terça-feira, 16 de outubro de 2018

TRANSIÇÕES ANÁLOGAS E PARADOXAIS - 2011


FABIANO SANTOS SOUSA












TRANSIÇÕES
       
     ANÁLOGAS
       
           E

   PARADOXAIS



POEMAS

2008/2011






OU









OOOX













































aos meus filhos, Lara, Leo e Ale
_______________
____________
_________
_____
___
_






SINESTESIA


Piretrinas e piretróides
fenômenos da química
faustosos sons sem melodia
a hilaridade e a agonia

se na verdade vísseis que o vosso mundo
é o mundo dos insetos
saudaríeis todos os sons sem fobia
e a ciência o consagraria

os homens todos seriam doutores da Ciência
dos insetos seriam os cientistas
guiando deuses à harmonia
respeito, em suma, a fisionomia

09-12-2009














 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



TEU MOMENTO


Enquanto passa o tempo de tudo o que eu tenho
tudo eu trocaria por tempo
todo o tempo te daria
pois fazes parar meu tempo
e eterno eu seria

Sendo algo que rompe o instante,
meu escudo de esperança,
meu declínio sem sinal, descontrole perfeito
saltando à vista e ao vento
o teu poder cintilante de gerar poesia
Não sei o que é, amor, mas atento
que jamais poderá ser menor ou pouco
não há como ser, chegar,caber
sem medir com o tempo, conceber
e não sendo amor, amor, não é menos
23-01-2008























 

 

 

 

 



ESPONTÂNEA


Do teu perfume, um jardim imenso
propagou-se dentro de mim
e no meio dele teu olhar de brilhantes
cravou-se, tesouro sem fim
chamei de teu amor o tesouro
nasceu, então o sol do teu sorriso
e o céu de teus lábios abriu-se
meu próprio jardim-paraíso

23/01/2008





































QUASE SIMPLES


Ah, como poderia dizer-te tudo o que sinto
sem invadir furtivamente o teu mundo
sem iluminar o teu abismo?
Que honraria é coragem onde a guerra é um mito?
Não é vencer sem lutar sua arte?*

O que eu sinto por ti é o segredo

A própria fronteira do infinito
secionar a distância é encurtá-la
e multiplicá-la

Figurar é deixar de sentir
Descrever é induzir

De ti me vem a inspiração,
mas sem a plausível tradução
e só se de tudo o que eu não pudesse te dissesse,
verdadeiramente pleno seria

24/01/08



*(Sun Tzu – “A arte da guerra”)























SOBRE MINHAS ESPERANÇAS MOVEM-SE TEUS PÉS



Sobre minhas esperanças movem-se os teus pés
Sempre te encontro onde te busco, embora não sejas sempre a mesma
Reconheço, sentindo, teu fluxo e endereço
Sob teus pés, cristalinos, meus sentidos te refletem

Quis dar-te singela fina cena descritiva
‘inda que a alusão extrapolasse nossa Física
lidando e sabendo que com valente mero subterfúgio
pois o que sei é simples, a verdade é simples

A verdade é um véu soberano ao vento
Sobre minha memória procede tua lembrança
Que ainda que me parasse o coração, conservaria o sorriso

E só assim te vejo em verso e música
Tanto mais te desejo autônomo da virtude
E se estiveras alheia, eis-me...

25,26 e 27/01/2008




























CICLO DA VIDA



Perfilados e tristes ao imo de um vão
meus versos vão
ecoar em vão

e o afã que me resta reparte o pão
com a solidão
da alienação

do cansar calado irrompe inanição
prima lassidão
murcha o coração

vem o Amor e à dança me arrasta pela mão
já sem solução
ia dizer não

quando arrebatado sinto sua canção
nos versos e no refrão
os ecos estão

09-09-2008


























CERTEZA



No régio e abissal paço da Beleza
com a chuva colorindo o pano da existência
reluz a alma de tudo em uma só essência
do sopro lírico de Deus vem a Natureza

Ou se o céu fulgurar numa aurora acesa
ofuscando a face austera da Ciência
aprazível a um singelo olhar de sapiência
que a compreender transcende em grata surpresa

Há um tênue véu sobre qualquer certeza
Algoz da ignorância, pai da inocência
Matéria da dúvida e da clareza

no tangir dos sonhos  fere a intransigência
tal pão a poesia em postas sobre a mesa
a nutrir nossas simples e sensíveis tendências

21/09/2008




























SINESTESIA II



Com freqüência não está
meu estado de espírito
por vezes vem como uma nuvem
nublando os ares que me rodeiam
ou como uma festa
impulsionando o ânimo
com luzes, cores e musicalidade
ou como uma bomba
propagando impassivelmente
dores e rancores

Não importa o quanto de mim não exista
meu proporcional vácuo, minha antimatéria
tudo eu sinto
em vários surtos de emoção revolvo
pressinto a ausência
o seu merecimento
a ordem, a energia
tentando lidar com a inexistência
perseguindo o tempo em seu infinito
mas em algum lugar-nenhum como substância
vagueio
nos caminhos do passado presente futuro

01/10/2008






















ANDEJO


Pela manhã despertei com um grito
quis, mas não pude saber de onde vinha
se de longe, ou de perto, ou de nunca
tão alto quanto suplicante

Passei todo o dia procurando
e sei que muitas coisas descobri
mas a noite impaciente foi chegando
e o vento foi levando o que perdi

É. Algumas vezes eu pensei em desistir
esquecer de tudo, cada porção do dia
se o encontrasse, talvez nunca compreendesse aquele grito
o que há é um instinto escravo de um apelo?

Verdadeiramente, para onde vão os gritos?
Além de onde os olhares se extinguem se distinguem
em forma de ecos a madrugada trouxe
de volta ao meu quarto meu próprio grito




























EXEQÜÍVEL


Reconheci-me
ainda que meio morto em minhas evasivas
de etérea forma no “way of life”
e invólucro fosco adquirido

Na surpresa sem saudosismo
e no pulso do impulso me encaminho
rumo ao inatingível
contra o intangível

Sei, morri um pouco a cada espaço entre os minutos
concentro agora em meus punhos
o fluido da vida de encontro a toda negação absoluta
ressurjo mais jovem do que o vício
menos incisivo
simples e digno
a pronto serviço

17/08/09




























RESÍDUOS


As vozes que o silêncio traz
entre os sussurros do vento e os contornos
que figuram as árvores em suas copas
a altiva expressão das flores
em suas cores
o ondular inebriante dos lagos tranqüilos
distorcendo o reflexo, reverberando o espírito
peças tantas de mim
entre as partes todas que atino
a contemplação de um segredo
que a questionar os anos não se atreveram...

Mas nem só de resíduos sob os pés me insiro
ou refuto em abrir alas ao deus do impossível
deixa-me cada distração livre divertido
e ter-me cada percalço aquém mais destemido

21-08-09





























SINESTESIA III


Quisera, de súbito e impetuosamente,
meu abismo louco devorar tua figura
preencheu-se-lhe, armadilha inesperada
extrapolou cada item de matéria
teus sons e teus detalhes sitiaram-me a memória
tu, diva visual
eu, reles homem sinestésico
apercebemo-nos instrumentos de saudação à vida

21-08-09





































FARSISTA


Perigosos fluxos eqüidistantes
de valentia e indecisão
nos andares primeiros do céu
os impulsivos incitarão

E por dizer a verdade
entornará dúbio valor
o conceito humilde e sereno
real até onde for

mas tal como a fé
a concepção do amor, o conhecimento
prezam e prima de novos andares

também o advento
injustificável, insubstituível
a vocação dos Ava tares






























DIZER E OUVIR


Só quando findei por dizer tudo o que eu quis
conjecturei o que eu não disse
e era muito mais sincero
e mais simples
e perfeito

Será, entretanto, doravante, perdido
Houve seu momento propício
Ouve! Só o que eu disse...
Terá sido assim todo o sempre?
Omissão constante de tudo, sempre
De tudo, nada eu disse
então, o que disse?

É o que não está
Revela mas não contém
Transcendência divina
Amém

09-04-09



























SEGUNDO DE ABRIL


Envolto, embrenhado nas perguntas e respostas
quase é possível distinguir o colapso
aceitar seu abraço
chamá-lo Futuro
Vou a qualquer canto com meu porto seguro
As perguntas me dão medo
Respostas não uso
Extraio do colapso um ponto fixo
Nexo que unifique presente-futuro
Emirjo, de súbito, com porto, com tudo
e tudo é turvo
agonias novas
rumo ao fim sem indagações

Ressurjo e já miro quiçá mais nítido
que do que necessito é o que quero
pelo receio contido

02/04/09




























BIG BANG


D’um vago estar estranhamente firme
até um ímpeto sutil de júbilo e plenitude
Dos misteriosos tesouros da beleza surges
e tão sólidos quanto possível
trepidam os alicerces de todos os desejos










































ODE CONTÍNUA


A crisálida rompesse
lutando pela utopia
esgueirando-se nas conspirações do mundo
algo novo nasceria

Estranho a princípio
quase invisível
como um sol translúcido
sem ardor terrível

De verdade latente
Por que não um deus?
Da fôrma da mente
direto aos seus

Tudo não elucidasse
mas não mentisse
o excesso apartasse
sem razão sorrisse

A autoridade de exercer
a capacidade de sonhar
a justiça sempre
o prazer de confiar























LEVANTE


Não escrevo para julgar o valor das coisas
Nem para valorizar o que escrevo
Escrevo para valer
Coisas sem valor
Expressões que mudam
Máscaras para o baile do mundo
Escrevo espontaneamente
Mais do que sorrio







































LEVANTE II


Desbravando sombras almejo infernos
Em geral a beleza tateio e a lascívia esmiúço
O horror desprezo
A bondade não vejo
Tive tudo quase sem aviso
Também o medo do tanto que me disse respeito
Um relativo convívio com os meus juízos
E possivelmente até uma certa ajuda do invisível

Cruel e intolerante com o destino
Comprimindo assim os atos contínuos
Não me atina a graça do Paraíso
E nada supervalorizo
É só mais uma análise morta de meu tempo
Eu, fútil possessivo
Rumando ao infinito ausente de motivos

04-09-09





























BENEFÍCIO


Saudade pungente de ti me agride
do fundo de minhas razões perdidas
com tênue e vã esperança colide
a propelir-me estilhaços por toda a vida
ânsia e desejo que veloz me incide
vê com saudade paixão tal nutrida
há que se amar ser a arte mais plena
todo pouco de ti ainda assim vale a pena

D’encontro à saudade indelével lembrança
lampejos efêmeros de mágicos instantes
transposta razão o que real alcança
tendo trás loucura e amor adiante?
Da coragem farto que ampara as crianças
por fitar pasmo fulgor radiante
s’inexitência traz vida e totalidade envenena
todo pouco de ti ‘inda assim vale a pena

aqui foco outro de saudade, tristeza
faz-se ausência vácuo de suplício e frio
detentor pretenso de enérgica beleza
porta sim fardo pesado e deveras vazio
tecidas como que somente de incerteza
vestes frágeis para conter inverno bravio
como palco ao ator e ao gladiador arena
pouco de ti ainda vale a pena

Valerá mesmo a pena tão breve lampejo
em jogo horas longas no ermo das noites e dos dias
sem contato, sem toque, sem calor, só desejo
um “big bang” no peito a propelir poesia
e o afã pelo flerte que desperte um beijo
que a esperança pouca loucamente ampliaria?
Eis que plena, enfim, a felicidade me acena
Todo pouco de ti, oh sim, vale a pena

04-09-09









UNKNOWN


Pálido e alicaído cambaleando ia
impressão deixava de olhar que não via
e o que via vir de longe parecia
amenista, lentamente se movia
como seu destino
de razão inexplicável
e aura de inexaurível energia
reflexões atraía
ainda que jamais chegasse sempre existiria
por menos que interessasse quem alegre fosse
se não arrasta a alegria
pluraliza
se cansa e descansa
dá alertas e avisos
de celebrar não perde o nascer e findar dos dias.
Não o que ia
que mal se apercebia dos dias
e nem pela verdade se detia
responder não lhe custaria
posto que a todos chamados ouvia
mas não no mal ou bem cria
assim não se detia
daí a ingente tristeza
adrede a certeza de quem sumir podia
propalando-se a qualquer razia

10-09-2009



















SINTOMÁTICA


O arrepender-se da sinceridade é um alerta
o descaso obstrui o sintoma da doença
não pensa a pressa mesmo quando acerta
a entrada larga é pra burrice imensa

Quão maior o correr mais atreio aperta
nada ou pouco inspira a austera crença
o ínfimo esforço a que tudo desconcerta
faz do julgo a força que lhe recompensa

O que são nesses rostos, marcas de nascença?
Não, não posso crer, mas horrenda oferta
quase irrecusável tais as mãos já abertas

No raro e gélido deslumbre da descoberta
da ciência quase sã segura em si se condensa
abrigo da tragédia e coragem intensa

10-09-2009



























POLVOROSA


Vem o armistício do vento, do breu e do sismo
e um orgulho jacente que engole vivo
cessa o rutilar das estrelas e a borrasca
emposta sua sanha além do nevoeiro crasso

mas é tudo cincada, solecismo, bravata
a rusga não cederá à contumácia pusilânime
o agouro é perene e depostos os gládios
insurge do aeon lisura ou aleivosia

Eis a transcendência das Eras e dos Gêneros
a desconstrução e a manufatura dos caracteres
de onde punge a volúpia e aterra o zênite
prorrompem os lábaros plantados na História.

11-09-2009






























POR FÁS E POR NEFÁS


Por fás a palavra persigo
Por nefás não pondero o que digo

Que não fosse a pressa o meu legado
Não houvesse o verbo às sombras beijado

Se tapei com a luz o breu do mundo
Negado foi-me e justo o repouso oriundo

Reclamo sempre a nobreza
Não me deixa a volúpia a mesa

Ponderei além da visão
Até a massa dos desejos e a solidão

O que advir dos opostos
É só ego o que não tem rosto

Colidam os valores por fás
Sempre amores e dores por nefás.

12-09-2009
























IDÉIA


A razão está no céu e não no chão em que piso
e disso são meus passos exemplos vivos
sem fartar de ouro e jóias em minha algibeira
serei feliz também a plantar bananeira?

Idéias são como estrelas resplandecendo na razão
que em si só é só vácuo, mera indistinção
fundamenta-se-lhe sistemática a analogia
em ápice pleno, tal a vida, gera alegria

mas ainda que qual efêmera também propagada
elixir-essência d’alma produzida
um sabor que o mutar do mundo impulsiona

outrossim, aos muitos que se não disse nada
luz de remota idéia, grandeza subentendida
quais mundos novos não trará à tona?

12-09-2009



























PRONTIDÃO


Vede ó musa, eis meu abandono
apartei-me da chama, elidi sua virtude
só a lassidão me sobeja o torno
jaz-me no ergástulo cupidez e atitude

como se próprio fosse viva enxovia
da paixão de toda vida que o verbo sorvia
visse desgarrar-se símile refreada
e além do arroubo da morte restasse nada

Reportam, anais, isenção à justa
naipe da insídia em poluta fortuna
destino insólito do mundo à rota?

Vinde, ó musa, e ai do que me assusta
eu de novo impávido dicaz turuna
refulgindo o fulgor que vossa ausência embota

22-09-209



























SAUDAÇÃO


Bem vindo, amor, à maturidade
tão bravo resististe ao trotar do tempo
e olha que tremeste muito e com vontade
e deveras duvidaste de um findar tão limpo

Mas não pouse, amor, senão te engaiolam
nem tanto repouse ou te ultrapassam
afronta as lâminas dos que as amolam
e menos fuja senão te laçam

Como hás de perpetrar intrincada artimanha
indaga-se-te num arroubo intermitente
se a altivez quer ser efêmera e a natureza, tacanha

também ágil a arrebatar-te a mente
defrontarás a resposta com clareza tamanha
é grandeza, amor, do insondável vertente

22 e 24-09-2009



























MOMENTO


Eis-me, pois, semi-destruído
de projeto nenhum a valer concluído
além de traços comuns que me orbitam
só vozes roucas que a balbúrdia gritam
de tênue visão e coração pedante
com um pé já no abismo e outro avante
na abastada equipagem inatos defeitos
lavrando sonhos nulos de efeitos
traidor da esperança efetivo impaciente
apartado da fé em ação displicente
vivaz contemplador de vigor atrofiado
sitiador severo do próprio Estado
sincero inutilmente, probo em demasia
festim de tristeza no cear da poesia
do caos servil ávido pro testemunhar
honradez e brio no otimismo a incitar

24-09-2009




























TRANSIÇÕES ANÁLOGAS E PARADOXAIS


O que esperam que se sintetize incongruentes vozes?
Por que não se cansam a concluir inútil?
Por quem não se resignam com honradez à derrota
e exauridas assim não assumem loucura?
Faltam surtos muitos a se dar aos inventores
ou faltam inventores e o fruto é a utopia?

Destas interrogações só a retórica apresento
é ela quem apetece a voracidade das obrigações
e é o fingir seu alimento
Não combinam vozes, ou surtos, ou nuvens
Extraio do que olho outra essência em palavras
mas não posso garantir que sente o que dizem
como não vejo o que olho
E daí que se insinuem claras e destinadas?
Não lampejam estrelas que imemorialmente não são?

Quero depor, pois bem, a intransigência
Os defeitos morais são voluntariosos, mas a escravidão dos homens é consciente
e não bastam, nem nunca bastariam as vozes
Seja talvez e quase ao certo daí a incongruência
mas, o inteligível saltemos
despeje-se-nos da rede do óbvio ululante
O que não aponto não quero que seja visto?
Trago a ânsia clara pelo sentido atribuindo-se-lhe sentido
e assim, feliz enfim, desisto
mas vindes vozes-surtos e ornamentam o impossível
e tornam agourentas as reais vozes
do silêncio e da chuva
e de meu próprio espírito

Para enfadar-me do cansaço não durmo
a tristeza é som e a alegria, luz
distorções e encantos que no tempo se fundem
e que a beleza transporta num largo sorriso

Na paixão tenho tudo
ferramentas, posses, armas, munições
e mais a ânsia, o afã
sou um rei num reino onde não me nutro

Há quanto tempo minha visão não abrange o fluxo do mar
e reconhecendo a perfeição de seu rigor não descanso?
O que tenho a devolver, em reverência
à sincronia celestial do universo?
Vejo-me enrijecer gélido
como o medo dos insensíveis
às vezes me procuro
e há orgulho ou desdém
seguir ou recuar quase não me consolam
Onde me levará tudo isso?
Sois vozes lapidadas
Redeadas com a inspiração
Pois para onde quer que eu fuja, tudo pulsa
Toda matéria a profecia transfixa
Não há mais respostas no que eu já conheço
Não me perco se não fixar endereço


Algo se oculta nos sentimentos
é um fardo cansativo o equilíbrio
filosofia é a extração da essência
valor só combina com merecimento
Aí vem o inferno
e ele é só a razão que leva tudo
serão da morte as vozes
assim austeras, mas não atrozes?
Já sei que me abandono
nas páginas e páginas das circunvagações
e traçam linhas tão simples que desenham um coração

que saudade das árvores, grandes amigas...
Com elas compartilhei a arte de ser simples
A vida que por si resiste
sem a tirania e a melancolia do equilíbrio

Aranhas das moscas, eu as abençôo
comporto mas não confundo suas teias e minhas raízes
com sangue bebem orgulho e eu luz e orvalho
inspiramos o respeito que destila os sentimentos
E como se a felicidade fosse o sussurrar de um segredo
Firmaremos sempre no solo todos os nossos dedos

Mas antes que eu deseje, desencontro
próxima a conquista, finda-se o interesse
Não é plenamente sincera a honestidade do adeus
Toda personalidade é dupla
metas são pendências e inclinações
Viver são transições

Preparei meu espírito par um novo tempo
preparei-o para o dilúvio
entendi que é impossível e desnecessário
reciclar tudo
onde o advento vence
a inteligência racional fracassaria
quando ao tempo a razão se funde
instantes concebem tudo o que existe

Assim, vozes, expressões de sonho
não vos deteis tal as circunvagações do mundo
deitei-me a vossa margem
transbordai sobre meu eu adormecido
se fôreis vento, carregai-me
pois a morte é a última surpresa deste mundo
sempre é tempo de se rever as coisas simples
confiar no sobrenatural
penetrar na natureza
reconhecer-se

quem dera, vozes, tivésseis rosto
como a música tivesse gosto
as dores tivessem forma
os astros tivessem vida
pro tempo houvesse passagem
poltronas e janelas à vontade
a alegria fosse um ofício
os fortes corressem os riscos
espelhos nos censurassem
a vida restasse

Clareza dos sábios, inspiração das artes
Poesia dos amantes
Transcendência divina, o tempo exato do êxtase
Meu estímulo ao macrocosmo
nem duvido, nem desisto
apenas ouço
o que meus próprios poros sintetizam
aglomero sombras
espalhá-las-ei no próximo eclipse

10-12-2009














A FONTE


Tens a beleza na qual me abandono
Quão feliz me entregaria...
Mas resto nômade, aflito, sem dono
De rejeitada poesia

Tens o fascínio em que me desgoverno
E que ardor formenta!...
Mas vens ausente rojar-me o inverno
Negar-me o efúgio da tormenta

Tens os rostos possíveis de minha alegria
E nos castelos todos de meus sonhos, trono
Mas só te apartas, me levando o sono

És a fonte do amor que me sustenta
Universo em que orbito num vagar eterno
Até o paraíso ou o inferno...

25-11-09



























AMOR PARA SEMPRE


Um beijo mais frio                                                                          a chuva na fonte
a luz das promessas                                                                         morte em vida
a vida é perfeita                                                                               vida que se deita
pra se revelar                                                                                    se deixa levar
prima fantasia                                                                                   voz da esperança
de vencer o dia                                                                                 surpresa do tempo
tristeza não deixa                                                                              valente presença
não se acomodar                                                                                é o que vai restar



a fé das crianças                                                                                o que ainda é virgem
define a harmonia                                                                              o que ainda é simples
a arte, a alegria                                                                                   ainda aceito
e o que mais brilhar                                                                            sem o desprezar
presente restrito                                                                                  contínua vida
depois infinito                                                                                     herança ainda
quente como um beijo                                                                         ao fim não termina
de amor no sonhar                                                                               só paira no ar



07-01-10
























SECÇÃO


Que fossem as coisas do que são livres metades
resignando-se da divisão o infinito
e eu, só meio eu seria aflito
permutando as faces dúbias da verdade

Na raiva e no pavor seria o grito
contido e compreendido em intensidade
ao apego restaria pouco alarde
o mal, hoje tal, também segar suscito

Mas clamo, ó deus da conjuntura, que Vossa Majestade
conservai-me o entendimento pleno e irrestrito
pra ver tudo ir-se fácil da totalidade

E assim, fragmentado morro, mais pleno ressuscito
certo de que me caberia muito mais vaidade
e só com o dobro de humildade quiçá me justifico


24-03-10


























DOLENTE MAVIOSA


Das ruínas que se formaram em lento processo
onde vultos são lembranças ao silêncio condenadas
reluz minha condição, cabendo-me aceitá-la
e se eu quiser protestar, destoar os ares tranqüilos
agruparei os escombros abissais do presente
sabotando a aracnotecnia mecânica que tece os destinos
rejeitando todo o filoreligiomoralismo
transitando com a mesma leveza
nas rotas eqüidistantes do análogo e do paradoxo
mãos a revolver, voz a retumbar
decompor a harmopocrisia
até colher da verdade minha real diferença


21-10-10































DESBRAVADORES NO TEMPLO DE ZÉ-RÁ


I

Quando, enfim, te postaste ao meu lado
e a vida sorrindo para mim
das estrelas fez flores de jardim
e de mim, bom pintor apaixonado
minha pena, cumprindo seu traçado
tua face divina retratou
e com tinta celeste pincelou
o jardim, paraíso de minha vida,
de onde nunca, jamais tive saída
e minha ânsia por ti se propagou


O instante surdo ouve o grito,
um relógio a se descondicionar
sem limites pra se apaixonar
incansável a correr o infinito
e ainda que o tatear aflito
tua ausência temível constatou
a pintura miragem que sobrou
revelando os segredos da esperança
o amor indelével na lembrança
a querer-te conquistar sentenciou


21-10-10



















II

À vontade no tempo
resistindo na raça
recolhendo as idéias
esquecidas na massa
se arrumando para a guerra
engendrando estratégias
pra não ter que lutar
tanta certeza já deve bastar
um sorriso no rosto
uma meta tranqüila
a linha da vida
nesta mão atrevida
a tatear sem pudor

E quando a maré vira
a justiça declina
o azar é o tremor
dos planos a ruína
as lágrimas são espelhos
onde as estrelas tristes
sempre se fitarão
Varro as estrelas caídas do chão
já laçando o impulso
já selando a vitória
alinhado ao futuro
com a linha da vida
desta mão atrevida
tateando sem pudor


31-10-10
















SINESTESIA IV


Na dúvida, interpelei o destino
flertei com a ousadia
rompi com o remorso e a solidão
fui sincero com meus sentidos
apanhei dos meus instintos
planejei amores, experimentei sorrisos
servi e provei sem ser visto
expus ao extremo meu vigor
mental e físico

e s’ em dúvida, gerei tudo isso
com certeza fitei o infinito

31-03-11
































MUNDO DA RAZÃO


Há um estranho vazio nos conselhos do destino
vultos com rostos indistintos que perambulam
por cenários austeros, paisagens grandiosas
são só conflitos de desejo de conceber

Cada pensamento é um fragmento dito ou não dito
são como moléculas de átomos de poesia
a contemplação é o destino que transcende o futuro
germinam abundantemente linhas filosóficas advindas do transe

Não há filosofia no intuito súbito
Não enganarei ninguém com esta honesta poesia
que não quis contemplativa, abundante, advinda
apenas um fruto da árvore da vida, apenas linda

11-04-11






























a morte de Elizabeth Taylor



OS SONHOS SÃO NOSSOS FILHOS MAIS PARECIDOS
NOSSAS PROJEÇÕES E REPRESENTAÇÕES INSUBSTITUÍVEIS
NOSSOS ESPECTROS INDISCUTÍVEIS
CONCEBIDOS SEM RECEIOS, EXPANSIVOS SEM LIMITE
DE DIVINAL TECIDO, POENTE SUBLIME
QUE N’AURORA JAZEM, SEGADOS, PERECÍVEIS...

11-04-11






































...à Liz


...mas são os sonhos que movem o mundo
são os filhos fragmentados vivos da existência, da alma
uma cadeia de amor contínuo
através da beleza sonhos se justificam
e seres se imortaLIZam

11-04-11














☼27-02-1932
23-03-2011























CARAVANA


Vamos eu, a dor e o amor no mesmo barco
confiantes no equilíbrio pra empunhar o arco
neste mar revolto que a bravura desafia
somos tantos loucos que inspiramos simpatia

Vemos raiar tu, paixão arrebatadora,
vagamente te saudamos, nossa vencedora
mas não nos dignamos crer de teu juízo
toma-nos em metade, o resto é improviso

Somos parecidos, alvos dos mesmos fins
vida e luz e brisa, faces dos jardins
imperfeições valentes diante da ferida
astros se alinhando rumo à antivida

19-04-11






























SINESTESIA V


Para honrar o fragmento de mim em que acredito
dispenso ser maior em sabedoria ou grito
não preciso ver com os olhos do deus do infinito
só vislumbro o valor do que nos alivia

e não por vaidade, mas por analogia
quando nada se espera ao fim de um triste dia
o poder justificá-lo pela poesia
afia a lâmina da esperança de um mundo bonito

31-05-11



































PRODUTO


Tento há tempos escrever sobre o sabor
quiçá não novo, certamente estranho de velhas emoções
a inspiração vem não em versos, construções rígidas
isoladas quase sem alma, desencantadas com qualquer perda
assim tão diretas, mas não menos confusas
deixando pouco de Woody Allen em meus sorrisos
Aprendi quase tudo sem saber ser eu mesmo

Para onde foi a poesia nessa crise crônica?
Os olhares céticos e os ouvidos desanimados
sufocaram até que se cessasse a voz frágil do lirismo?
Seguiu, montada nos ventos, ao seu quarto de Olimpo
lançando aos seus devotos pétalas tenras de utopia?
Ou se vestiu de crônica, como a chama, de cera
e exercita sua essência de tudo revelar?

O que se descambou?
O que me impele a retrair o passo da obstinação
e destoa das vibrações flagrantes em minha vida?
Minha sinceridade acusa


























MINÚCIA DO OBJETO GRADUAL


Sobre os escombros da esperança, eis a Tecnologia
seus sinais são a plenitude e os passos do vício
conflitos e discrepâncias que se harmonizam
depondo o suave véu que nunca existiu

Tanto que não sabemos como nunca soubemos
o original pecado foi nosso amor secreto
a evolução humana não veio, mas venceram os desejos
fragilidade doravante é todo afã primitivo

A nova ordem é a que contradiz
a ser seguida é a luz que os olhos ofusca
a analogia jaz nos antagonismos
só há segredos no tempo e no silêncio

Os símbolos ficaram rasos e abandonados
de seus significados nasceram luzes infindáveis no espaço
e seus mistérios poluem-nos com detritos
estamos prestes a desfalecer na superfície

21-07-11

























A NOITE


A noite
Sua voz, suave como música
sussurra estranhos silêncios
composto material de infindáveis segredos
sob véu esvoaçante de luzes tênues
até onde desertos se dão ao alcance
aterrissa em minh’alma humana
e em uma descoordenada parte
o mais firme sentido brilha

13 e 14-09-2011



































FAUX SENSATION


É o Fim
Como se tudo conspirasse até o cessar terrível
Fruto natimorto do clamor das utopias
Resplandece, enfim, em fênix com a coroa da razão
É o Abrupto
Tanto imortal quanto esquecido
Sensação pós-nausea, medo pós-júbilo
A derradeira lógica para sempre incompreendida
É o Extremo
Trevaquedevoraluzquedissolvetrevaquesuplantaluz
Uma inversão completa da existência
A necessidade zero de sentido
A última metáfora
O descanso dos eufemismos
O toque de recolher da imaginação

A Ordem
Enfim, em intrusão
Sobrenatural e soberana
É a maior das mentiras:
É o Futuro

12-09-11















































FIM






































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