paz acalenta os cemitérios e nasce sempre a
alegria sem raízes.
II
Quando
o véu do pecado se abrir e o coração, uma única vez enfim for sincero, eis que
haverá uma guerra onde fortes serão os que se sabem fracos e ao findar do
embate os humildes não serão mais alvo.
É
horrível ser alvo!
Dá-nos
a sensação de sermos impuros, quando, na verdade, somos reis.
A
MORTE DA PRINCESA
Quando morrem os símbolos ficam
as dúvidas
E volta a humanidade aos seus
questionamentos primitivos
A Lei é sublime e acessível
Sonhos é que são débeis
divindades
Cortejando tudo o que sibila
Desejando contemplar além do
horizonte
Os homens preservam o que ainda
há de pueril
As lágrimas são um prêmio ao
sentimento do mundo
SUPER
Da simplicidade como da doença
Os fatos, as notas que aparecem e
desaparecem
O insistente significado de tudo
pra tudo
Da vida como da dieta
Felizes e infelizes no
inconsciente mortal
A sabedoria é uma coisa que se
pode jogar fora.
Do escuro à poesia
Que o cansaço voraz não vê
Mente e libido se distorcem
Até chegarem raios neutros de uma
estrela
Definham Heróis e heroína
Ser meu próprio herói...
O poder das máquinas que pulsam
Jogos convenientes, sutilezas
O que é, então, ser herói?
O que eu puder e o que eu quiser...
OLHARES
BURROS
Pra que lado posam os heliantos?
Não têm olhos, nem olhares burros
Só têm fúria; são diamantes
E é melhor permanecerem mudos
De onde vem tanta ignorância,
em grandes fragatas, mas
inseguras
Deixam estupidez e náusea
nas mentes jacentes do mundo
Com demérito chegam de
helicóptero
Guerreiros fracalhões, parvos
portentosos
Sua curra é o que entontece os
girassóis
e a comiseração é o que resta
EUTANÁSIA
Não há assassínios de ações e de
momentos
Eutanásia de sentimentos
Como há perda de vozes não há de
lamentos
Eutanásia de sentimentos
A comida difere dos alimentos
Eutanásia de sentimentos
Levita-se a verdade como pó os
ventos?
Eutanásia de sentimentos
Ora, se apodrecem as frutas,
as ribeiras secam,
a chuva a água suja,
quando à força, à beleza
concede-se do vigor as asas,
enfim, eutanásias.
O
BEIJO (1)
É lícito sonhar com o beijo
proibido
Devanear sob o abraço repleto de
desejo
A memória é um trem que vaga em
círculos
Está a linha da vida sobre as
nuvens
É lúcido alimentar outras
frustrações
Acordar tendo à boca o gosto doce
Lavar o rosto sob o perfume
surreal
Perdendo várias horas com isso?
Sincero é irromper até as portas
da proibição
Unir num beijo vibrante eterno
Gerar filhos de lamúrias
Alar o desejo e descê-lo do
expresso
Fitar apenas sentimentos
autênticos
Tão autênticos quanto este
soneto.
O
BEIJO (2)
Acordei com um beijo teu e era
sonho
Presente da visita do deus Sono
Anseio, por conseguinte, pelo seu
retorno
Na luz este teu beijo estava
morno.
DOGMA
Parti daqui sem segundo aviso
Tomai certeza do que fizeste
Vereis frutos como resposta
Vede e fugi com os vossos olhos
ambíguos
Descobri certamente a verdade
Para que vos orgulheis disso
Não da verdade, mas o sabê-la
Ou não voltai se não
compreenderdes.
FISSURAS
Ela se atirou nas pedras que
atraiam
Sabendo que poucos lá seu corpo encontrariam
Um teste a todo amor que mereceu
No mínimo, mas certamente eu
Encontrei-a e tenho agora também
que descer
Para buscá-la ou, outrossim,
morrer
É difícil aceitar conclusões que
os fins das coisas geram
Mesmo as que não se viveram
Atirou-se nas pedras que a traiam
De lá su’ essência jamais trariam
HERÓI
Brilha um homem como um sol
Um efeito só em máxima energia
Palavra de herói em um paiol
Vem poder, mas sem alegria
Alguém explodindo sem estilhaços
Corrosivas lágrimas sobre o ácido
De um homem que não tem medo
E sim sangue nos dedos
Transpira ele agora luz
Espanta insetos arrogantes
Em estado que só ao seu próprio
ser faz jus
E bebe ácidos refrigerantes
É este homem um humano
São seus poderes, insanos
Destruidores da realidade
Impostores da felicidade
Deve um dia, nunca precisar
Ainda assim, pode até matar.
LOUVOR
Em homenagem a ninguém,
esqueci-me de mim
Não devo ser alguém que
homenagens mereça, (mas dane-se)
O que infecto de palavras e
idéias me deixam
deixem-me como me deixa o
catarro:
se não limpo, hipocritamente
sociável.
SURGIMENTO
Vou ao encontro dos meus sonhos
Esta noite tão bela
Trouxe e tão real
O semblante alternativo de um
futuro
Eu sei, eu sei, Freud e a velha
teoria do Id
Este prédio lindo, olhe amor,
como ele é lindo!
Uma escada para o céu feita com
fogo e com neve
Aí eu queria morar contigo
Atente que maravilha, amor
Nossa casa no limite dos céus
Linda! Exuberante!
Não o limo e o bolor da madeira
úmida
Que podre vai-se rompendo
Sou sonhador, culpado como o são
todos os sonhadores
Não pare, não podemos perder as
imagens
O living, a música suave se propagando
O mar, amor, olhe como está aquém
Molhando os pés de nossa doce prisão
Vai alta a noite e estamos na
praia
A passear; vamos, dê-me tua mão
Hoje é domingo?
Se não for passeamos após as
aulas
Depois voltamos num salto ao
nosso cantinho
Já contamos estrelas, nos
beijamos na boca, trocamos o abraço
Vamos dormir e eu implodir o
nosso prédio
O prédio lindo
O prelúdio de um monte válido de
felicidade
Tanto sonho vão
Se tua vida não partilhares
comigo
O sossego é a nossa estratosfera
A tua ressonância é a minha
música
Paredes embriagadas com teu
perfume são o meu castelo
O teu amor são as muralhas que
ninguém tomba
TAL
HIPOCRISIA, APATIA, COMISERAÇÃO, INTOLERÂNCIA, PREPOTÊNCIA.
HIPOCRISIA, APATIA, COMISERAÇÃO, INTOLERÂNCIA.
HIPOCRISIA, APATIA, COMISERAÇÃO.
HIPOCRISIA, APATIA.
HIPOCRISIA.
LIBERDADE!
SOB
MEDIDA
Jesus
era muito autoritário
mas
se esqueceu de dizer
Ele
é Rei como o Pai O quis Rei
As
trombetas dos anjos são zumbidos diante da sua voz
Os
tremores de terra nada são perante os seus passos
Ele
era egocêntrico e déspota como todo rei que se preza
mas
se esqueceu de dizer
Move-se
ao comando do Criador, pois é o braço direito de Deus
Não
teme perder autoridade, pois Satanás nada é
Seu
reinado não há de ter oponente digno
Ele
é o eterno dono da autoridade
Esqueceu-se
de nos dizer isso
Assim
permaneceu sábio por toda Eternidade
pois
O Pai conhece até as sustâncias
que
lhe vão para o braço.
CURSO
Fazer amor
Energias que vêm e vão em ações
inebriantes
Os suores ficam doces como o mel
Os corpos fazendo sua própria
fotossíntese
DIVAGAÇÃO
Quem sabe um dia estes versos
sejam interpretados
por grupos de acadêmicos
interessados pela palavra
ou sejam esquecidos em estantes
empoeiradas de bibliotecas
ou todos fiquem num só quarto
o papel velho oxidado
que não ruma para o lixo
enquanto eu vivo.
ADIANTE
Esfrega em minha cara teu sexo
Desprezas ser objeto
Adoras ser o indigesto
Toca tua língua em meu plexo
Depreciar é a palavra de ação
Não mais alusão
Oferta-me teu seio imoral
Formulaste-o sempre teu mal
Difere de tudo o mal?
O mal está em tudo, ou tudo está
mal?
INSTANTE
Do topo dança nua
para o olho da rua
desinibida e desmedida
gradualmente despida
podendo pouco ser vista
dando toda a pista
sem efeito seduz
a sonhar com a luz
e quando rua me viu
celebrou e fugiu.
MAIS
UMA
Estudar doutrinas de um deus
Para ler as linhas da vida
Existência, essência compreendida
Praguejar o não mais ser ateu
Conhecer as hostes, potências,
virtudes
Contemplar o trono do Sol e as
estrelas
Um indecifrável símbolo a que
tudo mude
E achar horrível os arquétipos da
coisa bela
Uma certeza tamanha é
Que nunca nos abandona
Nos lampejos de dúvidas e fé
É perfeito e só o que Deus
sanciona
Fazer o que a natureza quer
Nada mais funciona.
REALIDADE
Por Philip
Lux
Há os pais da dúvida e o Pai, sem
dúvida!
Há a percepção, a formulação e há a
palavra
Havendo a palavra há tudo
E havendo tudo, há a dúvida
O
SOL
por Philip
Lux
O
Sol expira Luz
A
harmonia acolhe tudo o que nasce
A
luz cai na Terra e sonha
Todos
os sonhos se consistem
Da
consistência, a vitalidade
Mundos
outros nascem
O
Sol inspira sua sombra
E
permanece sempre sorrindo
Nenhum comentário:
Postar um comentário